OBRIGADO MARCELO REBELO DE SOUSA!

Com o comprovativo que trouxe de Portugal na mão, o paizinho do MPLA, Marcelo Rebelo de Sousa, visitou as lixeiras onde alimentam milhares de angolanos, perdão, visitou um centro de vacinação nos arredores de Luanda para incentivar a população angolana a fazer parte da luta contra a pandemia de Covid-19.

“Olha, este foi o meu primeiro cartão”, disse Marcelo Rebelo de Sousa a um rapaz que estava a aguardar para receber o comprovativo de vacinação contra o SARS-CoV-2, no Centro Cultural Paz Flor.

É o primeiro cartão do Presidente da República de Portugal uma vez que, entretanto, recebeu outro que atesta que tem a terceira dose de reforço. No entanto, em Angola a questão é outra.

De acordo com as autoridades angolanas, há cinco milhões de pessoas que faltaram à administração da segunda dose e, deste modo, têm o processo incompleto e uma imunidade débil. Provavelmente deram prioridade à procura de alguma coisa para fingir que têm refeições, situação que Marcelo Rebelo de Sousa voluntariamente desconhece.

Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou a visita de dois dias à capital angolana para incentivar à vacinação e até apresentou a receita para debelar a pandemia: “Insistir, insistir, insistir. Vacinar, vacinar, vacinar”. Nos intervalos, os nossos 20 milhões de pobres, poderão dar um saltinho aos centros gratuitos de fornecimento alimentar que os amigos do Presidente luso, o MPLA, criaram e que se chamam, por que é isso que são, lixeiras.

“Esta pandemia ainda está por aí”, disse a um grupo de pessoas que estava a aguardar pela sua vez, neste centro repleto de candelabros, reminiscência das festas que outrora acolhera.

E enquanto percorria este centro cultural convertido em unidade de vacinação foi apresentando o cartão como prova de que já está vacinado e de que as vacinas apenas tinham benefícios. Até houve oportunidade para comparar cartões. Lindo. Poético. De puxar uma lágrima para o canto do olho.

“O meu é assim, é branco, e o teu?”, perguntou a um homem que apresentou ao Presidente português um cartão esverdeado e já preenchido, comprovando que também já fazia parte do “lote dos imunizados”.

Acenou para um lado, depois para o outro, e pelo meio ia tirando o cartão de vacinação do bolso do blazer para o mostrar às pessoas que iam ser vacinadas. O mestre, o perito a dar o exemplo aos matumbos… É a prova irrefutável de Marcelo em como há um caminho para derrotar a pandemia.

Apesar do elevado número de pessoas que ainda não completaram a vacinação, a situação em Angola é melhor do que a de países vizinhos.

O Estado angolano privilegiou desde o início da pandemia a implementação de restrições rigorosas para mitigar contágios. Mas a vacinação também é uma arma eficaz.

“Mais vale prevenir do que remediar e prevenir é vacinar, mais cedo do que mais tarde. É por causa de exemplos como o vosso que Angola está numa situação melhor do que outros países africanos e muitos países pelo mundo”, sustentou Marcelo Rebelo de Sousa. E, é claro, isto não é um elogio ao MPLA, apesar do o governo de Angola ser há 46 anos do MPLA, o Presidente do MPLA ser João Lourenço, o Titular do Poder Executivo ser João Lourenço e o Presidente da República (não nominalmente eleito) ser João Lourenço.

E como já atravessou o processo de vacinação todo em Portugal, Marcelo decidiu partilhar a experiência com os estreantes. Aproximou-se de um rapaz e pediu se podia assistir ao momento.

“É agora, não é? Eu já me vacinei, já fiz essa experiência também, é a coisa mais simples do mundo”, disse.

A vacina foi administrada e “está feito”. O prognóstico do Presidente português é que poderá haver uma ligeira dor no braço no dia seguinte.

Apesar de ter captado todas as atenções, a vacinação ia continuando, mas tudo parou para ouvir o compromisso de Portugal com o processo de vacinação angolano.

Mais de três milhões de vacinas foi o número apontado pelo Presidente que o Estado português vai enviar para o “país irmão”, para que consiga controlar o mais rapidamente possível a pandemia.

Não houve ‘selfies’ ou abraços desta vez, a pandemia não o permite, mas os telemóveis estavam em todo o lado para ‘apanhar’ o Presidente português a serpentear por este centro de vacinação.

Depois de todo este esforço de sensibilização (nada tem a ver com política, obviamente…) esperemos que o Presidente do MPLA (e da República, obviamente…) tenha honrado Marcelo Rebelo de Sousa com um jantar do tipo trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e um vinho do tipo Château-Grillet 2005.

Isto porque Marcelo Rebelo de Sousa não tenha que se preocupar com o facto de, ali mesmo ao lado, o Povo se alimente, na melhor das hipóteses, com peixe podre, fuba podre, panos ruins e… porrada se refilarem.

Obrigado Marcelo Rebelo de Sousa!

Folha 8 com Lusa

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