A Provedoria da República da África do Sul publicou hoje um relatório sobre acusações de corrupção formuladas contra o Presidente, Jacob Zuma, que apela para uma investigação a possíveis “crimes” de corrupção ao mais alto nível do Estado.
Bem que Zuma poderia já ter aprendido alguma coisa com o seu homólogo angolano. O reino de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, continua a ser um dos mais corruptos do mundo mas, com a maestria que se reconhece, não dá veleidades para que existam relatórios sobre o assunto.
No documento de 355 páginas, intitulado “A Tomada de Controlo do Estado”, a Provedoria sul-africana “chama a atenção do Ministério Público” e da unidade de elite da polícia sul-africana para “problemas identificados neste relatório nos quais parece que foram cometidos crimes”.
Jacob Zuma, cuja presidência tem sido marcada por numerosos escândalos, tentou impedir a divulgação deste relatório, mas os seus advogados anunciaram ao princípio do dia de hoje que desistiam do recurso interposto contra a publicação.
O relatório investigou acusações de que Zuma permitiu a uma próspera família indiana de empresários, os Guptas, uma influência indevida sobre o Governo, incluindo a possibilidade de escolherem ministros.
Entre as conclusões do relatório são citadas provas de que David van Rooyen visitou o bairro de Joanesburgo onde residem os Guptas um dia antes de ser nomeado ministro das Finanças.
Van Rooyen, um próximo de Zuma praticamente desconhecido do público, foi afastado do cargo apenas quatro dias depois, por causa de uma desvalorização da moeda e uma queda dos mercados que desencadearam numerosas e fortes críticas políticas ao Presidente.
Em Novembro de 2014 foi noticiado, nomeadamente pelo Folha 8, que Polícia sul-africana estava a investigar o presidente Jacob Zuma por corrupção, depois dos partidos da oposição terem apresentado várias queixas contra o chefe de Estado.
Segundo o então porta-voz da Polícia, Salomon Makgale, citado pela agência noticiosa sul-africana SAPA, as várias queixas por corrupção apresentadas pelos partidos da oposição foram centralizadas e estavam a ser investigadas de modo conjunto.
Salomon Makgale esclareceu, no entanto, que não tinham sido, nessa altura, abertas acusações formais contra Zuma, que em 2007 enfrentou mais de 700 acusações de corrupção, lavagem de dinheiro, fraude e crime organizado, todas retiradas em 2009.
O ministro da Polícia sul-africano, Nathi Nhleko, também confirmou que “a investigação se iniciou”, sem dar mais pormenores.
De acordo com os media locais, o maior partido da oposição, a Aliança Democrática, entregou à Procuradoria gravações que supostamente provam que o presidente utilizou mais de 15 milhões de euros de fundos públicos para obras numa sua residência.
As gravações terão sido feitas pelos serviços secretos e conteriam conversas entre membros da Procuradoria supostamente leais a Thabo Mbeki, ex-presidente e adversário de Zuma.
Em Março de 2014, a Defensora do Povo sul-africana, Thuli Madonsela, pediu ao presidente para devolver parte do dinheiro público utilizado na cara e controversa remodelação da sua residência privada.
Todos fuba do mesmo saco
O site Answer África, especializado em temas africanos, considera, sendo claro que não ouviu os peritos dos peritos do MPLA, o Presidente José Eduardo dos Santos, que “só” está no poder há 37 anos sem nunca ter sido nominalmente eleito, o quarto pior presidente do continente em 2015.
A lista é liderada pelo sudanês Omar Al-Bashir, que tem um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional, seguido do rei da Suazilândia Mswati III e o Presidente zimbabueano Robert Mugabe.
A companhia, reconheça-se, até não é má. Mesmo assim, estranha-se que alguém que é considerado pelos seus pares como “querido líder”, “escolhido de Deus” e represente de Deus na Terra, seja considerado o quarto pior presidente de África.
Digamos que José Eduardo dos Santos é um Presidente polivalente e para todos os gostos. A revista norte-americana Forbes, por exemplo, considera-o o segundo pior presidente em África, logo a seguir ao seu homólogo da Guiné Equatorial (membro da CPLP), Teodoro Obiang Nguema.
Segundo o Answer África, José Eduardo dos Santos “sempre governou como se (o país) se tratasse do seu investimento financeiro pessoal e privado”, além de possuir “um ultrajante registo na área dos direitos humanos”.
“A maior parte das escolas possui estruturas destruídas e há um profundo défice de professores qualificados”, revela o site, que responsabiliza o Governo de José Eduardo dos Santos de silenciar a imprensa e prender jornalistas que tentam desvendar detalhes sobre os acordos financeiros feitos (são todos) pelo seu clã.
A avaliação de Eduardo dos Santos termina dizendo que “a filha do Presidente, Isabel dos Santos, é a mulher mais rica de Angola e de todo continente africano”.
Os restantes “piores” líderes são Teodoro Obiang (Guiné Equatorial), Allassane Ouattara (Costa do Marfim), Jacob Zuma (África do Sul), John Dramani (Gana) e Uhuru Kenyatta (Quénia).
Para que o Answer África não se sinta só na mais do que certa acusação de tentativa de golpe de Estado que o regime angolano lhe moverá sempre que se atrever a dizer coisas destas, recorde-se que num artigo da Forbas, assinado por Mfonobong Nsehe, pode ler-se que a governação do Presidente Eduardo dos Santos se tem pautado por casos de nepotismo, onde o primo ocupa o cargo de vice-presidente e a sua filha Isabel é a mulher mais poderosa em Angola.
A Forbes destaca ainda que, segundo a Agência Internacional para o Desenvolvimento, o país é extremamente rico em recursos naturais, sendo o segundo maior produtor de petróleo na África Subsariana e ocupa o quarto lugar no ranking mundial na produção de diamantes em bruto.
Todavia e apesar dos recursos existentes no país, 68% da população vive no limiar da pobreza, a educação é gratuita, mas sem qualidade, 30% das crianças estão subnutridas, a esperança média de vida é de 41 anos e o desemprego elevado.
O artigo avança que em vez de partilhar o crescimento económico de Angola com a população, José Eduardo dos Santos conduz uma política de intimidação, sobretudo nos meios de comunicação social e canaliza os fundos do Estado para contas pessoais ou de familiares.
A Forbes dá ainda o exemplo de que a família do chefe de Estado controla o sector económico no país, e que a sua filha Isabel serve-se do poder do pai para comprar activos em empresas portuguesas.