A Reserva Estratégica Alimentar (REA) já comprou, através da empresa Carrinho Agri, mais de 10 mil toneladas de milho a 38 mil produtores que se dedicam à agricultura familiar, tornando o mercado nacional auto-suficiente na produção e oferta deste cereal, de acordo com o director de Agronomia, Ademir da Silva. Comprar significa auto-suficiência na produção? O MPLA diz que sim.
Ao atingir estes indicadores, a REA, que é gerida pelo MPLA através do Grupo Carrinho, deixou de importar, desde Setembro de 2022, milho, sendo que o mecanismo é suportado exclusivamente com produção nacional, fruto da actividade desenvolvida por produtores que se dedicam à agricultura familiar.
Ao todo, a Carrinho Agri estima comprar cerca de 100 mil toneladas de todos os produtos ao abrigo deste protocolo, nomeadamente milho, feijão, trigo, arroz e algodão. Nesta primeira fase, as 10 mil toneladas são exclusivamente referentes ao milho.
Em termos financeiros, as compras realizadas pela Carrinho Agri neste ciclo correspondem a um total de 1,3 mil milhões de kwanzas, investimento canalizado para operadores da agricultura familiar, sem intermediação, nas seis províncias do país em que o protocolo já está em curso, conforme atestou o director agrónomo.
O responsável disse que a parceria Carrinho Agri e os 38 mil produtores já produz resultados positivos “na vida dos técnicos envolvidos e da própria REA”, sendo que, pelo lado agrícola, esta relação está a cimentar as bases da agricultura familiar sustentável em Angola, beneficiando as famílias inscritas no processo.
“Os produtores estão a receber o valor das suas culturas na íntegra, sem intermediários, o que já lhes permite comprar consistentemente os bens que outrora não podiam, pois o preço não estava tabelado e nem sempre lhes trazia lucro”, explicou Ademir da Silva.
Por sua vez, a REA “está a garantir as condições para o fomento, garantia de mercado e abastecimento da REA com produção nacional, através de um programa de melhoria de qualidade de vida do produtor angolano”.
Na prática, estas acções já tornaram o mercado nacional auto-suficiente no que toca à produção e consumo de milho. Só na província da Huíla, a Carrinho Agri já comprou mais de 6.000 toneladas a um total de 4.300 famílias camponesas.
“Já comprámos 50 por cento deste volume na Huíla. Neste primeiro ciclo, temos 38 mil produtores em todas as seis províncias”, avançou.
“Estas vantagens têm permitido, por outro lado, que a REA deixe de importar o milho. Aliás, desde Setembro de 2022 que este mecanismo estatal de abastecimento de cereais ao mercado nacional não importa o milho”, indica a fonte, depois de frisar que de vantagens não é tudo.
“Os profissionais da agricultura familiar, que vendem os seus produtos à Carrinho Agri, têm ainda beneficiado de apoios diversos. Por exemplo, há agricultores que, antes da parceria com a Carrinho, não tinham sequer documentos de identificação”, aponta. Com este protocolo, a Carrinho tem apoiado os produtores na obtenção dos Bilhetes de Identidade.
“É um documento vital para assinatura de contrato de produção e consequente abertura da conta. Um dos maiores desafios que temos e necessitamos do apoio dos governos municipais para que nas campanhas futuras isto deixe de ser um problema”, rematou.
O MPLA descobriu a pólvora 48 anos depois de estar no Poder. Isaac dos Anjos (secretário do Presidente da República para o Sector Produtivo) afirmou no passado dia 13 de Abril que Angola dispõe de condições favoráveis para deixar de importar milho e outros cereais até 2024. Os portugueses já tinham descoberto isso há mais de 50 anos…
No passado dia 3 de Fevereiro, o director nacional da Agricultura e Pecuária do Ministério da Agricultura, Manuel Dias, explicou que a produção angolana de trigo, arroz e cevada regista um défice de 80%, sendo a oferta insuficiente para atender à procura de mercado. Por mera curiosidade registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1974, Angola era auto-suficiente em termos agrícolas, entre outros.
Manuel Dias foi orador no painel “O Desafio da Auto-suficiência”, apresentando o tema “Planagrão e Planapecuária”, no 1.º Fórum Nacional da Indústria e Comércio, organizado pelo Ministério do Comércio e Indústria.
Segundo Manuel Dias, a produção total actual de trigo, arroz e cevada atinge as 30 mil toneladas, sendo a importação superior, representando um “défice enorme” para o país.
“Quer o trigo, quer o arroz, quer a cevada, o défice anda por volta de 80%, quer dizer, o que nós produzimos não chega, 10 mil toneladas não é nada”, frisou.
