Duas dezenas de cidadãos angolanos manifestaram-se esta tarde junto à Embaixada de Angola em Paris para contestar a morte do manifestante Inocêncio Matos, criticar a actual situação económica no país e pedir o direito de voto para a diáspora.
“Nós estamos em solidariedade com o que se passa em Angola porque são os nossos irmãos e são as nossas famílias. Nós temos sentido as consequências desta desgovernação porque as nossas famílias estão sempre a pedir-nos ajuda e não podemos ficar à vontade porque eles não têm emprego”, disse Emanwell Mayassi, organizador do protesto.
Entre as bandeiras e os cartazes levantados esta tarde na Avenida Foch, na capital francesa, muito angolanos lembravam que a situação económica no país, nomeadamente a falta de emprego, os afecta directamente já que nos últimos anos se tornaram o sustento das suas famílias na terra natal.
“Podemos ter documentos aqui, podemos ter um bom emprego aqui, mas temos o nosso cordão umbilical enterrado no nosso continente. A minha família depende de mim”, lembrou Castro Bongo, que veio de Bordéus para participar no protesto.
A repressão policial das manifestações de 24 de Outubro e 11 de Novembro em Luanda, que levaram à morte de Inocêncio Matos, jovem de 26 anos, foi também contestada em Paris.
“O ditador Eduardo dos Santos ficou 38 anos no poder e durante as manifestações não havia mortos. O Presidente João Lourenço chegou e, para afirmar o seu poder, está a reprimir cada vez mais a nível dos direitos”, denunciou Emanwell Mayassi.
Uma situação de “repressão” que, segundo a diáspora angolana, não continuará a ser aceite por muito mais tempo.
“Vivemos na repressão desde há 500 anos, o povo aguentou a colonização portuguesa, mas, um dia, os nossos ancestrais disseram basta e é essa energia que vibra em nós. Essa energia começou a vibrar recentemente e vai continuar até à libertação dos nossos povos”, indicou Lukano Luasambe, vindo de Reims para integrar a manifestação.
No entanto, para os angolanos estabelecidos em França, a responsabilidade pelo que se passa actualmente no seu país estende-se até ao continente europeu.
“A União Europeia coopera com pessoas que estão no poder há mais de 45 anos. Hoje sabemos que os europeus são coniventes do sofrimento dos africanos. Se os europeus querem realmente cooperar connosco, vamos falar de uma maneira diferente. As relações têm de ser bilaterais, para os dois lados”, sublinhou Castro Bongo.
Ainda na lista das reivindicações deste protesto estava também a impossibilidade de voto nas eleições angolanas. “Os angolanos na diáspora nunca votaram porque a nova Constituição de 2010 não permite”, lembrou Emanwell Mayassi.
Os angolanos residentes no estrangeiro lançaram recentemente uma petição para exigir o direito de voto de votos nas eleições autárquicas que se devem realizar em 2021 e nas eleições gerais em 2022.
A comunidade angolana em França conta com cerca de 50 mil pessoas registadas no Consulado de Angola em Paris.
Lusa