De facto, neste final do mês de Março e início de Abril deste ano, nunca se conheceu tal efervescência na actualidade política angolana, uma efervescência que nos mostrou e de certo modo provou que certos oficiais-generais do exército angolano reencontraram todos uma parte perdida dos seus cérebros.
Por Osvaldo Franque Buela (*)
Estes oficiais generais que de repente reencontraram os seus cérebros, oriundos ou não do território de Cabinda, lembraram-se todos que existe agora um problema por resolver em Cabinda, um problema que alguns deles passaram a negar a existência, e parece-me que outros até propuseram uma solução ao presidente do MPLA, que nunca conseguiu aprender a ser presidente de todos os angolanos.
O que é lamentável neste concerto de declarações destas elites militares do MPLA, é que ninguém soube nomear o problema de forma clara e compreensível, de forma a permitir que a opinião pública e a sociedade civil proponham soluções, mesmo de forma informal, sabendo que nos deparamos com um regime que nunca escuta vozes dissidentes, que considera a divergência como um atentado à segurança nacional, e que acredita que segurança nacional é a sobrevivência de um regime que se recusa a servir o povo soberano.
Esta efervescência não deixou a opinião pública Cabinda indiferente, todos os movimentos nacionalistas de Cabinda assaltaram as redes sociais onde todos expressaram as suas opiniões, cada um segundo o seu sonho de uma Cabinda livre e independente por propostas realistas para uns e um pouco sonhadoras para outros.
Para mim, sem pretensão de menosprezar ninguém, a mais coerente das declarações é a da FLEC-FAC que a meu ver tem mais credibilidade e peso, na medida em que é graças à sua resistência militar heróica, perante um exército convencional, que conseguiu forçar hoje os oficiais-generais do MPLA e duma certa forma a UNITA, a reconhecerem abertamente que há guerra em Cabinda, e que é urgente pôr fim à guerra para iniciar um processo de diálogo.
A FLEC-FAC continua firme e certíssima ao dizer que nenhuma iniciativa pessoal pode envolvê-los num diálogo sob as ordens de um regime que nunca honrou nenhum de seus compromissos, seja em nível nacional ou internacional.
Deste ponto de vista, todos podemos colocar ao MPLA esta pergunta para nos dizer porque é que nunca se aplicou o Memorando do Namibe e o estatuto especial de Cabinda, por eles concebido e imposto a António Bento Bembe por uma assinatura formal?
A resposta é clara, penso e creio que é pelo cinismo, este cinismo que empurrou aquele que deveria ser o presidente de todos os angolanos a organizar um almoço, dito de reconciliação nacional, excluindo uma parte importante da verdadeira oposição política e outros representantes das forças vivas da nação…
Numa situação dominada pelo crescimento da miséria e pobreza, pontuada pela mais importante crise sanitária mundial, este almoço foi mesmo importante numa altura em que há cada vez mais angolanos a fazer as suas compras nos caixotes do lixo dos oligarcas do MPLA? Mas, afinal, quem aconselha este presidente?
Com que grau de cinismo o presidente João Lourenço mandatou o seu brinquedo de vice-presidente em Cabinda? Um vice-presidente fantasma que nunca se viu confiar o menor dossier no país, para ir fazer turismo militarizado em Cabinda, que mensagem importante transmitiu ao Povo de Cabinda?
Até que ponto João Lourenço conseguirá puxar pela corda do cinismo e da discórdia, promovendo a cada dia a xenofobia e o racismo, a exclusão e o nepotismo na agora caótica gestão do País?
Se as coisas não mudarem ate lá, estamos avançar perigosamente todos os dias em direcção a 2022, com um ponto quente : As eleições de todos os perigos e todas as apostas
(*) Activista e refugiado político na França
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