Portugal. O empresário Joe Berardo e o seu advogado André Luís Gomes foram hoje detidos no âmbito de uma operação que visou “um grupo económico” que terá lesado vários bancos em muitos milhões de euros.
A Polícia Judiciária (PJ) de Portugal anunciou esta manhã que fez buscas em Lisboa, Funchal e Sesimbra numa operação que visa “um grupo económico” que terá lesado vários bancos, por suspeita de administração danosa, burla qualificada, fraude fiscal e branqueamento.
A PJ indica em comunicado que se trata de um grupo “que entre 2006 e 2009 contratou quatro operações de financiamentos com a Caixa Geral de Depósitos, no valor de cerca de 439 milhões de euros” e que terá causado “um prejuízo de quase mil milhões de euros” à Caixa, ao Novo Banco e ao BCP.
“Este grupo tem incumprido com os contratos e recorrido aos mecanismos de renegociação e reestruturação de dívida para não a amortizar”, acrescenta a polícia no mesmo comunicado.
A PJ fez 22 buscas domiciliárias, 25 não domiciliárias, três buscas numa instituição bancária e uma num escritório de advocacia. Nelas participaram 138 investigadores da PJ, 26 da Autoridade Tributária, nove profissionais do Ministério Público e sete do Juízo de Instrução Criminal.
Na investigação, que começou em 2016, foram identificados “procedimentos internos em processos de concessão, reestruturação, acompanhamento e recuperação de crédito contrários às boas práticas bancárias”. Os investigadores procuram indícios de “actos passíveis de responsabilidade criminal e dissipação de património”.
Recorde-se que o empresário Joe Berardo considerou no dia 8 de Maio de 2008, em declarações à agência Lusa, que Bob Geldof não sabia do que estava a falar quando afirmou que “Angola é um país gerido por criminosos”.
O empresário garantiu que não tinha negócios com Angola, mas, no seu entender, o desenvolvimento económico e social dos últimos anos devia ser elogiado e apoiado.
“Geldof pode ter sido muito bom artista, mas revela uma grande ignorância quando fala sobre Angola”, afirmou Berardo.
“Portugal deve apoiar Angola, um país que atravessa um processo de transição política e que caminha para a democracia plena”, afirmou Joe Berardo, acrescentando mesmo que o futuro de Portugal e dos portugueses passa muito por África e por Angola em particular.
As críticas de Berardo resultam das afirmações do cantor Bob Geldof, numa conferência, em Lisboa, promovida pelo Banco Espírito Santo e pelo semanário Expresso, segundo as quais Angola “é um país gerido por criminosos” e tem “das casas mais ricas do mundo”, mesmo “mais caras” do que em Londres ou Nova Iorque.
O BES, refira-se, demarcou-se desde logo das afirmações de Geldof.
As ligações de Berardo a Angola tinham, na altura, um nome: Millennium bcp, o maior banco privado português, do qual era um accionista de referência, assim como a Sonangol. Sobre esta presença de Angola no capital do BCP, Berardo não tinha dúvidas em afirmar que “a Sonangol é muito bem-vinda e que o BCP e o país beneficiam, e muito, deste investimento”.
Portugal deve dar as boas-vindas ao capital angolano, como os angolanos têm dado as boas-vindas aos empresários portugueses, acrescentou.
O empresário reconheceu a existência de focos de corrupção e de pobreza em Angola, mas questionou: “E na China e na Índia ou mesmo nos Estados Unidos não há?”. Mais importante, disse, é avaliar o percurso de um país que saiu de uma guerra civil ainda há poucos anos e que é hoje uma das economias que apresenta maiores taxas de crescimento em todo o mundo. “Este crescimento beneficia toda a população”, enfatizou.
Sem fugir a questões sobre a governação e transparência do regime político angolano, então liderado por José Eduardo dos Santos, Berardo considerou que um país com um desenvolvimento económico acelerado como o angolano, e com a sua história recente, precisava de uma liderança forte, sob pena de se pôr em causa o trabalho que estava a ser feito.
Joe Berardo considerou que Angola não precisava do seu investimento financeiro. Prefere, antes, apoiar o desenvolvimento cultural do país e, neste contexto, afirmou que estava disponível para promover exposições e outras iniciativas culturais através da sua Fundação, que tem dezenas de peças de arte africanas.
Recorde-se ainda que Bob Geldof disse apenas o que todos sabiam, embora tenham sido (como continuam a ser) poucos os que os têm no sítio a ponto de o afirmarem.
Nessa altura, Bob Geldof falava na conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, organizada pelo Banco Espírito Santo e jornal Expresso, dedicando uma intervenção de cerca de vinte minutos ao tema “Fazer a diferença”, no fim da qual o então embaixador angolano em Portugal, Assunção dos Anjos, abandonou a sala.
As verdades foram duras e o então embaixador, depois ministro, não tinha outra solução. Não porque não soubesse que é verdade, mas porque o então capataz do reino do MPLA, Eduardo dos Santos, lhe paga para dizer que é mentira. E paga bem.
Quando se referia às relações históricas e culturais de Portugal com o continente africano – “vocês serão uma voz importante no século XXI”, disse para a assistência, Bob Geldof fez uma pausa e virou o discurso para Angola.
“Angola é gerida por criminosos”, acusou o organizador do Live Aid e Live 8.
“As casas mais ricas do mundo estão a ser construídas na baía de Luanda, são mais caras do que em Chelsea e Park Lane”, apontou, estabelecendo como comparação estes dois bairros luxuosos da capital inglesa.
“Angola tem potencial para ser um dos países mais ricos do mundo”, frisou Geldof, considerando que aquele país africano tem, designadamente, potencial para “influenciar as decisões da China”.
Relativamente a Portugal, o músico irlandês considerou que o país deve ser um parceiro de Angola devido ao seu passado, e acrescentou que tanto Portugal como Espanha e Itália “serão os primeiros [países europeus] a sofrer o impacto de qualquer problema em África”.
E Portugal deveria ter especial interesse em promover o “desenvolvimento em África”, já que tem “uma economia muito vulnerável, uma economia que depende do clima e está paredes-meias com África, salientou. “Estamos (os cidadãos europeus) a 12 quilómetros de África”, disse Geldof antes de questionar “Como podemos não nos questionar?”.
Folha 8 com Lusa