PACIFISMO RIMA COM BARRIGA VAZIA?

O presidente do grupo parlamentar da UNITA, Liberty Chiaka, defendeu hoje que as eleições angolanas “não são uma questão de vida ou morte” e que o povo “é pacifico”, considerando que o problema está nas lideranças. Só falta saber até que ponto o “pacifismo” é proporcional à barriga vazia.

Liberty Chiaka abordou hoje, em conferência de imprensa em Luanda, algumas iniciativas da UNITA bem como as suas preocupações sobre o acto eleitoral, sublinhando que “não se pode travar a vontade de um povo”. Nem sempre é assim. Quando o povo pensa com a barriga, regra geral vazia, ou troca um prato de arroz pelo voto (no MPLA) ou… puxa o gatilho.

“Devemos respeitar a vontade dos angolanos, a alternância do poder vai acontecer, o MPLA não vai conseguir fazer 100 anos no poder” (já só faltam 54) , considerou o líder partidário, questionando: “as por que é que não podemos ter pela primeira vez eleições livres, justas e transparentes?” Simples. Se assim forem, o MPLA perde. E se o MPLA perder… o MPLA acaba.

Liberty Chiaka afirmou ainda que “o povo angolano é pacífico e sabe o que quer, o problema está nas lideranças”, apelando a uma credibilização da política que deve ser feita com elevação e convicções democráticas.

“Quem não tiver convicções democráticas parte para uma disputa política com uma perspectiva de tudo ou nada, não pode ser uma questão de vida ou morte”, realçou, acrescentando que “há uma Angola depois de 2022” que vai continuar com ou sem o MPLA ou a UNITA. Sem a UNITA é possível. Sem o MPLA não. O MPLA tem a razão da força e a UNITA só tem a força da razão. Alguém tem dúvidas quem sairá vencedor de um combate entre as duas “forças”?

“Quero acreditar que os angolanos vão participar nestas eleições de forma ordeira e pacífica, como uma festa”, insistiu, reafirmando que o problema está nos políticos, apontando os dirigentes políticos “que estão há 46 anos no poder e ficam preocupados com a possibilidade real de perderem este poder”.

“Vamos ganhar as eleições, quem quer adulterar os resultados é o MPLA, se está convencido que vai ganhar porquê fazer recurso a expedientes? É por que sabem que não vai ganhar”, referiu o dirigente partidário.

Liberty Chiaka disse ainda que a UNITA produziu um livro com provas sobre a fraude eleitoral de 2008 e, em 2012 e 2017, apresentou queixas à Procuradoria-Geral da República, comparando o acto eleitoral em Angola com as eleições recentes em Portugal, em que “ninguém falou da comissão eleitoral”.

“E porquê? Porque o árbitro não pode ser um jogador”, complementou, falando ainda da responsabilidade da UNITA que “convoca a uma postura de bastante moderação”

O deputado da UNITA considerou ainda que a decisão de aumento do salário mínimo nacional, para o sector privado, em 50% é “eminentemente eleitoralista” e serviu “para mimar as pessoas”, salientando que a maioria das pessoas “não vive do seu salário, sobrevive”.

Esta semana, os bispos católicos afirmaram que a sociedade “aguarda com expectativa” as eleições gerais. Mas, ao mesmo tempo, assinalaram, “apelamos a todos os cidadãos, dirigentes e dirigidos, políticos e sociedade civil a um alto sentido de responsabilidade, por isso renovamos o convite a todos participarmos das eleições, pois é um dever cívico”.

Os católicos “devem evitar o absentismo, todos devem ter ou renovar o cartão de eleitor. As eleições hão-de correr como queremos se forem bem preparadas na verdade, transparência, honestidade e justiça”, realçou José Manuel Imbamba, presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST).

Para o sucesso das próximas eleições gerais em Angola, “há que se investir, uma vez mais e com paciência, na educação cívica dos cidadãos, a educação para a democracia cultiva-se”.

“Todos temos o direito de promover aqueles valores acima de toda e qualquer disputa política, tais como a boa convivência, a tolerância, a fraternidade, o amor ao próximo, o respeito pela opinião alheia, a abertura permanente ao diálogo, a irmandade, a paz, acima de tudo a nação, a cidadania e o bem-estar para todos”, exortou o prelado.

José Manuel Imbamba entende, por outro lado, que a campanha eleitoral, visando o pleito de Agosto, “só será bem-sucedida se for baseada no respeito mútuo e todos os partidos reconhecidos tiverem o direito e a oportunidade de expressar o seu ideário”.

“Sem excessos e cegos fanatismos, que geram o clima de crispação, rixas, medo, incerteza e falta de confiança no futuro, sejamos construtores de pontes e não de muros de separação, façamos render as nossas inteligências não para maquinar o mal, o ódio, a intriga, a calúnia, a exclusão”, notou.

O presidente da CEAST reprova também os “discursos musculados e incendiários, e tantos outros horrores hostis à sã convivência”, no decurso da campanha eleitoral, defendendo a necessidade dos actores políticos “lerem os sinais dos tempos e interpretá-los à luz da sabedoria e humildade”.

“Por Angola todos nós devemos sentar-nos para nos ouvirmos, por Angola todos nós devemos nos despir das nossas diferenças para termos a única vestimenta que é Angola, a nossa pátria que tanto amamos e que queremos ver brilhar”, defendeu.

Em relação à Igreja Católica angolana, o também arcebispo de Saurimo assinalou a vivência do primeiro ano do triénio dedicado à criança, a nível da CEAST, referindo que a ocasião é oportuna para reflexão profunda sobre a criança na igreja e na sociedade.

“Ela (a criança) de facto é a garantia do futuro da igreja e de qualquer nação, por isso os cuidados para com ela representam prioridade absoluta, é por isso também que a pastoral da criança é das mais importantes da igreja”, realçou José Manuel Imbamba.

A “pobreza, a falta de assistência médica, de escolas, os vários abusos, de que as vezes é vítima, a fome, a desnutrição constituem alguns dos males que nos preocupam a atentam contra sua identidade e dignidade e comprometem o futuro da sociedade”, rematou o arcebispo angolano.

Folha 8 com Lusa

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