Dois analistas consideraram em declarações à Lusa que a possível privatização da Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) e da operadora de telecomunicações Tmcel indica a “insustentabilidade” de funcionarem com “injecções” do Estado e o “desastre” da sua gestão.
Na última semana, o ministro da Economia e Finanças moçambicano, Max Tonela, admitiu que a LAM e a Tmcel podem vir a ser privatizadas, se essa for a melhor solução para sanear as duas empresas estatais.
“Estudamos formas de saneamento e de reestruturação, contemplando também a abertura à privatização, se essa se mostrar como a melhor solução”, referiu Max Tonela, em entrevista à Lusa na capital norte-americana, Washington, à margem dos encontros anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM).
Comentando esse cenário, Fernando Lima, gestor de media e jornalista, afirmou que o Governo entendeu que é insustentável continuar a drenar dinheiro para manter as duas empresas de pé, sendo urgente encontrar soluções de viabilidade, que podem incluir a privatização.
“Durante muitos anos, as empresas da área pública foram utilizadas como saco azul” de sectores ligados ao poder em Moçambique e foram geridas por administradores que “não tinham capacidade para negar esse tipo de exigência” política, afirmou.
O “assalto” às empresas públicas, incluindo LAM e Tmcel, “explica o desastre que aconteceu nas duas companhias”, acrescentou.
Fernando Lima manifestou dúvidas sobre o interesse dos investidores na LAM, porque a empresa não tem activos, voa com aviões alugados e a aparente abertura do Governo para a privatização é “táctica”.
“É mais um movimento táctico no sentido de dar a impressão de que o tema não está esquecido e que o Governo está a trabalhar no assunto”, observou.
O executivo, continuou, poderá estar a encetar uma manobra para conseguir perdão de dívida das empresas, mas acautelando os interesses dos bancos, tendo em conta a enormidade dos encargos que LAM e Tmcel têm para com os credores.
De resto, o sector da aviação enfrenta uma situação de crise em todo o mundo, notou Fernando Lima.
Em relação à Tmcel, defendeu que faltaram investimentos para a empresa se modernizar porque atua num ecossistema com elevada inovação tecnológica.
Por outro lado, considerou que foi um erro criar a Tmcel, através da fusão da antiga telefónica móvel Mcel e o antigo operador fixo TDM, porque esta última entidade já estava obsoleta.
Por seu lado, o economista Elcídio Bachita assinalou que o Governo transmite a mensagem de que pretende “soluções sustentáveis” para as duas empresas, porque é inviável canalizar recursos públicos ou actuar como avalista das duas firmas por tempo indeterminado.
“O Estado não pode mais continuar a injectar, recorrentemente, recursos financeiros para empresas que estão numa posição negativa”, declarou Elcídio Bachita.
A privatização pode permitir a capitalização das companhias, boa governação corporativa e com transparência, bem como robustez.
Elcídio Bachita assinalou que muitos anos de má gestão e escândalos de corrupção atiraram a LAM e a Tmcel para uma situação líquida negativa, com um enorme passivo e um activo degradado.
Apontou o excesso de mão-de-obra, conselhos de administração pesados e ordenados chorudos, como algumas das más práticas que assolam as firmas.
A possibilidade de privatização da LAM e da Tmcel já tinha sido avançada no dia 9 pelo ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala.
Uma análise da organização não-governamental (ONG) Centro de Integridade Pública (CIP), divulgada no início do mês, descreveu as duas empresas como tecnicamente insolventes, a sobreviver de injecções de capital e de garantias do Estado para responder perante os credores, e, como tal, representando um elevado risco para as contas públicas.
Folha 8 com Lusa