REINO DE DEUS NÃO INTERESSA AOS MILIONÁRIOS

A Economia de Francisco tem como princípios a crença na ecologia, desenvolvimento e educação integral, alternativas anticapitalistas, bens comuns, comunidades como saída e solidariedade. Angola (o 11º país de África com mais milionários) possui 2.400 milionários e quatro multimilionários, 75% dos quais estão em Luanda. O grupo dos mais ricos é composto por África do Sul, Egipto, Nigéria, Quénia e Marrocos, juntos representam 56% dos indivíduos de alto património líquido de África e mais de 90% dos multimilionários do continente. Segundo Mia Couto, “os novos ricos angolanos são nacionais só na aparência porque estão prontos a serem moleques de estrangeiros”.

A reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP) anunciou esta quinta-feira, na presença do papa Francisco, em Lisboa, a criação da cátedra “Economia de Francisco e Clara”.

“Neste momento tão significativo (…) oferecemos conhecimento anunciando a nova cátedra ‘Economia de Francisco e de Clara’, dedicada a acolher iniciativas transversais em todas as áreas de saber da universidade, destinadas a promover os princípios da Economia de Francisco [São Francisco de Assis] e desenvolver um modelo social dignificador das pessoas e do ambiente”, disse Isabel Capeloa Gil durante um discurso na Universidade Católica de Lisboa na presença do Papa e de milhares de jovens que estão, desde terça-feira, a participar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Dizendo que a universidade “será sempre projecto e nunca obra terminada”, Isabel Capeloa Gil salientou que o lançamento do novo “Campus Veritati” da Universidade Católica Portuguesa, cuja primeira pedra o Papa abençoou, vai possibilitar “o alargamento do espaço de acolhimento do campus aberto ao mundo, à escuta e à esperança”.

“Numa época de incerteza, a universidade ergue-se como guardiã da esperança, o que significa promover a capacidade de sonhar, auxiliar a discernir, escutar as vozes em nosso redor, escutar o tempo e intervir nele, defendendo a dignidade das mulheres e homens e acreditando na sua capacidade de transformação”, disse.

A reitora salientou que a universidade é, por definição, “um espaço de busca, de risco, de desconforto, de diálogo e de acolhimento perante realidades marcadas por exclusão e desigualdade”.

O “Campus Veritati” da Universidade Católica Portuguesa, que ficará situado na parte norte do actual Campus da UCP, em Lisboa, é um projecto da autoria do arquitecto João Luís Carrilho da Graça.

Composto por dois edifícios, este novo espaço irá acolher as novas instalações da Católica Lisbon School of Business & Economics e um Centro de Conferências Multifuncional, espaço central que promove a ligação entre a UCP e a comunidade.

Em 2010, tanto quanto foi possível apurar (e os valores pecam reconhecidamente por defeito), José Eduardo dos Santos liderava a lista dos angolanos mais ricos. Nessa altura, João Lourenço estava numa “modesta” posição. Era apenas e só o 21º angolano mais rico. Coisa pouca.

Com a devida vénia e com a certeza de ser uma lapidar análise, transcrevemos um artigo de Mia Couto, publicado em 20 de Junho de 2013:

«Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos “ricos”. Aquilo que têm, não detêm. Pior, aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados.

“Novos Ricos angolanos”: São nacionais só na aparência porque estão prontos a serem moleques de estrangeiros.

Necessitariam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por os lançar a eles próprios na cadeia. Necessitariam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.

O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas.

O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas muito convexos e estradas muito côncavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza. Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.

As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. O fausto das residências chama grades, vedações electrificadas e guardas privados. Mas por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam.

Coitados dos novos ricos. São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes.

Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam ser sustentadas com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído.

Os nossos endinheirados às pressas, não se sentem bem na sua própria pele. Sonham em ser americanos, sul-africanos. Aspiram ser outros, distantes da sua origem, da sua condição. E lá estão eles imitando os outros, assimilando os tiques dos verdadeiros ricos de lugares verdadeiramente ricos.

Mas os nossos candidatos a homens de negócios não são capazes de resolver o mais simples dos dilemas: podem comprar aparências, mas não podem comprar o respeito e o afecto dos outros. Esses outros que os vêem passear-se nos mal explicados luxos. Esses outros que reconhecem neles uma tradução de uma mentira. A nossa elite endinheirada não é uma elite: é uma falsificação, uma imitação apressada.

A luta de libertação nacional guiou-se por um princípio moral: não se pretendia substituir uma elite exploradora por outra, mesmo sendo de uma outra raça. Não se queria uma simples mudança de turno nos opressores. Estamos hoje no limiar de uma decisão: quem faremos jogar no combate pelo desenvolvimento? Serão estes que nos vão representar nesse relvado chamado “a luta pelo progresso”? Os nossos novos ricos (que nem sabem explicar a proveniência dos seus dinheiros) já se tomam a si mesmos como suplentes, ansiosos pelo seu turno na pilhagem do país.

São nacionais mas só na aparência. Porque estão prontos a serem moleques de outros, estrangeiros. Desde que lhes agitem com suficientes atractivos irão vendendo o pouco que nos resta. Alguns dos nossos endinheirados não se afastam muito dos miúdos que pedem para guardar carros.

Os novos candidatos a poderosos pedem para ficar a guardar o país. A comunidade doadora pode ir às compras ou almoçar à vontade que eles ficam a tomar conta da nação. Os nossos ricos dão uma imagem infantil de quem somos. Parecem crianças que entraram numa loja de rebuçados. Derretem-se perante o fascínio de uns bens de ostentação.

Servem-se do erário público como se fosse a sua panela pessoal. Envergonha-nos a sua arrogância, a sua falta de cultura, o seu desprezo pelo povo, a sua atitude elitista para com a pobreza. Como eu sonhava que Moçambique tivesse ricos de riqueza verdadeira e de proveniência limpa! Ricos que gostassem do seu povo e defendessem o seu país. Ricos que criassem riqueza. Que criassem emprego e desenvolvessem a economia. Que respeitassem as/os índios norte-americanos que sobreviveram ao massacre da colonização operaram uma espécie de suicídio póstumo: entregaram-se à bebida até dissolverem a dignidade dos seus antepassados. No nosso caso, o dinheiro pode ser essa fatal bebida.

Uma parte da nossa elite está pronta para realizar esse suicídio histórico.

Que se matem sozinhos. Não nos arrastem a nós e ao país inteiro nesse afundamento.»

Nota: Cristo terá dito que é mais fácil um elefante entrar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus.

Artigos Relacionados

One Thought to “REINO DE DEUS NÃO INTERESSA AOS MILIONÁRIOS”

Leave a Comment