O responsável salientou que face a este quadro, o Governo pensou na produção em grande escala, com uma maior produtividade, com maior profissionalismo.
“As necessidades são imensas, nós temos desafios, temos choques da pandemia, climáticos, e precisamos de avançar o mais rapidamente possível”, frisou o responsável, indicando que 80% da farinha usada para a produção de pão é importada.
Por sua vez, o moderador do debate, Fernando Pacheco, considerou que o que está previsto no Planagrão 2023-2027 para o trigo “é inviável”.
“Não há nenhuma hipótese de nós atingirmos essa meta, porque nós não temos experiência suficiente de produção de trigo, que nos permita atingir essa meta. O Brasil que está muito mais adiantado que nós – não há comparação sequer -, só agora começa a ter resultados na produção de trigo, de modo a acabar com a importação nos próximos anos”, referiu o agrónomo angolano.
“Nós dificilmente conseguiríamos fazer isso e a minha opinião: o esforço quer técnico quer financeiro a fazer no trigo deveria ser dado à produção de milho e arroz”, opinou Fernando Pacheco.
De acordo com o Planagrão, a produção de milho entre 2017 e 2021 terá aumentado 25%, já o arroz teve uma produção, em 2017, de 8 mil toneladas, ficando um pouco abaixo deste valor em 2021.
Na sua apresentação, Manuel Dias destacou que a importação de milho, nos últimos quatro anos, registou uma taxa de redução de 25%, por outro lado, o arroz, o trigo e a soja verificaram aumento.
Em 2021, Angola gastou cerca de 73 milhões de dólares (67 milhões de euros) na aquisição de milho, 263 milhões de dólares (241,7 milhões de euros) para importar arroz, 305 milhões de dólares (280,3 milhões de euros) para o trigo e 149 milhões de dólares (136,9 milhões de euros) para a compra de soja.
Manuel Dias informou ainda que o défice de milho, na campanha agrícola 2020/2021, situou-se em 16%, de arroz 89%, trigo 81% e soja 84%.
Relativamente ao Planapecuária 2023-2027, Angola tem um efectivo bovino de cerca de três milhões, seis milhões para o caprino, dois milhões de suínos e três milhões de aves de capoeira.
O executivo aprovou em 2022, o Plano Nacional de Fomento da Produção de Grãos em Angola (Planagrão) para o aumento significativo de arroz, trigo, soja e milho sobretudo nas províncias do leste do país, prevendo recursos avaliados mais de três mil milhões de dólares (2,7 mil milhões de euros).
Também foi aprovado recentemente o Plano Nacional de Fomento da Pecuária (Planapecuária), que visa o aumento da produção nacional de carne bovina, caprina, suína e a produção de ovos e leite, no valor de cerca de 300 milhões de dólares (275,7 milhões de euros).
Por mera curiosidade registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1973, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia.
Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e Sã Tomé e Príncipe.
Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.
Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.
Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.
Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.
Assim, Angola em 1974 era o terceiro maior produtor mundial de café; o quarto maior produtor mundial de algodão; era o primeiro exportador africano de carne bovina; era o segundo exportador africano de sisal; era o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe; por via do Grémio do Milho tinha a melhor rede de silos de África;
Assim, Angola em 1974 tinha o CFB – Caminho de Ferro de Benguela, do Lobito ao Dilolo-RDC, o CFM – Caminho de Ferro de Moçâmedes, do Namibe até Menongue, o CFA – Caminho de Ferro de Angola, de Luanda até Malange e o CFA – Caminho de Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela;
Angola em 1974 tinha no Lobito estaleiros de construção naval da SOREFAME; tinha pelo menos três fábricas de salchicharia; tinha quatro empresas produtoras de cerveja, de proprietários diferentes; tinha pelo menos quatro fábricas diferentes de tintas; tinha pelo menos duas fábricas independentes de fabricação ou montagem de motorizadas e bicicletas; tinha pelo menos seis fábricas independentes de refrigerantes, nomeadamente da Coca-Cola, Pepsi-Cola e Canada-Dry, bebidas alcoólicas à base de ananás ou de laranja. E havia ainda a SBEL, Sociedades de Bebidas Espirituosas do Lobito;
Angola em 1974 tinha a fábrica de pneus da Mabor; tinha três fábricas de açúcar, a da Tentativa, a da Catumbela e a do Dombe Grande; era o maior exportador mundial de banana, graças ao Vale do Cavaco.
E falta falar da linha de montagem da Hitachi, dos óleos alimentares da Algodoeira Agrícola de Angola, e da portentosa indústria pesqueira da Baía Farta e de Moçâmedes, e da EPAL, fábrica de conservas de sardinha e de atum, e…, e….