SE EKUIKUI O DIZ, HÁ QUEM ACREDITE

O secretário provincial da UNITA para Luanda, Nelito Ekuikui, afirmou hoje, pouco antes de tomar posse como deputado para a quinta legislatura que hoje se inicia, que “é importante que a UNITA esteja nas instituições”.

Convidado a dirigir uma palavra às pessoas que se sentem defraudadas e entendem que a UNITA não devia tomar posse, Nelito Ekuikui afirmou que “o tempo vai ajudar a esclarecer, mas é importante que a UNITA esteja nas instituições, para melhor defender [o povo] e continuar a fazer esta caminhada”.

O secretário provincial da UNITA para Luanda considera a quinta legislatura do Parlamento angolano desde a independência do país, em Novembro de 1975, que hoje arranca “obriga os políticos todos a respeitarem o povo, porque estas eleições demonstraram que o povo tem uma voz”.

“E nós vimos a arrogância desaparecer. Por isso, seja qual for o desfecho [em relação ao apuramento dos resultados das eleições nacionais de 24 de Agosto e reconhecimento da sua legitimidade], os angolanos devem sentir-se orgulhosos pelo trabalho que fizeram”, disse ainda.

“Somos obrigados a dialogar mais com o povo, a ficar junto do povo, para corresponder às suas expectativas. ‘Nem sempre quem perde perdeu e nem sempre ganha quem ganhou’, é uma frase que se diz por aí. Por isso estou certo de que há pessoas com legitimidade para falar em nome deste povo e nós temos legitimidade”, acrescentou Nelito Ekuikui.

O responsável do partido do galo negro considerou ainda que o discurso de tomada de posse do Presidente João Lourenço esta quinta-feira foi o “mesmo” de sempre e que pecou “essencialmente” por não se referir à realização de eleições autárquicas em Angola no futuro próximo, uma das maiores reivindicações do maior partido da oposição em Angola.

“O Presidente fez o mesmo discurso [de sempre]. O Presidente não falou das autárquicas. O Presidente não falou do que é essencial. Eu esperava um discurso que indicasse balizas para a construção de um futuro comum e [este] passa necessariamente pela realização das autárquicas”, disse.

“Em função dos resultados destas eleições, há vários espaços onde o MPLA já não tem legitimidade para continuar a governar e só as autárquicas podem conferir legitimidade a outros”, acrescentou Nelito Ekuikui.

O deputado eleitor pela UNITA afirmou ainda esperar do Presidente “um discurso de mais unidade para Angola e para os angolanos, um discurso de maior despartidarização das instituições do Estado. Mas também já sabemos que quem tem que fazer este caminho são os angolanos”, apontou.

Quanto à hipótese de a UNITA vir a ser convidada para governar nos círculos eleitorais onde obteve a vitória nestas eleições, como Luanda, Zaire ou Cabinda, enquanto não são realizadas as eleições locais, Nelito Ekuikui entende que esta não é “necessariamente” uma compensação adequada, até porque, acrescentou, “a UNITA não anda à procura de espaços para governar num partido que não seja o seu”.

“O importante é que o senhor Presidente convoque as eleições autárquicas e nos seja conferido efectivamente esse poder”, declarou Nelito Ekuikui.

São investidos os 220 deputados ao parlamento angolano, que inicia a quinta legislatura desde a independência do país em 1975, e que constituirá deputados os 90 eleitos pela UNITA, apesar do partido não reconhecer os resultados eleitorais.

O presidente da UNITA anunciou na quarta-feira que os deputados da oposição iriam tomar posse “para poderem defender os princípios”, ainda que tenha criticado a “falta de legitimidade” do novo Governo.

A próxima legislatura conta com 220 deputados, dos quais 124 foram eleitos em 24 de Agosto pelo MPLA, que venceu as eleições a cargo das suas sucursais (Tribunal Constitucional e CNE), 90 pela UNITA, dois pelo Partido de Renovação Nacional (PRS), dois pela Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e dois pelo estreante Partido Humanista de Angola (PHA).

O chefe de Estado, João Lourenço, que tomou posse na quinta-feira, prometeu “ser o Presidente de todos os angolanos” (do MPLA, obviamente) e promover o desenvolvimento económico e o bem-estar da população.

A primeira sessão parlamentar da próxima legislatura tem como ponto alto a investidura dos deputados eleitos, bem como a eleição do presidente da Assembleia Nacional, cargo que deverá ser assumido, pela primeira vez, por uma mulher, a ministra de Estado para a Área Social cessante, Carolina Cerqueira, número três das listas do MPLA.

A reunião constitutiva apreciará ainda as propostas da comissão de verificação de mandatos, da comissão eleitoral, do projecto de resolução que aprova a eleição do presidente, vice-presidente e secretários da mesa da Assembleia Nacional, entre outros pontos.

Folha 8 com Lusa

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