A ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, disse hoje que Angola “passou do paraíso ao inferno” quando o preço do petróleo desceu de mais de 100 dólares por barril para menos de 30 dólares, em 2014. Errado. “Passou do paraíso ao inferno” há 47 anos quando os colonos portugueses (brancos) foram substituídos pelos colonos do MPLA (negros).
Vera Daves de Sousa disse que “devido à forte dependência de Angola do petróleo, basta uma faísca, seja via produção, seja por via do preço, e o circo pode pegar fogo, e pegou em Junho de 2014, o preço do barril de petróleo passou de 118, um paraíso, ou Éden, como queiram, para menos de 30 dólares, e passámos rapidamente para o inferno, quando se registou essa queda que durou bastante tempo”.
Falando nos segundos Encontros das Finanças Públicas – Construir Instituições Fortes e Inclusivas, que decorrem hoje e na sexta-feira em Lisboa, a ministra falou dos principais desafios de Angola nas finanças públicas, durante a sua intervenção sobre “Reforma das Finanças Públicas – o caminho recente e os grandes desafios em Angola”.
“Em Janeiro de 2016 e depois em Setembro de 2018, houve uma ligeira recuperação do preço, acima dos 60 dólares por barril, mas depois voltou a cair, ficando acima de 40; e chegámos a 2020 com poucos investimentos no sector, o que se reflectiu na redução da produção, e depois chegou a pandemia”, lembrou a governante.
“Foi a tempestade perfeita, que baixou o preço do barril para menos de 20 dólares, e estava correlacionada com a produção, que era de 1,9 milhões de barris por dia, e passou para 1,1 milhões de barris diários, um valor que se mantém mais ou menos constante até hoje”, acrescentou a governante.
Na intervenção, Vera Daves de Sousa lembrou os desafios da economia angolana, caracterizada pela forte dependência do petróleo e pela necessidade de diversificação económica. A ministra não descobriu a pólvora, mas esteve lá perto. Isto porque a dependência total do petróleo dura há 47 anos, porque a diversificação económica é inadiável há… 47 anos, porque o MPLA está no poder há… 47 anos.
“As economias vulneráveis ou expostas ao comportamento de uma só matéria-prima tornam os choques externos ainda mais desafiantes, e em função da evolução do preço e da produção, há consequências para quem tem responsabilidade de gerir as finanças públicas”, afirmou.
Com esta “tempestade perfeita”, Angola percebeu que tinha de recorrer à ajuda do Fundo Monetário Internacional, não só técnica, mas também financeira. Mas não percebeu que deveria recorrer à ajuda daqueles que, até à mudança dos colonos brancos por colonos negros, tornaram – por exemplo – Angola auto-suficiente em termos alimentares.
“Fizemos um programa de reforma das finanças públicas e fomos bater à porta do FMI, perguntando se concordavam com a nossa visão, e pensámos, num primeiro momento, que bastava assistência técnica, mas depois percebemos que era preciso dinheiro”, concluiu Vera Daves de Sousa, referindo-se ao programa de financiamento ampliado que terminou em Dezembro de 2021, no valor de 4,5 mil milhões de dólares, um pouco mais de 4,1 mil milhões de euros.
O encontro começou hoje de manhã a intervenção da ministra das Finanças de Angola, seguindo-se depois a intervenção do ex-ministro das Finanças português João Leão sobre “O Papel das Finanças Públicas sólidas, transparentes e responsáveis”.
Já na sexta-feira, será a vez da antiga ministra das Finanças de Cabo Verde, Cristina Duarte, abordar o tema “Que caminhos para alinhar as políticas públicas com a transformação do continente?”, antes de o vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças cabo-verdiano, Olavo Correia, apresentar a “Despesa Pública e Responsabilidade Social e Financeira: o caso de Cabo Verde”.
Além dos antigos governantes, também o presidente do Tribunal de Contas de Portugal, José Tavares, várias deputadas lusófonas e o presidente da Orango Investment Corporation, o guineense Paulo Gomes, farão intervenções no fórum, que termina na sexta-feira.
Por mera curiosidade, e em síntese, registe-se que, enquanto província ultramarina de Portugal, até 1973, Angola era auto-suficiente, face à diversificação da economia.
