O ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, Francisco Furtado, disse hoje, em Luanda, que vão ser orientadas medidas concretas para fazer face aos actos de vandalização de bens públicos que se verifica no país. Vamos ver por aí os mísseis intercontinentais do Comandante da Polícia, Paulo de Almeida?
Francisco Furtado liderou uma delegação composta por dirigentes do Ministério da Energia e Águas, do governo da província de Luanda e da Polícia Nacional numa visita a ruas da capital angolana, com o objectivo de avaliar a iluminação pública.
O governante angolano constatou em várias artérias de Luanda o furto de 160 metros de cabo, deixando a zona totalmente às escuras, segundo uma nota do Ministério da Energia e Águas.
Na Avenida Deolinda Rodrigues, boa parte da zona está sem iluminação pública por conta de actos de vandalismo, que deixaram inoperantes 12 torres eléctricas. Tudo normal, portanto.
“É preciso acabarmos com esses comportamentos, com essas atitudes, e esperemos que nos próximos dias haja uma resposta mais adequada das forças da ordem e segurança para acabarmos com esse tipo de comportamentos, que estão a afectar não só a segurança do país, mas também estão a causar danos consideráveis à economia”, disse, em declarações à imprensa, Francisco Furtado.
O governante considerou que o Estado tem que impor regras, e “pôr as coisas nos seus devidos lugares, porque continuar com este comportamento dá sempre possibilidade de continuar a haver este tipo de actos”.
“Então vamos orientar de facto as medidas concretas a serem tomadas a partir de agora e espero que daqui em diante os mentores destes actos tenham os dias contados”, salientou. Repare-se. Segundo Francisco Furtado, não são os actos que terão “os dias contactos”. São os mentores.
As autoridades estão já a trabalhar para repor os cabos que foram retirados, realçou Francisco Furtado, frisando que o mais importante é que sejam tomadas algumas medidas para impedir que esse tipo de situações volte a acontecer, particularmente na cidade.
No passado dia 17 de Agosto, o ministro do Interior, Eugénio Laborinho, que discursava na abertura do primeiro Conselho Metodológico da Direcção de Administração e Serviços do Ministério do Interior, manifestou preocupação com a vandalização de bens públicos, um fenómeno que se vem registando e aumentando na sociedade angolana nos últimos tempos.
O titular da pasta do Interior referiu que este crime tem estado a ganhar contornos alarmantes, se se olhar para os prejuízos que tem causado ao Estado angolano.
O governante pediu o apoio dos órgãos de comunicação social para sensibilizar a sociedade que a destruição de postes de transformação de energia, o furto de 400 parafusos da linha do Caminho-de-Ferro de Luanda, como ocorreu nessa altura, são “a todos os níveis inaceitáveis, pois o comboio é um bem público, cujo acesso ao mesmo não se faz na diferenciação por estrato social”. “Devemos ser todos fiscais da coisa pública, porque beneficia a todos”, disse o ministro.
A Polícia anunciara na altura que tinham já detido cinco suspeitos do furto de 400 parafusos da linha do Caminho-de-Ferro de Luanda, que deixou destruídos 150 metros da linha no ramal ferroviário do Zenza-do-Itombe, no Dondo, município de Cambambe, província do Cuanza Norte.
400 parafusos em Luanda, 300 “terroristas” em Cafunfo
Se, como pede o ministro, “devemos ser todos fiscais da coisa pública, porque beneficia a todos”, recordamos que o ministro Eugénio Laborinho louvou no dia 2 de Fevereiro a acção das forças de defesa e segurança na zona de Cafunfo, município do Cuango, província da Lunda Norte, onde no final de Janeiro se registou – segundo ele – um “acto de rebeldia e de insurreição”.
Eugénio Laborinho, que falava em conferência de imprensa para esclarecimentos sobre o incidente ocorrido em Cafunfo, que resultou em dezenas de mortos e feridos, disse que estão na base da situação interesses económicos, nomeadamente o garimpo de diamantes. O pessoal de Cafunfo não “garimpa” parafusos…
O governante disse que cerca de 300 pessoas, divididos em três grupos, atacaram a esquadra da polícia, munidos de “armas de guerra, objectos contundentes, meios artesanais e instrumentos cortantes”, usando “indumentária de rituais tradicionais e supersticiosos”, causado ferimentos a dois agentes da polícia e das forças armadas.
