É sempre importante ouvir, um dirigente, principalmente, do MPLA manifestar a disposição (mesmo que o faça de forma pouco convincente) de combater a corrupção. É meritório o combate sem quartel a este mal que vem gangrenando a sociedade há muitos anos, face à ambição desmedida de uns poucos devoradores (infelizmente, todos do partido no poder), dos cofres do erário público.
Por William Tonet
Daí ser importante para a credibilização do proponente, saber-se se as palavras terão o condão de condenar o seu próprio umbigo, se banhado, também, no óleo que unta os demais camaradas de partido.
É hercúlea a tarefa de João Lourenço, mas só terá nobreza, se vestido de humildade, tiver a elevação moral e ética de se penitenciar, vindo a terreiro, comprovadamente, dizer não ter sido um dos alegados responsáveis pela falência da CAP, com base nos cerca de 25 milhões de dólares, de um financiamento não pago (segundo uma fonte desta ex-instituição, encerrada por decreto presidencial), num dos maiores aviários, nos arredores de Luanda, que o transformaram no maior fornecedor de ovos, inclusive das actividades do Palácio Presidencial.
Acto contínuo, que nada tem a ver com a falência do BESA que lhe terá financiado mais de 60 milhões de dólares, não reembolsados, que lhe permitiram investir em imobiliário e numa grande fazenda, na zona de Mussualu, Libolo, Kuanza Sul, gerida por brasileiros e portugueses, onde, segundo fontes locais, só de guardas estão 157 homens da empresa de Segurança Privada ALFA 5.
Com que dinheiro paga essa prole? A resposta não pode ser uma incógnita.
Mais, que enquanto vice-presidente da Assembleia Nacional não violou a lei, constituindo uma empresa, com membros do governo; clara promiscuidade entre o poder legislativo e o executivo. Quando um membro do poder legislativo desrespeita o poder de soberania que lhe foi conferido pelos eleitores, não merece o seu respeito.
Daí, se não conseguir explicar, estes factos, apenas estes, com honestidade, olhos nos olhos, ao povo, então, a sua promessa de combater a corrupção não passará de mais uma “verborreia – lunática – partidária”, para inglês ver e angolano consumir.
No final a prudência recomenda não haver tiro nos pés, com os estilhaços a atingir, em exclusivo, o exército identitário.
A corrupção é um cancro nas sociedades, principalmente aquelas em vias de desenvolvimento, como Angola. Ela é danosa, ao afectar os mais vulneráveis, subtraindo-lhes os indispensáveis cuidados públicos de saneamento básico, saúde, educação, etc., face à delapidação dos fundos do erário público, por uma casta mafiosa de dirigentes, mais comprometidos em servir-se do que em servir os cidadãos no geral.
A corrupção quando alojada nos corredores do poder e de uma equipa partidária, em particular, configura o cometimento de um crime comum continuado, merecedor da abertura incondicional das algemas, contra os seus actores, por acção premeditada e dolosa.