Era o segundo produtor mundial de café Arábico; primeiro produtor mundial de bananas, através da província de Benguela, nos municípios da Ganda, Cubal, Cavaco e Tchongoroy. Só nesta região produzia-se tanta banana que alimentou, designadamente a Bélgica, Espanha e a Metrópole (Portugal) para além das colónias da época Cabo-Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e Sã Tomé e Príncipe.
Era igualmente o primeiro produtor africano de arroz através das regiões do (Luso) Moxico, Cacolo Manaquimbundo na Lunda Sul, Kanzar no Nordeste Lunda Norte e Bié.
Ainda no Leste, nas localidades de Luaco, Malude e Kossa, a “Diamang” (Companhia de Diamantes de Angola) tinha mais 80 mil cabeças de gado, desde bovino, suíno, lanígero e caprino, com uma abundante produção de ovos, leite, queijo e manteiga.
Na região da Baixa de Kassangue, havia a maior zona de produção de algodão, com a fábrica da Cotonang, que transformava o algodão, para além de produzir, óleo de soja, sabão e bagaço.
Na região de Moçâmedes, nas localidades do Tombwa, Lucira e Bentiaba, havia grandes extensões de salga de peixe onde se produzia, também enormes quantidades de “farinha de peixe”, exportada para a China e o Japão.
Assim, Angola em 1974 era o terceiro maior produtor mundial de café; o quarto maior produtor mundial de algodão; era o primeiro exportador africano de carne bovina; era o segundo exportador africano de sisal; era o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe; por via do Grémio do Milho tinha a melhor rede de silos de África;
Assim, Angola em 1974 tinha o CFB – Caminho de Ferro de Benguela, do Lobito ao Dilolo-RDC, o CFM – Caminho de Ferro de Moçâmedes, do Namibe até Menongue, o CFA – Caminho de Ferro de Angola, de Luanda até Malange e o CFA – Caminho de Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela;
Angola em 1974 tinha no Lobito estaleiros de construção naval da SOREFAME; tinha pelo menos três fábricas de salchicharia; tinha quatro empresas produtoras de cerveja, de proprietários diferentes; tinha pelo menos quatro fábricas diferentes de tintas; tinha pelo menos duas fábricas independentes de fabricação ou montagem de motorizadas e bicicletas; tinha pelo menos seis fábricas independentes de refrigerantes, nomeadamente da Coca-Cola, Pepsi-Cola e Canada-Dry, bebidas alcoólicas à base de ananás ou de laranja. E havia ainda a SBEL, Sociedades de Bebidas Espirituosas do Lobito;
Angola em 1974 tinha a fábrica de pneus da Mabor; tinha três fábricas de açúcar, a da Tentativa, a da Catumbela e a do Dombe Grande; era o maior exportador mundial de banana, graças ao Vale do Cavaco.
E falta falar da linha de montagem da Hitachi, dos óleos alimentares da Algodoeira Agrícola de Angola, e da portentosa indústria pesqueira da Baía Farta e de Moçâmedes, e da EPAL, fábrica de conservas de sardinha e de atum.
Ou ainda, PETRANGOL – Refinaria e Distribuição de Combustíveis.
DTA-TAAG – Linhas Aéreas ligando todas as províncias, mesmo entre elas.
CFB – Caminho de Ferro de Benguela, do Lobito a Dilolo-RDC.
CFM – Caminho de Ferro de Moçâmedes, da Namíbia até Menongue.
CFA – Caminho de Ferro de Angola, de Luanda até Malange.
CFA – Caminho de Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela.
SOREFAME – Metalúrgica, Construção de Comboios e Barcos.
CECIL – Fábrica de Cimento.
INDUVE – Fábrica de Óleos de Produtos Alimentares.
CASSEKEL – Fábrica de Açúcar da Catumbela.
TENTATIVA – Fábrica de Açúcar do Norte.
AAA – Algodoeira Agrícola de Angola – Óleos Alimentares.
EPAL – Fábrica de Conservas de Sardinha e Atum.
ICA – Instituto dos Cereais de Angola.
