ANGOLA registou pelo menos 2.400 suicídios nos últimos dois anos, em consequência de problemas psíquicos e sociais, com maior incidência nas províncias de Luanda e Huíla, segundo dados revelados hoje.
Os dados são avançados pela médica psiquiatra Fausta Conceição, afecta à polícia angolana, que falava à Lusa a propósito da apresentação, quinta-feira, do seu livro “Suicídios em Angola”, tendo considerado os números de 2015 e 2016 como “assustadores”.
“São quase 1.200 pessoas por ano, daí que editamos o livro com o objectivo de diminuição dos casos e para isso é necessário muito trabalho por parte da sociedade para combater este flagelo”, apontou a especialista.
Este avolumar de casos coincide com o período de forte crise em Angola, que se verifica desde finais de 2014, provocada pela quebra nas receitas com a exportação de petróleo.
Segundo a pesquisa com base em dados oficiais, feita por quatro médicas psicólogas e psiquiátricas da polícia angolana e reunida neste livro, a província de Luanda registou maior número de suicídios no país, com 90 suicídios num único trimestre.
Por outro lado, acrescentou Fausta Conceição, o método mais usual para a prática de suicídio é a “asfixia por enforcamento”, sendo que as principais causas de tal prática variam entre problemas do fórum psíquico e problemas sociais, como a falta de emprego.
“São numerosas as causas, como pessoas com problemas psíquicos que se suicidam muito, nós temos pessoas com problemas sociais, pessoas que são estigmatizadas, pessoas que sofrem o ‘bullying’, pessoas que têm ‘status’ social muito baixo, pessoas endividadas, desempregadas, enfim”, observou.
A especialista alerta para números ainda mais graves, tendo em conta que muitos casos de suicídio não chegam ao conhecimento das autoridades, devido ao estigma e tabu que ainda persiste no seio de muitas famílias.
“As pessoas são muitas vezes estigmatizadas porque se na família aconteceu isto é porque não estavam bem”, acrescentou.