Mais de dois milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas devido a conflitos nos primeiros seis meses deste ano, o que eleva o total de deslocados no mundo para 84 milhões, anunciou hoje a ONU.
“A comunidade internacional está a falhar na prevenção da violência, de perseguições e de abusos dos direitos humanos [e isso leva a] que essas pessoas sejam expulsas das suas casas”, afirmou o alto-comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi.
Estas pessoas são refugiadas, requerentes de asilo ou deslocados internos e a sua situação é ainda mais frágil devido à pandemia de Covid-19 e às consequências do aquecimento global, refere o relatório semestral do Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), hoje divulgado.
Segundo o documento, no final de Junho estavam contabilizados quase 21 milhões de refugiados, a maioria proveniente de cinco países: República Centro-Africana (71.800), Sudão do Sul (61.700), Síria (38.800), Afeganistão (25.200) e Nigéria (20.300).
A agência da ONU adianta existirem também cerca de 3,9 milhões de venezuelanos que deixaram o seu país, mas não são considerados refugiados, e 4,4 milhões de pessoas em todo o mundo registadas como requerentes de asilo.
Além dos conflitos, “as alterações climáticas estão a exacerbar” o problema, reforçando “as vulnerabilidades existentes em muitas áreas”, alerta o relatório do ACNUR.
“A mistura entre conflitos, Ccovid-19, pobreza, insegurança alimentar e alterações climáticas agravou a situação humanitária dos deslocados, a maioria dos quais está localizada em regiões em desenvolvimento”, refere o documento.
Também o número de deslocados internos, ou seja, dentro do seu próprio país, tem vindo a aumentar, somando, entre Janeiro e Junho, mais de 4,3 milhões de pessoas, o que representa um crescimento de 50% em relação ao mesmo período de 2020.
O fenómeno é particularmente dramático na República Democrática do Congo e na Etiópia, onde a violência obrigou mais de um milhão de pessoas a deixarem as suas casas, mas a lista dos países com mais deslocados internos inclui também o Afeganistão, Myanmar, Moçambique e Sudão do Sul.
“São as comunidades com menos recursos que suportam o peso de ter de fornecer protecção e assistência aos deslocados”, lamentou Grandi, pedindo mais solidariedade internacional.
“A comunidade internacional deve duplicar os seus esforços para favorecer a paz e, ao mesmo tempo, garantir disponibilidade de recursos às comunidades deslocadas e àqueles que as acolhem”, defendeu o alto-comissário das Nações Unidas.