Um curso especializado em educação à distância, apresentado como sendo o primeiro do género, foi lançado no sábado, em Luanda, e começou a ser ministrado a 30 formadores com o propósito de se implementar esse modelo de aprendizagem em Angola.
A iniciativa é do especialista angolano, doutorando e docente na Universidade Cruzeiro do Sul do Brasil, Gilberto Meireles Patrocínio, sendo esta a base da sua tese de doutoramento que propõe igualmente um modelo para o Ensino Superior em Angola.
No lançamento da formação, o docente defendeu que Angola deve pensar num “modelo flexível” no sentido do ensino superior no país, para ganhar outras valências.
“É um curso para formadores e não faz sentido implementarmos educação à distância sem que tenhamos professores, então o professor é o agente da transformação nessa vertente, o curso é destinado aos especialistas de nível superior”, disse.
O curso em fase experimental é dirigido apenas para especialistas angolanos do projecto do primeiro satélite angolano (Angosat) e aos docentes do Instituto Superior de Tecnologias de Informação e Comunicação de Angola.
Para o formador, o retorno dos especialistas que vão participar deste ciclo de formação vai dar corpo e sustento ao modelo proposto de ensino à distância para os técnicos superiores em Angola.
“Acredito que este período seja suficiente para que se possam extrair dados para assim validar o modelo que está a ser proposto”, acrescentou.
O curso, que tem o apoio do Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação de Angola, deve decorrer até o dia 22 de Julho.
Em declarações à imprensa no final da cerimónia de apresentação do curso, o ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação de Angola, José Carvalho da Rocha, falou em “ganhos para o sector do ensino em Angola”, com a promoção deste curso de educação à distância.
“Com as técnicas que serão ensinadas aqui poderemos disseminar os conhecimentos e particularmente para nós. Temos estado a desenvolver o projecto Angosat e sabe que temos estado a acumular muito conhecimento na área espacial e é do nosso interesse pegarmos nesse conhecimento e colocarmos a disposição de todos”, sublinhou.
O governante referiu ainda a necessidade de serem desenvolvidos projectos de ensino à distância no país devido ao número de pessoas que com diversas actividades não conseguem ter um ensino presencial.
“O estudo em Angola nesse domínio terá uma relevância assinalável”, reforçou.
Ensino à distância
Ao contrário da ideia que se pretender passar, há anos que o ensino à distância nasceu em Angola. Em 2010 existiam cinco universidades estrangeiras a leccionarem em Angola através do ensino à distância (EaD), todas elas em língua portuguesa. A primeira a poisar no território angolano foi a Universidade Aberta de Portugal (UAP), que conta com uma parceria da Embaixada de Portugal. Tem representação nas cidades de Luanda, Benguela, Bié, Cabinda, Huambo, Lubango (Huíla), Kuando-Kubango e Saurimo (Lunda-Sul), ministrando cursos de licenciatura, mestrado e doutorado.
Por seu lado, a Universidade Católica de Brasília, conhecida pela sigla UCB Virtual, possui pólos em Luanda e bases de apoio nas cidades do Dondo e Ndalatando (Kwanza-Norte), Calulo (Kwanza-Sul) e Benguela, desde 2006. É parceira da escola Católica Dom Bosco e lecciona cursos de graduação, pós-graduação e extensão. O seu principal objectivo é atender os angolanos de baixa renda interessados em continuar os estudos superiores.
“É um projecto de cariz multidisciplinar”, afirmou há sete anos Venâncio Costa, então director da Centro de Ensino à Distância da Universidade Agostinho Neto que, em entrevista ao Jornal “O País” apresentou as linhas gerais daquilo que é o projecto que pretendem para o desenvolvimento desta vertente de ensino em Angola.
Coma devida vénia, reproduzimos a entrevista então dada a “O País”:
– Qual é o objectivo da implementação do ensino à distância em Angola (EaD)?
Venâncio Costa – A implementação do Ensino à Distância na Universidade Agostinho Neto surge na sequência da necessidade de aumento do acesso ao Ensino superior público. Há que ter em conta que o problema do acesso ao Ensino Superior tem sido abordado em muitos fóruns académicos e em vários países. Em Angola o EaD será implementado para permitir que os Angolanos tenham também a oportunidade de frequentar um curso superior num regime não presencial, dando assim possibilidade a que as pessoas com determinado regime laboral não lhes sejam vetadas as possibilidades de se formar.
Quais as instituições que colaboram com o projecto?
VC – Nesse preciso momento em que se está na fase final de preparação para a implementação efectiva do EaD, a UAN precisa de criar muitas parcerias, se tivermos em conta que num projecto com estas características intervêm factores de natureza pedagógica, tecnológica e organizativa, ou seja, ele assume um carácter multidisciplinar. Temos parcerias sobretudo com instituições com vasta experiência em EaD, como a Universidade Aberta de Portugal e o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, com quem temos, inclusive, protocolos de cooperação.
– Desde quando está em funcionamento o projecto de EAD?
VC – Está provado cientificamente que antes do arranque de um projecto dessa natureza, são necessários cinco anos no mínimo uma vez que são muitos os factores a ter em conta para o efeito, partido da concepção do modelo, os testes inerentes e a sua implementação. Todas essas etapas devem ser antecedidas por um diagnóstico sério e coerente. Já lá vão 6 anos de trabalho árduo e só agora o projecto está a ser implementado.
Qual tem sido a aderência por parte dos estudantes?
VC – O EaD na UAN está a ser implementado de forma faseada. O projecto encontra-se na sua primeira fase que consiste na ministração de Aulas Virtuais. Tal como fiz referência há minutos, a definição de um modelo de EaD é um elemento fundamental, e é nessa conformidade que a UAN adoptou um modelo conhecido com o nome de Aulas Virtuais que está a ser aplicado ainda para suprir carências em termos de cobertura docente que se registam nas Unidades orgânicas já referidas, o que significa dizer que assistem aulas à distância em quatro cadeiras, nomeadamente: Introdução à Informática, Língua Portuguesa, Química Geral e Estatística Aplicada. Assistem a essas aulas estudantes já matriculados nas Unidades Orgânicas beneficiárias. Os tutores são quadros treinados para trabalharem sob tutela do Regente de cadeira, ou seja, os tutores são meros facilitadores do processo de ensino e aprendizagem, e são recrutados nas Unidades Orgânicas aí onde os estudantes se encontram.
Quais os projectos em curso para divulgação deste produto da UAN?
VC – O Centro de Ensino à Distância da UAN, com o apoio da Reitoria, está a envidar esforços para conseguir um espaço na programação da TPA para transmissão e difusão de conteúdos de formas a reforçar o EaD. Outra instituição brasileira que lecciona à distância é a Faculdade de Administração de Brasília (AIEC), que trabalha em parceira com a sua congénere angolana Óscar Ribas e o Centro de Treinamento do Projecto diamantífero Catoca. Instruem cursos de graduação em Administração desde 2002, com encontros presenciais de avaliação mensal. Já a FORMEDIA (Instituto Europeu), sediada na Espanha, ministra cursos de especialização e mestrados, em Angola desde 2001, e é também um dos parceiros da Universidade Agostinho Neto, ao passo que a Fundação Universitária Ibero-americana (FUNIBER) aparece como «companheira» do Instituto Piaget de Angola, com a qual ministra cursos de licenciatura, especialização, mestrado e doutorado. Este é o seu ano de estreia em solo angolano.
Quais as prespectivas para o ano de 2019? Poderá haver já matriculas para interessados em Licenciaturas e Mestrados?
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