A polícia angolana está à procura de dois homens acusados de terem “sacrificado” uma tartaruga de couro, espécie em extinção em Angola e que se encontrava a desovar numa praia, da Ilha de Luanda. Boa! Quanto não vale ser… tartaruga!
Por Norberto Hossi
O administrador do bairro da Ilha do Cabo, Paulo Neto, que deu a conhecer hoje o caso, referiu que o crime ocorreu no domingo. A tartaruga, com 70 quilogramas, foi capturada, morta e esquartejada por dois supostos pescadores.
“Surpreendidos por agentes da Polícia Nacional, que patrulhavam a zona, à noite, os dois elementos, seguramente residentes na região, meteram-se em fuga”, referiu Paulo Neto.
O responsável, em declarações à agência noticiosa angolana, Angop, disse que o surgimento de tartarugas marinhas é frequente por esta altura do ano para a desova.
Segundo o chefe do departamento de biodiversidade do Ministério do Ambiente, Alexandre Sá, a tartaruga morta é da família “Dermocheli Corácea” ou tartaruga de couro, espécie em perigo de extinção em Angola.
“O Ministério do Ambiente em parceria com a Universidade Agostinho Neto está a materializar um projecto junto das comunidades costeiras do país, que visa a conservação destas espécies”, referiu.
A tartaruga de couro, considerada a mais rara do mundo e que chega a pesar 900 quilogramas, pode estar em risco de desaparecer em Angola, enfrentando actualmente uma situação “caótica” de ameaça e número reduzido de desovas.
O alerta foi transmitido à Lusa, em Junho, por Miguel Morais, coordenador do projecto “Kitabanga”, tartaruga gigante na língua nacional quimbundo, que estudo e investiga os cinco tipos de tartarugas marinhas presentes ao longo da costa angolana.
O projecto “Kitabanga”, nome pelo qual é conhecida em Angola a tartaruga de couro, acompanha a desova de outras duas espécies ao longo da costa, a tartaruga verde (quase 1,25 metros de comprimento e 230 quilogramas) e a tartaruga oliva, com sete estações de amostragem permanentes para acompanhamento, distribuídas entre as províncias do Zaire, Bengo, Luanda, Benguela e Namibe.
“Angola está entre as praias com alguma densidade de desova para a tartaruga de couro. Mas temos verificado uma diminuição considerável ao longo do tempo. Para dar um exemplo, nos pontos de amostragem tivemos no ano passado oito animais e este ano apenas um. Antes tínhamos cerca de 100”, explicou o especialista e coordenador daquele projecto de conservação, da Universidade Agostinho Neto.
A desova desta espécie de tartaruga, que chega aos dois metros de comprimento e que está “criticamente ameaçada” em Angola, acontece por norma entre Outubro a Março, colocando em média 80 ovos na praia.
Além disso, os especialistas acompanham a situação da tartaruga de oliva, que chega aos 72 centímetros e 45 quilogramas e cujas praias de Angola são as principais para desova na costa ocidental de África, estando igualmente ameaçada.
“De uma forma geral, a situação das tartarugas em Angola não é saudável. Assiste-se a uma pressão muito grande, não só por predação directa, do ponto de vista antrópico, mas também por efeito dos impactos indirectos associados à pesca”, explicou.
Ser tartaruga ou Kopelipa?
Talvez 70% dos angolanos vivem na dúvida de quererem ser uma tartaruga ou um Kopelipa. O general Kopelipa, como bom investidor e cidadão preocupado com o futuro do nosso pais até pagou um milhão de euros para proteger as tartarugas. Melhor, não foi para as tartarugas nem para nenhum projecto de benemerência destinado aos angolanos famintos. Foi para comprar duas quintas no Douro português para produzir e exportar vinho. É parecido, convenhamos.
Tirando o facto, irrelevante, de a maioria dos angolanos passar fome, tudo o resto é normal. Quintas, vivendas, bancos, empresas etc. fazem parte do cada vez maior leque de interesses dos poucos angolanos que têm milhões.
Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome, é normal que os donos do poder (o MPLA) estendam as suas garras a outros países e ainda bem que, por exemplo, consideram Portugal uma boa escolha. O reino luso a norte de Marrocos só tem a ganhar com estes investimentos dos donos de Angola. Depois de 500 anos de colonização já era tempo de ser o colonizador a ser colonizado.
Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome, de muitos serem julgados no tribunal dos jacarés do Bengo, e outros levarem um tiro na cabeça por quererem defender a barraca onde (sobre)vivem, o importante é mesmo saber que a polícia está à procura de dois homens acusados de terem “sacrificado” uma tartaruga de couro.
Depois disso, se tiverem tempo, talvez procurem quem assassinou o puto Rufino. Não para o julgar, é claro, mas para o condecorar ou promover.
Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome, até nos parece normal que a ementa típica das refeições do clã Eduardo dos Santos, com ou sem acólitos presentes, seja do tipo: Ovos isabelinos mexidos com alheira de caça, tamboril com amêijoas, legumes estufados e arroz selvagem e uma sobremesa com doce de chocolate e laranja tostada. Os vinhos poderão ser do Douro português (em honra de Kopelipa): Esteva branco 2005, Quinta de Lagoalva tinto 2007 e Porto.
Tirando o facto de a maioria dos angolanos passar fome, até nos atrevemos a sugerir uma outra ementa para o almoço de homenagem aos polícias que apanharem o assassino do Rufino, perdão, da tartaruga: Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005.
Convenhamos que angolanos do tipo Rufino, Alves Kamulingue, Isaías Cassule ou Manuel Hilberto Ganga não faltam no reino de sua majestade José Eduardo dos Santos. São, aliás, angolanos de segunda… tal como mais 19.999.000.
Mas, pelo contrário, as tartarugas de couro são raras e estão em extinção. Raros também são os nossos políticos que têm coluna vertebral e, por isso, estão igualmente em extinção. Mas, segundo os donos do reino, quanto mais depressa forem extintos… melhor.