Quem ficou rico através da corrupção não deve usar a palavra meritocracia. A celebração e a exaltação da corrupção em Angola como se fosse uma qualificação é um insulto contra todos trabalhadores honestos que, de forma heróica, enfrentam dificuldades no seu quotidiano.
Por Malundo Kudiqueba (*)
Quem reclama por um pedaço de pão não deve ser considerado extremista. Extremismo e radicalismo é demolir casas de pobres sem nenhuma justificação ou indemnização. Não devemos punir ou castigar aquelas pessoas que ainda têm o fôlego de gritar em voz alta: “Estamos com fome.” Não podemos exigir ou obrigar pessoas a sorrir quando estão com dores. O grito de uma criança pobre não incomoda os nossos ricos. A insensibilidade invadiu a humanidade, e quem fala em generosidade e solidariedade é considerado socialista.
O projecto Angola como País foi desenhado para manter o povo no sofrimento eterno. Já não restam dúvidas quanto a isto. A economia rastejante do nosso País precisa urgentemente de um forte investimento público ou privado. Criar emprego deve ser uma prioridade para evitar o alastramento generalizado e descontrolado da pobreza extrema.
A missão de um político é criar oportunidades e não dificuldades ao povo. Não podemos continuar a transmitir a pobreza de geração em geração como se fosse uma doença hereditária. A maior parte da população angolana é pobre. A classe pobre está a crescer a uma velocidade assustadora, e está a ganhar e coleccionar novos membros todos dias. A maior parte da população angolana sofre de distúrbios mentais não diagnosticados. A população angolana vive ansiosa e com stress permanente. Ansiedade e stress é a combinação perfeita para depressão e hipertensão arterial. Os angolanos estão emocionalmente cansados e psicologicamente esgotados. O político que não quer compreender a frustração deste Povo não é digno do cargo que ocupa.
Os políticos não podem aplicar a estratégia da indústria farmacêutica onde o lucro vale mais do que a vida humana. Algumas doenças não têm cura porque a indústria farmacêutica não quer. O objectivo deles é colocar as pessoas na dependência medicamentosa, onde elas possam usar comprimidos como se fosse o pão nosso de cada dia. Descobrir a cura de uma doença não é rentável e não gera lucros. Este tipo de atitude é demonstrativo que tudo que é feito no mundo é por conveniência.
Na política estamos a fazer o mesmo, declara-se o combate contra os corruptos, quando o ideal seria combater à corrupção. Declaramos combater os criminosos quando o ideal seria combater o crime organizado. Sabemos o que deve ser feito, mas optamos de forma intencional não fazer nada. Passividade política é um decreto lei onde aprovamos o sofrimento de milhões de pessoas.
Em nome do Povo angolano que está a sofrer como nunca foi visto, é urgente ultrapassar as divergências e buscar convergências. Fazer “birra” política quando o que está em jogo são vidas humanas não é responsável. É nos momentos de dificuldade que devemos demonstrar maturidade política. Há países africanos que estão a dar (5) cinco voltas de avanço ao nosso. Enquanto Angola aposta numa política defensiva, o Gana por exemplo, aposta na abertura atraindo afro-americanos. Neste momento vivem cerca de 10 mil afro-americanos no Gana. Empresários, professores universitários e outros profissionais de vários ramos que estão a escolher o Gana como seu país adoptivo.
A política é a arte de negociar. Quem faz acordos pontuais e circunstanciais com os seus adversários políticos está a colocar o interesse do país acima de todos outros interesses. O maior problema dos políticos africanos é não conseguir trabalhar com pessoas com uma visão diferente.
Gostaria de lembrar que a unanimidade de pensamento é a inimiga número um da democracia. Não podemos falar numa governação inclusiva e participativa com a robotização mental. A viabilidade de alguns projectos depende de uma conjugação de esforços e de interesses.
Um país deve funcionar como uma equipa, com as melhores ideias dos partidos de esquerda, centro e direita. A perna esquerda é tão importante quanto a perna direita. Participar numa competição ou maratona só com uma perna não conseguimos chegar ao meio do percurso. Uma equipa composta só por canhotos apresentará algumas debilidades, desequilíbrios e défice de eficiência e eficácia em todos seus sectores. Neste momento Angola é como uma família disfuncional, e as coisas só irão mudar de figura quando os principais responsáveis pelo país abraçarem um projecto aglutinador, unificador e não divisor. A política é como um prato de comida, que deve ser temperada com vários elementos e ingredientes.
Motivos da pobreza em Angola
Falta uma rede transportadora – marítima, aérea, rodoviária, e ferroviária. Transporte e troca de produtos de uma região para outra é importante para o sucesso da economia do País.
Corrupção – Não é por acaso que os países mais corruptos do mundo são os mais pobres. Os países mais ricos do mundo são os menos corruptos.
Falta de privacidade e liberdade de expressão – Pensamento monolítico não ajuda no desenvolvimento do país. Órgãos de comunicação social controlados por políticos cujo o principal objectivo é a desinformação e a manipulação da opinião pública.
Boicotar o sistema educativo com o aumento dos preços da internet. Criar todo tipo de dificuldades e barreiras para impedir que a maior parte das pessoas não tenham o conhecimento básico para discutir e questionar decisões importantes.
Numa democracia forte os políticos estão em contacto directo e permanente com o povo. Numa democracia fraca as decisões governamentais são tomadas sem o conhecimento e o consentimento do povo.
Numa democracia forte as decisões são tomadas tendo em consideração a maioria. Na democracia experimental as decisões visam favorecer uma minoria.
Numa democracia madura há referendos. Numa “fake democracy” referendo é um termo inexistente.
Numa democracia de verdade quando o povo não concorda com uma decisão governamental consegue juntar 10 mil assinaturas para obrigar o governo mudar de decisão. O governo não pode rejeitar a vontade popular. Aqui no Reino Unido o jogador do Manchester United, Marc Rashford obrigou o primeiro-ministro Boris Johnson a dois U-TURNS. Recolheu assinaturas aos milhões e obrigou o “BOJO” a mudar de decisão.
Tirar o dinheiro do país para o estrangeiro. No caso de Angola todo nosso dinheiro está no estrangeiro a beneficiar outros países. Quem guarda todo o seu dinheiro na casa dos outros está a correr um risco.
(*) Birmingham, Reino Unido
Nota. Todos os artigos de opinião responsabilizam apenas e só o seu autor, não vinculando o Folha 8.