O dirigente do MPLA Bento dos Santos “Kangamba”, general cujo prestígio militar o leva a já não ter ombros suficientes para tantas estrelas, negou hoje que a Presidência do seu tio, José Eduardo dos Santos, esteja a cargo do general “Kopelipa”, ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, garantindo que a Constituição está a ser cumprida. E se ele garante…
Com tradução para português, “Kangamba” disse que, “entre nós, os políticos e generais, ninguém substitui o Presidente, e se há alguém a dizer que o general Kopelipa está a substituir o Presidente da República é mentira. É tudo falso, estamos a cumprir estritamente aquilo que diz a Constituição. O resto são ideias falaciosas da liderança da UNITA”.
Por não ser possível garantir o rigor da tradução para português, admite-se que o general “Kangamba”, tenha treinado as suas afirmações de modo a ser, tanto quanto ele consegue, fiel às ordens superiores, não se sabendo se elas foram legitimadas por despacho presidencial ou apenas por mukanda do general “Kopelipa”.
O general “Kangamba”, membro do Comité Central do MPLA, partido no poder em Angola desde 1975, falava aos jornalistas à margem de uma inauguração oficial em Luanda, numa altura em que o chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, está ausente em Barcelona, Espanha, em visita dita de privada, desde 3 de Julho.
Antes, em Maio, José Eduardo dos Santos esteve outros 28 dias em Barcelona – igualmente em visita privada – ausência que suscitou, na altura, vários rumores sobre o seu estado de saúde.
Recorde-se que a 30 de Junho o general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa” foi designado pelo chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, para “responder pelo gabinete” do vice-Presidente da República, Manuel Vicente, que se vai “ausentar temporariamente” de Angola.
A indicação consta de um despacho presidencial de 26 de Junho, em que o Presidente da República (igualmente Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo) designa aquele general, “para responder pelos assuntos do gabinete” de Manuel Vicente, “enquanto durar a ausência daquela entidade”.
O despacho 147/17 não refere motivos para esta decisão, apenas indica que o vice-Presidente se “vai ausentar do país em visita privada temporariamente”.
“Acho mesmo que o presidente da UNITA está um pouco desnorteado, porque sempre que o Presidente da República se ausenta do país quem o substitui é o vice-Presidente da república e na ausência do vice-Presidente, está o presidente da Assembleia Nacional”, referiu “Kangamba”, questionado pelos jornalistas.
Angola realiza eleições gerais a 23 de Agosto, vivendo já um período de pré-campanha eleitoral, nomeadamente com troca de acusações entre o MPLA e a UNITA, os dois principais partidos angolanos.
“O país está falido. Não há dinheiro, não há medicamentos, não há água, não há luz, não há moral. Há roubos organizados praticados por titulares de cargos públicos. Há crime organizado protagonizado por titulares de cargos públicos, há fraudes financeiras”, criticou, na quinta-feira, o líder e cabeça-de-lista da UNITA.
Com as eleições em pano de fundo, Isaías Samakuva apresentou os restantes candidatos às eleições gerais e avisou: “Faltam apenas 49 dias para o povo operar esta mudança que Angola precisa (…) para decretar o fim da era do partido-Estado e dos sucessivos golpes de Estado orquestrados por aqueles que assaltaram os cofres do Estado e empobreceram mais de 20 milhões de angolanos, sem nunca terem sido responsabilizados”.
A UNITA tem vindo a acusar o MPLA de usar meios do Estado durante a pré-campanha de João Lourenço, vice-presidente do partido e cabeça-de-lista pelo círculo nacional, concorrendo assim à eleição, por via indirecta, para o cargo de Presidente da República.
“Quando dizem que o MPLA está a usar meios do governo na sua campanha política eu não sei que meios são esses. A oposição tem que saber que no MPLA tem empresários, eu sou empresário, apoio o meu partido e outros empresários também apoiam, o resto é mentira”, afirmou Bento “Kangamba”.
O polémico general angolano, secretário itinerante do comité provincial de Luanda do MPLA, acusa a liderança da UNITA de estar na origem dessas informações que considerou de “falaciosas”.
Recorde-se que o general Bento dos Santos “Kangamba”, um dos mais heróicos soldados das FAPLA e depois das Forças Armadas de Angola (por parte de Eduardo dos Santos) há muito que diz que a oposição deve respeitar o Presidente da Republica e acusa-a de não participar na vida pública do país.
