Os 40 anos de nomeação cardinalícia de Dom Alexandre do Nascimento foram marcados pela celebração de uma eucaristia solene, realizada hoje na paróquia de S. João Paulo II, em Luanda. foi nomeado pelo papa João Paulo II, no consistório público de 2 de Fevereiro de 1983 como cardeal-presbítero.
Na homilia da celebração eucarística, o núncio apostólico em Angola e São Tomé, Dom Giovanni Gaspari, que presidiu à solenidade, referiu que Dom Alexandre do Nascimento tendo entregado a sua vida a Deus e à igreja, trabalhou para a paz e reconciliação entre os angolanos.
Segundo o prelado, o Cardeal Alexandre do Nascimento nos tempos mais difíceis que o país atravessou, não deixou que os padres e os fiéis se desanimassem, tendo-os mobilizado para agirem juntos e despertou a esperança nos seus corações.
Para o monsenhor Dom Giovanni Gaspari, a mensagem de Dom Alexandre do Nascimento foi um apelo a audácia do Evangelho, num tempo marcado por inúmeras dificuldades. “As suas palavras ressoaram como uma forte mensagem para a igreja e para a sociedade civil angolana”, disse.
Dom Alexandre do Nascimento promoveu a igreja local, de acordo com o prelado, no espírito do Concilio Vaticano II para que o evangelho penetrasse mais profundamente na vida das pessoas.
Dom Giovanni Gaspari considera que Dom Alexandre do Nascimento tem uma vida marcada pela paixão apostólica, vivida ao serviço da igreja com um amor grande e fiel ao sucessor de Pedro, o Papa.
Dom Alexandre do Nascimento nasceu no dia 1 de Março de 1925, em Malanje, onde foi ordenado padre em 1952 e se tornou bispo em 31 de Agosto de 1975.
DE DOM JOSÉ DE QUEIRÓS ALVES
A DOM ALEXANDRE DO NASCIMENTO
Em Angola, “muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”. Esta foi e é, por muito que nos custe, a realidade do nosso país. Pena é que a Igreja Católica, por exemplo, tenha medo da verdade.
Alguém se recorda, por exemplo, o que D. José de Queirós Alves, arcebispo do Huambo, afirmou em Julho de 2012 na comuna de Chilata, município do Longonjo, a propósito das eleições?
O prelado referiu que o povo angolano tinha muitas soluções para construir uma sociedade feliz e criar um ambiente de liberdade onde cada um devia escolher quem entender.
“Temos de humanizar este tempo das eleições, onde cada um apresenta as suas ideias. Temos de mostrar que somos um povo rico, com muitas soluções para a construção de uma sociedade feliz, criar um ambiente de liberdade. É tempo de riqueza e não de luta ou de murros”, frisou.
”Em Angola, a administração da justiça é muito lenta e os mais pobres continuam a ser os que menos acesso têm aos tribunais”, afirmou em 2009 (nada de substancial mudou até agora), no mais elementar cumprimento do seu dever, D. José de Queirós Alves, em conversa com o então Procurador-Geral da República, João Maria Moreira de Sousa.
Dom José de Queirós Alves admitia também (tudo continua na mesma) que ainda subsiste no país uma mentalidade em que o poder económico se sobrepõe à justiça.
O arcebispo pediu maior esforço dos órgãos de justiça no sentido das pessoas se sentirem cada vez mais defendidas e seguras: “O vosso trabalho é difícil, precisam ter atenção muito grande na solução dos vários problemas de pessoas sem força, mas com razão”.
Importa ainda recordar, a bem dos que não têm força mas têm razão, que numa entrevista ao jornal português “O Diabo”, em 21 de Março de 2006, Dom José de Queirós Alves disse que “o povo vive miseravelmente enquanto o grupo ligado ao poder vive muito, muito bem”. Nessa mesma entrevista, o arcebispo do Huambo considerou a má distribuição das receitas públicas como uma das causas da “situação social muito vulnerável” que se vive Angola.
Dom Queirós Alves disse então que, “falta transparência aos políticos na gestão dos fundos” e denunciou que “os que têm contacto com o poder e com os grandes negócios vivem bem”, enquanto a grande massa populacional faz parte da “classe dos miseráveis”.
