A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) defendeu hoje a necessidade de envolver as comunidades no acompanhamento dos doentes com VIH/Sida em Moçambique, lamentando os bloqueios causados “pela dificuldade de aceitação de uma mudança de paradigma”.
E m comunicado, a organização internacional considera que a oferta de tratamentos antirretrovirais apenas será “radicalmente remodelada”, como pediu a ONUSIDA, com “abordagens voltadas para as comunidades que estejam adaptadas às realidades que vivem com VIH [vírus da imunodeficiência humana]”.
Em vésperas da comemoração do Dia Mundial de Luta contra a Sida, a 01 de Dezembro, a MSF refere que “abordagens comunitárias, que facilitam o acesso aos antirretrovirais e são menos custosas, constituem estratégias essenciais para manter mais pessoas em tratamento do VIH, o que contribui para reduzir a transmissão”.
Apesar de estas abordagens serem recomendadas pela Organização Mundial de Saúde e pela ONUSIDA, “a sua implementação em larga escala permanece bloqueada pela dificuldade de aceitação de uma mudança de paradigma que inclua as comunidades como parceiras, ao invés de simplesmente beneficiárias de serviços de saúde”.
Desde 2008, a MSF e o ministério da Saúde estabeleceram na província de Tete um modelo comunitário de cuidados, que está a ser alargado a diferentes regiões de Moçambique.
No entanto, “os principais atores que poderiam contribuir para implementação dessas soluções não são promovidos, apoiados nem financiados activamente”, lamenta a MSF.
“Mais do que quaisquer outros tratamentos longos, VIH e tuberculose precisam de apoio psicossocial sustentável para acompanhar os pacientes no tratamento”, afirmam os Médicos Sem Fronteiras.
Em Moçambique, há 501 conselheiros leigos a trabalhar nas unidades de saúde para apoiar diariamente os pacientes para que sejam aderentes e continuem no tratamento, mas “há necessidade de mais de 1.800 conselheiros no país até 2015 para aumentar o acesso ao tratamento” e falta ainda um enquadramento legal para estes profissionais, no quadro do Sistema Nacional de Saúde.
“Modelos comunitários sugerem comunidades fortes, totalmente engajadas de pessoas vivendo com VIH e organizações da sociedade civil. No entanto, continuamos a observar a redução dos financiamentos destinados a essas comunidades, enfraquecendo ainda mais o foco no paciente e o engajamento na luta contra o VIH. Esse é o elemento que falta na resposta actual”, considera Amanda Banda, coordenadora de Advocacia de VIH da MSF para a região da África Austral.
A MSF pede aos governos que adaptem a sua resposta às “necessidades e demandas dos seus cidadãos afectados” e solicitam apoio e financiamento dos parceiros internacionais.
“Os modelos comunitários requerem flexibilidade dos sistemas de saúde e não há um modelo que se adapte a todos os sistemas. Pessoas vivendo com VIH deveriam ter a oportunidade de decidir como adaptar o seu tratamento diário às suas vidas, para que o sistema de saúde e a organização dos serviços os ajudem, ao invés de prejudicá-los”, menciona ainda a nota da MSF.
A organização internacional apoia o tratamento de VIH de 341.600 pessoas em 20 países. 71 por cento dos 35 milhões das pessoas seropositivas vivem na África subsaariana.