A África do Sul decidiu suspender o controverso projecto para desenvolver o parque nuclear civil, focando-se nas energias renováveis para sair da sua dependência ao carvão, disse hoje o ministro da Energia, Jeff Radebe. Mostrando quanto a Angola do MPLA está avançada, João Lourenço acelera o programa nacional para o uso de energia atómica para fins pacíficos.
“V amos lançar um estudo para determinar se precisaremos mais da energia nuclear depois de 2030″, declarou Jeff Radebe, em conferência de imprensa de apresentação do plano de produção de electricidade da África do Sul, acrescentando que o país não “pretende aumentar a capacidade de produção de energia nuclear”.
Desde 2010 que o Governo sul-africano tem perspectivado a possibilidade de relançar o programa nuclear civil, para atender às suas necessidades de produção de electricidade, 90% das quais são fornecidas por poluidoras estações termoeléctricas a carvão.
Actualmente, o país dispõe de dois reactores atómicos em Koeberg (sul), perto da Cidade do Cabo, os únicos no continente africano.
No poder até Fevereiro, o ex-Presidente Jacob Zuma lançou um projecto faraónico de seis a oito novos reactores, mas o investimento, estimado em cerca de 70 mil milhões de euros, gerou controvérsia numa economia ainda frágil.
Vários países, incluindo Rússia, França, Coreia do Sul e Estados Unidos da América, já tinham aderido a colaborar, mas Cyril Ramaphosa, que entretanto assumiu o cargo de Presidente da África do Sul, teve reticências quanto ao projecto.
“Temos capacidades de produção suficiente e não temos o dinheiro necessário a um programa nuclear”, disse, em jJaneiro, afirmando que prossegue “a demanda de descida da electricidade a cada ano”.
No ano fiscal que terminou em Março de 2018, a electricidade consumida “foi 30% menor do que a prevista no plano de produção de 2010”, salientou Jeff Radebe. Até 2030, o plano prevê uma redução de 65% na quota de electricidade produzida pelo carvão e o aumento das produção de gás e energias renováveis. A energia nuclear fornece apenas 4% da electricidade sul-africana.
A inteligência (atómica) do MPLA
Segundo o secretário de Estado da Energia de Angola, António Belsa da Costa, o uso de energia atómica para fins pacíficos tem como objectivo melhorar a estratégia de produção e maximizar a extracção global do petróleo bruto.
Belsa da Costa sublinhou que se prevê aumentar a capacidade na utilização da tecnologia de radioisótopos na optimização dos diversos processos industriais. Segundo o governante, o objectivo também passa por apoiar e reforçar a capacidade de planeamento a longo prazo para um maior acesso a serviços modernos de energia nas zonas rurais e periurbanas, utilizando técnicas de isótopos para identificar recursos hídricos subterrâneos e potenciais fontes de poluição nas áreas rurais, bem como a capacitação para monitorar a poluição nas zonas costeiras.
Nesse sentido, acrescentou, torna-se assim “uma questão de alta prioridade” a criação de uma infra-estrutura reguladora nacional “adequada e independente”. Para Belsa da Costa, pretende-se que Angola desenvolva uma forte infra-estrutura que cumpra os requisitos principais de Protecção e Segurança das Fontes de Radiação Ionizante, seguindo as normas internacionais básicas de segurança.
A “chave” para atingir esses objectivos é o “forte compromisso” do Governo em proporcionar o apoio administrativo e financeiro, bem como aprovar e ratificar um conjunto de diplomas que impede o regular funcionamento.
“Perspectivamos a ratificação [do conjunto de diplomas] para que Angola possa explorar ao máximo as potencialidades do uso da energia atómica para fins meramente específicos”, afirmou.
Segundo Belsa da Costa, a aplicação de energia atómica para fins pacíficos contribui bastante para o desenvolvimento das variadas áreas da sociedade, com destaque para a saúde, recursos humanos e indústria do país, através de um programa que começou a 1 de Janeiro deste ano e que termina a 31 de Dezembro de 2019.
Para o governante, a energia radioactiva é aplicada em unidades hospitalares, como na realização de exames médicos, na exploração petrolífera, na pesquisa de água e ambiente, pescas e mar, alimentação, agricultura, produção e fabricação de vacinas para animais, constituindo factores do desenvolvimento e da diversificação económica.
Foram identificadas áreas prioritárias que oferecem o estabelecimento de projectos de alta qualidade, e mais de 25 empresas e quase 30 hospitais que beneficiam das indústrias e técnicas nucleares.
Por isso, realçou que o grupo de trabalho Intersectorial de Energia Atómica de Angola acaba de desenvolver o documento que representa uma “simbiose” entre o Programa de Cooperação Técnica da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e as prioridades do Executivo.
O secretário de Estado da Energia acrescentou que a tecnologia a ser disponibilizada pela AIEA “contribuirá significativamente” na melhoria do índice de desenvolvimento humano e do bem-estar das populações, permitindo a erradicação gradual da fome e da pobreza em Angola.
O Programa Quadro Nacional constitui um “marco de referência” para o Programa de Cooperação Técnica entre Angola e a AIEA para o período 2019-2023, sublinhou.
Angola e a AIEA já realizaram várias “consultas aprofundadas”, com base numa “análise minuciosa das necessidades” angolanas em Ciência e Tecnologia Nuclear, no quadro da Estratégia de Angola para o Desenvolvimento a Longo Prazo (Angola 2025) e dos Programas de Desenvolvimento Sectoriais (PDS).
O programa está em linha com o Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN-2018-2022) e com a Estratégia de Desenvolvimento de Angola 2025, que orienta todos os que estão directamente envolvidos no Programa de Cooperação Técnica, em Angola e na AIEA, na priorização de áreas de assistência.
Angola é membro da AIEA desde 1999, e o presente quadro nacional demonstra um compromisso comum, responsabilidade compartilhada e garantia de sustentabilidade para a implementação do programa de cooperação técnica, mas pode ser revisto, caso as circunstâncias se alterem.
Folha 8 com Lusa