ICA – Instituto do Café de Angola – 3.º Produtor Mundial.
IAA – Instituto de Algodão de Angola – 4.º Produtor Mundial.
IVA – Instituto Veterinário de Angola – 1.º Exportador de Carne Bovina de África.
IAA – Instituto Agrícola de Angola – 2.º Exportador de Sisal de África.
GM – Grémio do Milho, 1.ª rede de Silos de África.
CTT – Correios e Telefones, cobrindo todo o território.
CUCA – Cervejas Cuca, Skol, Rações Avicuca e Concentrado de Maracujá.
NOCAL – Fábrica de Cerveja.
EKA – Fábrica de Cerveja.
N’GOLA – Fábrica de Cerveja.
ANTÁRTICA – Refrigerantes, 10 sabores.
CANADA DRY – Refrigerantes 5 sabores incluindo a Coca-Cola.
CARBO SIDRAL – Refrigerantes de Maçã.
LACTANGOL – Queijos e Leite Pasteurizado.
BUÇACO – Indústria Salsicharia.
NOVA AURORA – Indústria Salsicharia.
QUILENGUES – Indústria de Salsicharia.
SOVAN – Fábrica de Vinho de Laranja.
COALFA – Fábrica de Vinho de Laranja.
CANJULO – Fábrica de Vinho de Ananás.
CAXI – Fábrica de Vinho de Ananás.
MABOR – A Maior Fábrica de Pneus de África.
FABIMOR – Fábrica de Motorizadas e Bicicletas.
FBA – Fábrica de Sapatos.
ANIAL – Fábrica de Tintas de Angola.
DYRUP – Fábrica de Tintas.
CORAL – Cores de Angola, Fábrica de Tintas.
ROBIALAC – A Maior Fábrica de Tintas de Angola.
LUPRAL – Fábrica de Fibrocimento de Angola.
ANGASES – Indústria de Oxigénio, Azoto, e outros gases líquidos.
HITACHI – Linhas de Montagem.
SCANIA – Linhas de Montagem Manuel Conde em Viana.
CCUP – Companhia de Celulose do Ultramar Português (3000 operários).
MIDAL – Matadouros Industriais de Angola.
ESTRELA – Fábrica de Frutas em Calda e Cristalizadas.
ALLA RIBA – Indústria de Redes de Pesca.
FARINHA DE PEIXE – 2.º Maior Exportador do Mundo.
1973 – A OMS – Organização Mundial de Saúde declara extinta a raiva em Angola. Todos os cidadãos do Mundo poderiam viajar para Angola sem vacinas.
EDUCAÇÃO GRATUITA – Em todo o território.
SAÚDE GRATUITA – Em todo o Território.
1972 – Todas as capitais de província ligadas por asfalto.
Maior número de cabeças de gado bovino de África.
Maior frota pesqueira de África (Porto Amboim-Baía Farta-Tomboa).
1974 – Maior crescimento económico de África e o segundo em todo o mundo.
Banco de Angola, Banco Pinto e Sottomayor, Banco Comercial de Angola, Banco de Crédito Comercial e Industrial, Banco Totta Standard, FINIBANCO – Espírito Santo, ANGOLANA – Companhia de Seguros, IMPÉRIO – Companhia de Seguros, TRANQUILIDADE – Companhia de Seguros, FIDELIDADE – Companhia de Seguros.
DIAMANG – Exploração de Diamantes, ANGLO-AMÉRICA – Exploração dos subsolos, MINEIRA – Exploração de Minério (Cuima e Cassinga), CABINDA GULF OIL – Exploração de Petróleo, TEXACO – Distribuidora de Combustíveis, SHELL – Distribuidora de Combustíveis, SACOR – Distribuidora de Combustíveis, ESSO – Distribuidora de Combustíveis, FINA – Distribuidora de Combustíveis.
ANGOLA 1974: Maior destino Turístico da África Austral.
DE NÍVEL MUNDIAL: Basquetebol, Hóquei em Patins, Automobilismo, Luta Livre.
LUANDA: O 1.º Laboratório de Ensino de Línguas Estrangeiras de África, Colégio José Régio – Samba.
Folha 8 com Lusa