Em 2011 o MPLA celebrou um acordo com a Igreja Católica para que esta o apoiasse na campanha eleitoral de 2012. Pelo que se sabe, em 2017, esse acordo continuou válido. A validade em 2022 mostrou algumas brechas mas tudo ficou na mesma. O vencedor de sempre perdeu mas continua no Poder. E o que diz a Igreja? Talvez diga, ou pense, “louvados sejam os pobres (de espírito… mas não só!)”.
Terá Igreja Católica tentado agradar ao “seu” deus (José Eduardo dos Santos/MPLA) e ao nosso “diabo” (João Lourenço/MPLA)?
Recorde-se que da parte do partido no poder agenciou o acordo de 2011 Manuel Vicente, na então condição de PCA da Sonangol a mando de Eduardo dos Santos, ao passo que da parte da Igreja estiveram alguns bispos do regime, Dom Damião Franklim e a Filomeno Vieira Dias de Cabinda, com orientações do militante cardeal Alexandre do Nascimento.
Que a hierarquia da Igreja Católica de Angola continuará a querer agradar ao Poder, aviltando os seus mais sublimes fundamentos de luta pela verdade e do espírito de missão, que deveria ser o de dar voz a quem a não tem, não é novidade.
Recorde-se também que no final de 2011, D. José Manuel Imbamba disse que os padres que teimavam em defender os interesses dos cabindas não foram afastados por razões políticas, mas por questões disciplinares, nomeadamente por não manterem uma boa relação pastoral com o bispo D. Filomeno Vieira Dias.
D. José Manuel Imbamba sabia que estava a mentir. Foi grave. Ou estava calado ou, se para tanto tivesse coragem, falaria das pressões do regime angolano sobre os prelados que – tal como aprendeu o arcebispo de Saurimo – apenas querem dar voz a quem a não tem.
Aliás, o mesmo se passou com D. Filomeno Vieira Dias que só de vez em quando, raramente, quase nunca, se ia lembrando do “rebanho” que tinha a seu cargo como bispo de Cabinda.
Quando instado a comentar as detenções no estrangeiro de activistas dos direitos humanos de Cabinda, a mando do regime de Luanda ou – quem sabe? – de qualquer força extraterrestre, como a de Agostinho Chicaia, o prelado católico não quis (pudera!) desagradar aos donos do poder em Angola e refugiou-se no argumento de que não comentava um caso que tinha ocorrido fora do país.
Consta, contudo, que D. Filomeno Viera Dias se mostrou preocupado com aquilo que chamou de incapacidade de diálogo entre as pessoas. Pois é. Todos que ousem pensar de forma diferente do MPLA são culpados até prova em contrário.
Antes, a 3 de Maio de 2010, D. Filomeno Vieira Dias dissera que a liberdade de informar e de ser informado é um direito fundamental que não deve ser subalternizado.
“A liberdade de imprensa é um direito ligado às liberdades fundamentais do homem”, sublinhou na altura o prelado, falando a propósito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, proclamado pela UNESCO em 1993.
É um direito mas, note-se, apenas nos Estados de Direito, coisa que Angola não é de facto, embora de jure o queira parecer. Aliás, nenhum Estado de Direito viola os direitos humanos de forma tão soez e execrável como faz o regime do MPLA.
“Quando celebramos esse dia, devemos olhar para o seguinte: que é uma grande responsabilidade informar e informar sempre com verdade,” destacou D. Filomeno Vieira Dias, certamente pedindo de imediato perdão a Deus por ele próprio não contar a verdade toda.
E se uma das principais tarefas dos Jornalistas é dar voz a quem a não tem, também a Igreja Católica tem a mesma missão devendo, aliás, ser ela a dar o exemplo. O que não acontece.
Frei João Domingos, por exemplo, afirmou numa homilia em Setembro de 2009, em Angola, que Jesus viveu ao lado do seu povo, encarnando todo o seu sofrimento e dor. E acrescentou que os nossos políticos e governantes só estão preocupados com os seus interesses, das suas famílias e dos seus mais próximos.
“Não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida”, disse Frei João Domingos, acrescentando “que muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro”.