“Kangamba”, um dos mais impolutos e lendários oficiais das FAA, afirma também que José Eduardo dos Santos não é culpado por estar no poder desde 1979. E se ele o diz, aos súbditos do rei só resta comer (quando há) e calar.
O general “Kangamba” continua a afirmar que nada tem a ver com as acusações sobre a exploração de mulheres e posse de dinheiro para pagar favores de políticos. E todo o cuidado é pouco. O general começa a ficar chateado e um dias destes, se lhe der na real gana, pega no seu exército e zarpa para pôr Portugal e Brasil na ordem.
“A oposição não participa, a oposição tem que participar na vida pública do país” disse “Kangamba” à Voz da América, acrescentando que a única coisa que a oposição sabe fazer é criticar os anos no poder do Presidente José Eduardo dos Santos.
Para ele que também é uma coisa parecida com secretário para a Organização Periférica e Rural de Luanda do MPLA, para além de ser um oficial dos mais prestigiados no mundo castrense, nacional e internacional, a longevidade de Eduardo dos Santos no poder não é culpa dele. “Não se lembram de quem é a culpa do tempo no poder do presidente? Ele não é o culpado, o culpado é a guerra”, frisou com toda a originalidade e clarividência de quem bebe inspiração no divino reino do “querido líder”.
O general também acusa Portugal de ingerência nos assuntos angolanos, avisando que Lisboa não tem “consciência jurídica e política” e acrescentando que Angola já não é “escravo” de Portugal.
Tido como o homem forte da mobilização das estruturas acéfalas do partido no poder desde 1975, Bento dos Santos “Kangamba” referia-se ao caso dos activistas que estiveram detidos e ao apoio público e à mobilização portuguesa em sua defesa.
“Se eu fosse português pensava 20 ou 30 vezes antes de falar sobre um estrangeiro. Primeiro tenho que arrumar a minha casa e depois falar sobre os outros. Portugal é um grande país, tem grandes políticos, mas neste momento está em debandada, não tem consciência jurídica e política para se defender nem defender os angolanos. Há necessidade de haver calma que a Justiça será feita”, apontou o dirigente do MPLA, general, empresário e figura de topo no que (não) tange a honorabilidade cívica, política, social e militar.
Isso mesmo foi, aliás, reconhecido pela própria Interpol que o incluiu no “quadro de honra” dos procurados por tráfico de mulheres e prostituição.
Também a Polícia francesa atesta que o general Kangamba é um impoluto cidadão. Segundo a Polícia, em 14 de Junho de 2013, dois carros foram apreendidos, com poucas horas de diferença, em portagens no sul de França. Num deles, foram encontrados dois milhões de euros, em quarenta sacos de cinquenta mil cada. No outro, foram encontrados mais 910 mil euros. Oito homens foram detidos. Pelo menos cinco deles, angolanos, cabo-verdianos e portugueses, estariam relacionados com o general “Kangamba”.
“Presos políticos não há, nunca existiram. Não vejo a UNITA, a CASA-CE, a FNLA, o PRS, a reclamarem os seus militantes presos. Os que estão presos são jovens que algumas pessoas estão a incentivar para fazerem arruaça que não está prevista na nossa Constituição”, afirmou “Kangamba” em Julho de 2015, acrescentando – certamente à procura da 13ª estrela de general – que na base da agitação “com cinco ou seis miúdos” estão “outros partidos que querem subir no poder a todo o custo”.
O general acusa Portugal de continuar a ingerir-se nos assuntos angolanos, 42 anos depois da independência: “As pessoas são as mesmas, tirando duas figurinhas bonitinhas que estão a aparecer aí no Bloco de Esquerda. Mas as pessoas que foram contra Angola são as mesmas [agora]. Eles acham que Angola até hoje é escravo, que nós somos escravos de Portugal (…) não podemos ser ouvidos e que Portugal é que manda, que Portugal é que diz e que Portugal é que faz. Os portugueses têm que saber que Angola é um Estado soberano”.
“As estruturas da Justiça [angolana] funcionam. Deixem que a Justiça faça o seu julgamento e o resto vamos ver. O que não se admite é o que os portugueses estão a fazer. Estão a acudir a um que tem a mesma cor e os outros que têm cor de carvão ninguém está-lhes a acudir. Isso é feio e é uma coisa que aqui em Angola já não se vive”, disse ainda o general sobrinho do “querido líder”.
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