O Sindicato Nacional dos Médicos de Angola, provavelmente infectado pelo vírus de algum marimbondo, acusou hoje o Ministério da Saúde de cometer “várias irregularidades”, nomeadamente “falta de definição” nos resultados do concurso público de Janeiro de 2019 e a “pretensão de trabalhar com médicos voluntários”. Assim não vale! Todos temos de deixar de azucrinar a equipa de João Lourenço que, afinal, ainda preciso de mais uns anos – provavelmente muitos – para pôr a casa na ordem.
“O facto de o Ministério apelar ao voluntariado aos médicos recém-formados, ou seja, que estão no desemprego quando deveriam ser já admitidos, consideramos como um atropelo à Lei Geral do Trabalho, em que não é contemplado do voluntariado “, disse hoje Pedro da Rosa, secretário-geral do sindicato.
Falando em conferência de imprensa, em Luanda, o responsável recordou que há quatro meses um concurso público que previa o ingresso de 1.500 novos médicos no Sistema Nacional de Saúde foi realizado, mas foram aprovados apenas 600, que ainda não foram colocados.
É preciso dar tempo ao tempo. Embora a equipa do Governo seja, segundo o Titular do Poder Executivo, excelente (ou não fosse do MPLA!), como qualquer medicamento leva tempo a fazer efeito. É claro que, entretanto, se o doente não morrer da doença morre da cura… que não teve. Mas o nosso país é mesmo assim. E quem estiver mal que se trate em Espanha ou nos EUA, por exemplo.
Segundo o sindicalista, apelos reiterados têm sido feitos às entidades de direito no sentido de se contratar já esses profissionais, mas, observou, têm sido ignorados, o que justifica o descontentamento da classe face “a mais essa ilegalidade do Ministério da Saúde”.
De acordo com a mesma fonte, estas contratações levaram a uma redução das “altas taxas de mortalidade” e “das enchentes” que se registam nos hospitais.
“Tem sido muito difícil trabalhar nos nossos hospitais de plantão e atendendo mais de 100 pacientes por médico, a diminuição desse trabalho facilitava ou daria mais qualidade aos nossos trabalhos”, realçou.
Por seu lado, o presidente do sindicato, Adriano Manuel, exigiu que depois de contratados, os 600 médicos recrutados no concurso público comecem “já a auferir os respectivos salários” em vez de “passarem por um período probatório ou mesmo de voluntariado”.
O líder sindical considerou que o facto de ter passado mais de um ano desde a realização do concurso público sem que os novos médicos tenham começado a trabalhar faz com que haja um “aumento do índice de mortalidade” nos hospitais do país e referiu que só no ano passado havia cerca de 2.500 médicos desempregados.
“Estamos a trabalhar para além daquilo que são as nossas forças nos bancos de urgência onde acorrem centenas de doentes diariamente, o que influencia na prestação dos nossos serviços”, lamentou.
A 6 de Agosto de 2018, o sindicato entregou um caderno reivindicativo à entidade patronal, com a melhoria das condições laborais, salariais, pagamento de subsídios entre as preocupações “até agora sem resposta das autoridades”.
De acordo com Adriano Manuel, uma assembleia nacional deliberativa dos médicos está prevista para 4 de Maio, em Luanda, em que os profissionais “poderão deliberar uma greve” devido ao “desinteresse do Ministério da Saúde” em responder às suas inquietações.
“E uma greve pode ser o caminho para que se enquadrem os médicos que estão desempregados”, frisou.
A humanização dos serviços de Saúde em Angola também foi abordada nesta conferência de imprensa, com o presidente do sindicato a afirmar ser impossível falar-se em humanização “quando os trabalhadores do sector não são tratados com humanismo”.
“Por mais que queiramos, as condições que nos são colocadas dificultam-nos ter um trabalho muito mais humanizado”, referiu, exemplificando com a “carência de materiais e especialistas”, com grande parte dos hospitais do país sem “condições de abordar doentes nos cuidados intensivos”.
Questionado sobre o nível de diálogo que o sindicato mantém com o Ministério da Saúde, Adriano Manuel falou em “inexistência de diálogo” porque, observou, por parte da entidade patronal “não há disponibilidade e bom senso” para que o mesmo se concretize.
Governantes tratam-se lá fora
No passado dia 16 de Fevereiro, mais de 100 médicos (segundo as contas do comité da especialidade do MPLA não eram mais do que dez) marcharam em Luanda para exigir coisas impossíveis num país pobre como o nosso. Não é que tiveram a lata de exigir melhores condições de trabalho e de pedir aos governantes que “experimentem” fazer as consultas nos hospitais públicos de Angola?
Os médicos exigiram também a colocação de 1.500 colegas que se encontram no desemprego, no meio de cartazes com frases como “governantes façam consultas nos hospitais públicos”, “exigimos boas condições de trabalho e de vida”, “respeito e dignidade da classe”, “PGR faça auditoria do concurso 2018 do Ministério da Saúde” ou “se somos mais de 800 burros, encerrem as faculdades de medicina do país”.
O presidente do Sindicato, Adriano Manuel, disse na altura aos jornalistas que era o primeiro momento de um grupo de acções que iriam levar a cabo se, é claro, não fossem baixadas ordens superiores a dizer que estes médicos o que querem é fazer um golpe de Estado e atentar contra a segurança do reino.
Se o Titular do Poder Executivo (João Lourenço) não manifestar vontade de negociar, poderão sempre recorrer ao Presidente do MPLA (João Lourenço) ou mesmo ao Presidente da República (João Lourenço)…
Em Novembro de 2018, os médicos realizaram uma greve de três dias, que a entidade patronal considerou ilegal. Aliás, como nos 38 anos de governo de José Eduardo dos Santos, tudo o que seja contra os interesses instalados pelo MPLA e em benefício do MPLA continua a ser… ilegal.
Adriano Manuel realçou que o objectivo era que todos os médicos desempregados sejam colocados, “porque os que se encontram em exercício estão sobrecarregados, porque há um elevado índice de mortalidade nos hospitais e uma falta de profissionais na periferia”.
“Não conseguimos entender como é que temos médicos desempregados. Mas, em contrapartida, querem mandar vir médicos estrangeiros. Isto é inconcebível, não pode acontecer. Queremos que os nossos colegas entrem. Se entrarem, vamos diminuir o afluxo de doentes nos hospitais terciários e, dessa forma, minimizar o elevado índice de mortalidade que temos nos nossos hospitais”, frisou.
Sobre o polémico concurso de admissão de novos médicos, realizado em 2018, para o preenchimento de 1.703 vagas, no qual 825 foram considerados não aptos, o sindicato é de opinião que todos devem entrar para o sistema de saúde.
“Isto não é verdade, muitos dos colegas que reprovaram são médicos que já operam. Alguns deles já são especialistas e que operam nos grandes hospitais, fazem grandes cirurgias, como nos hospitais do Prenda, nas maternidades”, disse o médico.
Para Adriano Manuel, os exames feitos no concurso não servem para avaliar a competência de um médico, tendo em conta que 50% dos testes passaram por questões relacionadas com cultura geral.
Esquecem-se que está cientificamente comprovado que para se ser bom médico é condição “sine qua non” ser militante do MPLA.
Folha 8 com Lusa
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