A reparação de telemóveis pelas ruas de Luanda é hoje um ofício para centenas de jovens que, mesmo sem qualquer formação técnica, garantem solucionar qualquer avaria a partir de 1.000 kwanzas (cinco euros). A necessidade aguça o engenho e os angolanos não deixa os seus créditos por mãos alheias.
Mesa posta com telemóveis, ‘tablets’ e outros instrumentos electrónicos, sinalizam a presença dos “mestres”, como são tratados pelos clientes, em qualquer bairro ou mercado da capital angolana, na sua maioria jovens.
É no mercado dos “Congoleses”, no distrito do Rangel, arredores de Luanda, onde é possível encontrar a maior concentração desses técnicos, muitos dos quais levam até dez anos na profissão, que descrevem como “rentável” para suportar a família.
“Temos muitos clientes e os dias aqui têm sido razoáveis. Reparamos telemóveis e cobramos em função da avaria que o aparelho apresentar, sendo que no caso de ‘iPhone’ os preços são relativamente mais puxados”, contou à Lusa Baptista Lumba.
Há sete anos naquele tradicional mercado de Luanda, Lumba explica para arranjar um telemóvel pode cobrar entre 1.000 kwanzas (cinco euros), quando a avaria “for mínima”, ou o triplo quando são equipamentos “de alta tecnologia”.
“Aqui os preços são mais puxados porque há visores que vão dos 120.000 aos 240.000 kwanzas [615 a 1.230 euros]”, explica o “mestre”, de 43 anos.
Assume não ter formação na área, mas apenas “talento” para consertar telemóveis. Uma espécie de “dom” que lhe rende por vezes entre 20.000 e 30.000 kwanzas (100 a 150 euros) por dia. Um rendimento líquido, já que apenas cobra a mão-de-obra, cabendo aos clientes comprar os acessórios necessários.
“Como não somos vendedores de acessórios, dependemos ou cobramos apenas a mão-de-obra e ganhamos esse valor. Porque comprar acessórios sobretudo daqueles telefones que não têm mais conserto é complicado”, acrescentou.
Nos “Congoleses” também trabalha Zola Makiesse, um técnico que por “curiosidade” aprendeu a arranjar telemóveis e já leva agora oito anos de ofício.
Conta que, em tempo de crise, os clientes reduziram significativamente e hoje atende cerca de cinco e seis clientes por dia, actividade que realiza de segunda a sábado, prometendo solucionar qualquer avaria.
“Por uma avaria mínima cobramos 2.000 kwanzas [10 euros], mas se for um telemóvel de última geração, é a partir de 5.000 kwanzas [25 euros]. Dependendo naturalmente da sua avaria”, sublinhou.
Segundo o técnico, a quebra e troca de visor é uma das avarias mais comuns e também caras de solucionar. “Cobramos um valor mais puxado porque temos de adquirir as respectivas peças, que custam caro, sobretudo aquelas que vêem do exterior”, disse.
“O meu rendimento diário é segredo e depende sobretudo da afluência dos clientes”, apontou ainda.
Já Diogo António leva apenas quatro meses de actividade e contou que diariamente repara entre sete e oito telemóveis, cobrando a partir de 1.000 kwanzas de “mão-de-obra”.
“Há telefones que os acessórios são mais caros, com visores a custarem entre os 30.000 e 40.000 kwanzas [155 a 205 euros], cobramos a mão-de-obra 5.000 kwanzas, mas dependendo, há telefones digitais que os acessórios são 2.000 kwanzas e cobramos entre 1.000 e 1.500 kwanzas [cinco a sete euros]”, sustentou.
Igualmente sem qualquer formação em electrónica, o jovem “mestre”, de 31 anos, explica que está no mercado dos Congoleses “a batalhar pela vida”, para sustentar a família.
“Não tenho nenhuma formação no ramo, aprendi mesmo aqui com os colegas. Não sabia sequer abrir um telemóvel, eles ensinaram-me e hoje domino o ofício e para qualquer avaria, encontramos a solução”, concluiu.
Folha 8 com Lusa