“Não é possível estar num posto a fazer a guarnição e aparecer um grupo armado e atacar o posto. Eu sou o garante da ordem, o que é que vou fazer? Tenho que responder. Se estão a atirar contra mim, com catanas e armas, a resposta é igual e a proporção diferente”, disse Eugénio Laborinho.
O titular da pasta do Interior lamentou a atitude dos atacantes, reforçando que não havia outra hipótese “se não manter a segurança pública e a ordem no território”.
“A autoridade do Estado tem que ser mantida a todo o custo. Nós apelamos mais uma vez que entendam, compreendam, que a atitude de resposta da polícia foi de acordo à situação surgida no momento”, sublinhou.
Segundo o ministro, “o grupo de rebeldes” não está autorizado por lei a fazer qualquer manifestação, admitindo que no dia 16 de Janeiro, num dia de semana, os mesmos pretenderam realizar uma manifestação contra o governo provincial, mas foram impedidos.
“Já tínhamos domínio [noção] que este movimento que queriam fazer ia dar uma situação fora do normal, uma vez que eles não tinham sido autorizados”, disse.
Eugénio Laborinho disse que entre o grupo de manifestantes, encontravam-se quatro cidadãos da vizinha República Democrática do Congo, dos quais três foram detidos e um foragido, por isso as autoridades não os considerou manifestantes.
“Não podíamos tratar como manifestantes, uma vez que estão muito misturados e as suas intenções e objectivos – o que pretendiam criar – é uma instabilidade social na região. E não foram aceites, foram feitas algumas detenções, depois de ouvidos, o digno procurador soltou-os e não satisfeitos com isso, prepararam as condições para que desenvolvessem uma acção de rebeldia e insurreição armada no dia 30” de Janeiro, explicou.
“Graças à prontidão e à vigilância das nossas forças foram neutralizados, porque eles vinham armados. Com armas de guerra, com meios contundentes em várias direcções. O que constatamos foi um acto de rebeldia e acompanhado de gente estrangeira, em vários grupos”, acrescentou.
O ministro repetiu que atacar uma esquadra policial, um posto de comando militar “é um acto de rebeldia”. Pelo contrário, ser indiferente aos 20 milhões de pobres e tudo fazer para que os angolanos aprendam a viver sem… comer é um acto de patriotismo.
“E a razão da nossa força é a força da nossa razão. Não tivemos outra hipótese se não nos defendermos. E temos de facto que louvar o esforço e o desempenho das forças de segurança e ordem interna, que tudo fizeram para não haver de facto demasiado luto naquela localidade de Cafunfo”, exprimiu.
O governante admitiu que a situação económica naquele município não é das melhores, que o Governo tudo está a fazer nos últimos quase 46 anos para desenvolver do ponto de vista económico e social e dar o tratamento devido àquela região, mas a situação da Covid-19 (que, pelos vistos, dura igualmente desde 1975) retardou as acções governamentais, que priorizou a saúde.
“Nós sabemos das reivindicações, algumas podem ter as suas razões, mas é preciso o momento certo o governo direccionar acções de desenvolvimento para todas as regiões e particularmente para aquela que é uma província com um estatuto diferente”, disse Laborinho.
De acordo com o ministro não é a primeira vez que tentativas de ataque ocorrem na zona do Cafunfo, “esta é a terceira, quarta ou quinta vez que ocorre”. Provavelmente Laborinho queria ir além das cinco vezes… mas temeu ter de se descalçar se ultrapassasse as dez.
Eugénio Laborinho disse que não existe protectorados em Angola. “Isso é uma farsa e lamentamos os seus seguidores, o Protectorado Lunda Tchokwe não existe”, referiu Eugénio Laborinho sobre os promotores desta manifestação.
“As pessoas dizem não havia necessidade disso, pronto, os polícias eram todos mortos, hasteavam a bandeira do Protectorado Lunda que não existe, que é uma farsa autêntica, iam pedir a independência do sector de Cafunfo e impávidos e serenos o Governo a ver. Não é possível, aqui não, em Angola não vai dar, as forças da ordem não vão dar essa possibilidade a ninguém”, disse.
“Não vamos permitir que o nosso país seja desestabilizado por interferências internas ou externas, não vamos permitir isso”, salientou o ministro, afirmando que não há diálogo “com essa gente”.
Folha 8 com Lusa