O cabeça-de-lista da UNITA às eleições gerais angolanas de 2017, Isaías Samakuva, acusou o MPLA de usar militares para intimidar os eleitores das aldeias, ao “espalharem a mentira” de que se votarem na UNITA regressará a guerra. É uma antiga estratégia que, como deu bons frutos para o regime, volta a ser reeditada em 2022.
“Por toda Angola estão a dizer-vos que se votarem na UNITA vai haver guerra. Há grupos, ora de militares ora de civis, a andar pelas aldeias a intimidar o povo. Quem quer fazer mais guerra neste país? Eu estou a dizer que só quem não é angolano vai querer fazer mais guerra aqui”, disse Isaías Samakuva no comício de encerramento de campanha do seu partido em 2017, no campo da Feira Internacional de Luanda (FILDA), no município do Cazenga, arredores de Luanda.
Para Samakuva, esse “desespero” deve-se ao apoio popular da UNITA, que disse ter testemunhado em campanha, “durante todo o mês de Agosto”.
“O povo angolano aderiu de uma forma vasta e profunda às ideias do programa da UNITA. Nós não temos dúvidas: o povo angolano, conduzido pela UNITA, já ganhou”, realçou.
“Então estão a contar-vos muitas mentiras, muitas histórias, a intimidar-vos. Tenham atenção”, alertou o presidente da UNITA, ladeado no palco pela estrutura de então da UNITA – o vice-presidente Raul Danda, o secretário-geral Franco Marcolino Nhany, e Rafael Massanga Savimbi, filho do líder histórico do partido, Jonas Savimbi.
Dirigindo-se directamente ao público, Isaías Samakuva disse que “os filhos de Angola, os angolanos” já não querem mais a guerra.
“Ninguém mais quer guerra aqui, não é verdade? Então, como os que querem fazer guerra não são angolanos, nós estamos a pedir-lhes: querem fazer guerra, vão lá para a vossa terra, vão fazê-la para longe, com os seus filhos. Aqui não, não mais”, disse o cabeça-de-lista do partido do Galo Negro, perante os aplausos do público.
Pelo contrário, contrapôs Samakuva, a UNITA quer “consolidar a paz”, deseja “estabilidade e progresso”. “É isso que queremos para o nosso país. Portanto isso é só intimidação. Que ninguém aceite”, apelou.
Também aludiu a “outras mentiras”, como a existência de vigilância nas cabines de voto. “Estão a dizer ‘cuidado, vocês votem mesmo no MPLA [partido no poder desde 1975], porque se votarem no outro há uma máquina fotográfica escondida que está a ver”.
“E que se votarem na UNITA, a fotografia vai denunciar. Também é mentira. Não há fotografia nenhuma. Quando você está na cabina de voto está sozinho”, salientou.
Samakuva também desmentiu que a UNITA pretendesse despedir os funcionários públicos e os militares caso fosse eleita.
No final do comício, e face às irregularidades apontadas ao processo eleitoral, Samakuva disse aos jornalistas que “há muito tempo que o povo começou a empurrar para uma acção mais enérgica”.
“Eu estou a ser acusado de ser mole, porque acham que estas coisas são brincadeiras de mau gosto. Dizem mesmo que eu deveria fazer mais, portanto penso que se chegarmos ao momento e repararmos que a lei não está a ser cumprida, vamos fazer tudo para que ela seja cumprida”, adiantou, numa referência a uma grande manifestação popular.
Samakuva disse que reconhecerá qualquer resultado das eleições “se estas forem feitas de acordo com a lei”.
“Mas se não forem (…) nós vamos sair [à rua]. Eu estou a repetir: não estou a brincar. Vamos forçar para que as eleições se façam de acordo com a lei”, reiterou.
O FANTASMA DA GUERRA
16 de Abril de 2016. O órgão oficial do regime de sua majestade o então rei de Angola, José Eduardo dos Santos, escreveu que a Polícia Nacional deteve na localidade de Luassingua, a 30 quilómetros da cidade de Menongue, um camião alugada pelo secretariado provincial da UNITA, transportando cerca de quatro mil litros de gasóleo e gasolina e três armas de fogo, sendo uma caçadeira e duas AKM.
A verdade é que o regime do MPLA já está morto. Só que ainda não sabe. E como preferem essa estratégia, tudo fazem para se manter no poder. Campanhas como a que foi denunciada por Isaías Samakuva em 2017, tal como está agora a ser denunciada por Adalberto da Costa Júnior.
Esta é uma matéria em que as forças de segurança do regime (militares, polícias e outros) beneficiam hoje da assessoria de generais como Francisco Furtado ou Pedro Sebastião, na linha do qua antes foi determinado por Kundi Paihama que, enquanto ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, mostrou ser perito nesta questão de armamento clandestino, grupos armados, guerra ao domicílio etc..
Em Agosto de 2012, no Estádio Nacional de Ombaka, Kundi Paihma garantiu que os que lutassem contra o MPLA e contra José Eduardo dos Santos “seriam varridos”. Muitos já foram, outros estão em lista de espera. E quando se prevê que João Lourenço e o MPLA possam levar porrada nas eleições de 24 de Agosto, nada melhor do que pôr a circular a questão das armas de guerra e do fantasma de nova guerra. E é para isso que as FAA não estão ao serviço do país mas do regime. É para isso que a Polícia não é nacional, é do regime.
E porque o regime só reconhece a existências de um único “escolhido de Deus”, hoje João Lourenço, não admite que existam dúvidas, não aceita que a sua liberdade termine onde começa a do Povo. Vai daí, intimida, ameaça, espanca, rapta e mata quem tiver a veleidade de contrariar o MPLA.
Por alguma razão os discípulos de Kundi Paihama continuam hoje, agora, a pedir aos militantes do seu partido para que controlem “milimetricamente” todas as acções da oposição, para não serem “surpreendidos”.
Na senda do que tem feito ao longo dos anos, o MPLA acusa a Oposição de enveredar por “manifestações violentas e hostis, provocando vítimas, inventando vítimas, incentivando a desobediência civil, greves e tumultos, provocando esquadras e agentes e patrulhas da polícia com pedras, garrafas e paus”.
Há décadas que o MPLA sempre diz que tinha em seu poder “informações secretas que apontam que a UNITA e outros opositores estão prestes a levar a cabo um plano B”. Plano que previa, prevê e previra, segundo os etílicos delírios dos dirigentes do regime, “uma insurreição a nível nacional”.
Sempre que no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, a possibilidade de alguma mudança, o regime dá logo sinais preocupantes quanto ao medo de perder as eleições e de ver outro partido que não o MPLA a governar o país.
O MPLA aposta forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação.
E, na ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime, são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada que tem na primeira linha das suas opções e que é tão do agrado das potências internacionais, ou seja a de que há perigo de terrorismo, de guerra civil.
Tal como mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que ou estão com ele ou vem aí o fim do mundo.
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