A eleição de todas as apostas e de todos os perigos, em Angola, é o tema central do livro de Osvaldo Franque Buela, prefaciada pelo Professor Eugénio Costa Almeida, uma obra em que o autor trata e apresenta a temperatura de uma eleição num clima político muito tenso em todo o país.
Este clima social muito tenso não se deve apenas à má governança observada durante este mandato presidencial, nem pela crise de saúde de Covid-19, mas também é mantido e alimentado por um regime que está perder credibilidade e força, carente de atractividade e resultados económicos em relação às promessas eleitorais de 2017.
O regime do MPLA já não pode reivindicar a confiança da população, e provar a sua credibilidade como tal, sobretudo desde as últimas eleições que, de uma forma ou de outra fraudulentamente, levaram João Lourenço ao poder.
Neste livro, o autor mostra-nos e duvida fortemente que as próximas eleições não possam ser prejudicadas por operações fraudulentas face ao comportamento pouco ortodoxo do MPLA, que já está a trabalhar na organização da arquitectura do roubo de votos à população.
A particularidade destas eleições é que dará a uma população hoje unida contra o regime, a possibilidade de escolher entre os desejos de materialização da mudança que a cada dia se afasta das suas realidades quotidianas, e a esperança da renovação, sem cair na armadilha da luta mediática contra a corrupção que João Lourenço usa na comunicação social todas as semanas para desviar a sua atenção dos reais problemas da sociedade.
O que o autor chama de próxima vitória fraudulenta do MPLA já está a materializar-se aos olhos de todos. Todo o povo já sabe que a próxima vitória eleitoral do MPLA não corresponderá à verdade das urnas, mas no estado actual, ninguém sabe que atitude a população vai adoptar, perante um poder que já está a dar golpes políticos e mediáticos que oculta a sua incompetência na governação, ao invés de servir ao povo por meio de acções reais e tangíveis.
Também sabemos de antemão e por experiência que a oposição, como de costume, não se esquivará às suas acções legalistas de denunciar fraudes recorrendo aos meios legais previstos pela lei, mas será isso o suficiente para satisfazer ou acalmar as ambições do povo e eleitores que se sentirão prejudicados?
Diante de um partido governante em total colapso moral e ético e com um balanço económico catastrófico, a oposição conseguirá proteger o voto que o povo lhe dará para finalmente obter a alternância pacífica de poder 46 anos após a independência do país?
A sociedade civil e os demais actores que estarão envolvidos no processo eleitoral poderão desempenhar um papel decisivo na transparência e na fiscalização total das operações eleitorais, garantindo resultados confiáveis?
Só uma resposta a todas estas questões poderá garantir o desfecho pacífico de um processo eleitoral e impedir ao país uma revolta popular contra a fraude eleitoral já em curso.
O outro cenário que Osvaldo Franque Buela apresenta neste livro talvez seja uma revolta popular, cenário que ele também acredita o menos viável porque, em sua opinião, não há actor político capaz de assumir tal cenário. Em caso de fraude eleitoral antecipada, o MPLA exibirá o espectro de um retorno à guerra e poderá processar os adversários de crime contra a segurança do Estado.
O autor acredita firmemente que as próximas eleições gerais são de tal importância que devem permitir aos angolanos, a todos os níveis da sociedade, defender a verdadeira democracia, defender o seu voto por uma mudança obrigatória de regime, pela emergência de um verdadeiro estado de direito.
O MPLA nunca esteve tão fraco e dividido como agora para impedir que o povo lhe conceda livremente o cartão vermelho nas urnas, evitando que coloque o país numa aguda crise pós-eleitoral.
Um dos maiores desafios das próximas eleições é que a oposição e todos os líderes de opinião possam juntos participar do vento da mudança, mobilizando todas as camadas sociais da sociedade de participar de um voto pela mudança em todos os níveis da vida política, a fim de dotar o país de instituições fortes.
Portanto, como defensores da democracia, somos chamados a fazer avançar as nossas lutas por meios nobres e pacíficos para fazer nascer em Angola uma verdadeira lei e recusar todo o tipo de compromissos com o partido que institucionalizou a corrupção e a impunidade em Angola.
No livro, o autor não está a julgar a UNITA nem o MPLA, mas – diz – “o estado em que se encontra o país deve levar-nos a reflectir sobre as responsabilidades activas e passivas de cada agrupamento político, nestes últimos dez anos”.
Depois da apresentação dos possíveis candidatos, no último capítulo, o autor que é natural de Cabinda e ex-membro da FLEC-FAC, faz-nos também uma breve pergunta sobre: qual é a oferta política para Cabinda?
Franque Buela explica que a aposta dos Cabindas, em relação a todas as eleições anteriores à de 2022 e além, não deveria ser mais, o boicote nem a auto-exclusão como sempre o previram no passado, continuando a sofrer todos os resultados mesmo fraudulentos, que o regime os impôs violentamente desde 1975.
“O que está em jogo é que possamos, juntamente com os nossos jovens, sair da imobilidade ideológica que sempre nos caracterizou por nos limitarmos pela opção radical da independência ou nada, de cantar todos os dias que Cabinda não é a Angola, de reivindicar todos os dias a Tratado histórico de Simulambuco, para exigir um diálogo inclusivo todos os dias com um regime do MPLA que não tem a cultura do diálogo e do respeito pelas pessoas”, afirma o autor.
Franque Buela diz: “Reconheço que nada pode ser conquistado de antemão, mas o nosso passado heróico constitui uma reserva de moral que sempre nos lembra que fomos capazes de resistir em face de uma longa guerra e que é hora de construir a paz. Futuro por um oferta política realista. E depois desse diagnóstico só precisamos de um tratamento curativo”.
“Estou convencido de que é por sua própria constituição que é legalmente possível lutarmos contra o regime em vigor e conquistar todos os espaços de liberdade de que precisamos para florescer. O MPLA não aguenta mais porque está perdendo todas as lutas políticas, económicas e sociais, mesmo instrumentalizando suas próprias leis e seu tribunal constitucional”, escreve o autor.
Nos primeiros passos da construção de uma oferta política para Cabinda, Franque Buela escreve: “Devemos todos tomar consciência e sair do ambiente suspeito que envenena as nossas relações entre irmãos, expulsar a cultura da divisão e sair do prisma do egoísmo com um salto de orgulho porque Cabinda é terra de todos nos, não apenas de alguns oportunistas. Devemos aprender a falar-nos como irmãos e não como presidentes de qualquer agrupamento político, dedicarmo-nos à descoberta do outro, estimando-o”.
De resto, convidamos a uma leitura enriquecedora desta obra que traz e certamente animará o debate político até as próximas eleições, que o autor considera de todos os perigos.
Título do livro: «2022, L’élection de tous les enjeux. Et de tous les Dangers. Quelle offre politique pour Le Cabinda?»
Production et distribution: Ofrab Services – Paris. France