O MPLA está mal. Muito mal! A sua imagem está desgastada e, não fosse o poder, seria um saco de gatos selvagens e famintos, tal são os sucessivos escândalos de corrupção, roubalheira, violação de direitos humanos, assassinatos e aprovação de leis ilegais e inconstitucionais.
Por William Tonet
Tudo, magistralmente, orquestrado por uma pequena clique, que se foi tornando cada vez mais poderosa, detendo hoje, não só o controlo do saco azul, como dos corredores que dão acesso ao gabinete do Presidente do MPLA, da República e comandante-em-chefe das FAA, José Eduardo dos Santos, colocando-o, voluntária ou involuntariamente, num colete de forças, que o mantém refém. Nem familiares directos, tão pouco os mais fiéis aliados conseguem desfazer esta mortífera máquina que, quando posta em causa, não se coíbe de engendrar purgas palacianas, muitas vezes violentas, para defesa dos interesses.
Carentes de qualquer ideologia, salvo a da roubalheira, são, assumidamente, “militantes do dinheiro” que, com maestria “minaram” o líder para melhor servirem os desígnios corruptos, de lavagem dos milhões e milhões de dólares desviados dos cofres públicos.
Disseminaram-se no aparelho do partido no poder, descaracterizando-o, umas vezes à pala de uma suposta competência académica, outras do poder económico, indispensável para a prossecução da acção política partidária.
E nesta cavalgada “gabinetal” não se coíbem de açambarcar acções da exclusiva esfera do executivo, como a realização de obras públicas, para exibir fidelidade canina e capacidade de realização.
É a idolatria do game (jogo, mas que poderia ser conjugação do verbo gamar), nunca interpretada pelo líder, obcecado na inauguração de obras descartáveis, cuja responsabilização, pela sobrefacturação e má qualidade técnica, lhe serão imputadas, num futuro próximo: Hospital Geral de Luanda, Multiperfil, Zona Económica Especial, Clínica Girassol, Barragem de Kapanda, Marginal de Luanda, entre outras.
Eis a senha da quadrilha.
Dos Santos, mais o que resta de coerência, no seio do MPLA precisam de, neste Agosto, despertar para a realidade, sob pena de afundarem todos juntos, como cúmplices, de um projecto ideológico que alimentou a esperança de milhões, mas está a ser, lentamente, assassinado. Hoje a maior referência é as pessoas/militantes estarem presas, por o partido ser a maior central de corrupção e emprego, face à partidarização das instituições do Estado.
O MPLA precisa, urgentemente, de higienizar as hostes internas, expurgar a erva daninha, aproximando-se dos restantes actores da política indígena, para gizar a arquitectura de um Pacto de Regime, capaz de esbater o recalcamento que campeia, nos corações dos adversários políticos e partidários, muitos dos quais, pela feroz discriminação e exclusão, advogam uma retaliação com base na Lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”…
Conseguirá o congresso de Agosto, alavancar a coragem e honestidade? Seguramente não, tal é o controlo da máquina pela insensível quadrilha da corrupção.
Mas, ainda assim, os minoritários pelo seu patriotismo, devem lançar as sementes da mudança, em homenagem aos verdadeiros fundadores e guerrilheiros impolutos do MPLA.
Todos sabem não ter sido ao acaso a escolha do mês, tal como não será ao acaso, nenhum dos resultados já, previamente ensaiados para o show aprobatório.
Se ninguém perceber, estar a crescer, hoje, no seio do próprio MPLA um blindado exército silencioso, capitaneado, por aqueles que não têm as mãos manchadas pelos milhões e milhões de dólares de sangue, delapidados aos ex-bancos; CAP (Caixa Agro Pecuária), cuja falência criminosa, tal como a do BES-A (Banco Espírito Santo Angola), passou impune, por estarem “partidariamente” identificados os beneficiários, então estão na política graciosamente, como palhaços políticos, que se aprestam, neste próximo congresso a aceitar tudo.
Igualmente o estão os que enriqueceram, bilionariamente, com o dinheiro, saqueado à Sonangol, ao Fundo Soberano, ao BPC, a Endiama, etc, cuja falência técnica o regime não anuncia, para não destapar a incompetência que grassa no seu seio.
Hoje por hoje, o Zé da esquina e a esquina do Zé, não se confundem, face à libertação das mentes, que a pobreza e discriminação impulsionaram nos vários povos, sedentos de justiça e responsabilização aos gatunos, corruptos e assassinos, que desfilam impunidade nos corredores do poder.
Estes “engenheiros” do mal, acreditam que o poder bélico, sob o seu controlo é causa bastante para a perenidade no poder.
Ledo engano.
Saddan Hussein, Nino Vieira, Mouamar Kadhaffi, indeferentes aos apelos de mudança, ingenuamente, também assim acreditaram, mas foram, quando menos esperavam, confrontados com os imparáveis ventos da história.
E, nessa hora, destroçada a máquina militar e banhados pela impotência de contenção da revolta popular, foram arrastados, em alguns casos, com excessos desmedidos, reconheça-se, para a sarjeta da história. Um cenário evitável, mas bestializado pela teimosia e arrogância.
Nós angolanos, ainda temos capacidade de ditar destino diferente, para quem hoje, continua a desfilar o camião da maldade e sofrimento contra a maioria dos autóctones angolanos.
Falemos entre irmãos, assumamos os nossos erros, penitenciemo-nos em nome da concórdia, da irmandade, da fraternidade e da conciliação, para devolvermos a harmonia e construirmos, todos juntos, com o respeito na diferença de opiniões, uma nova Angola. Uma Angola Reconciliada! Criminoso será não se reconhecer estar o país mal, num barril de pólvora, onde um pão, pelo exorbitante preço: 100,00 Kwz, é um potencial mobilizador de descontentes, que coligados com os desempregados, os discriminados e outros formam um verdadeiro exército, capaz de, sem um comando pragmático, impor o arbítrio.
É o resultado dos actos da quadrilha.
Não acredito (mas pode ser possível) que alguns delegados ao congresso do MPLA, tenham a mente aberta, para discutir os sinais dos tempos, esboçando algumas linhas.
Também não acredito, mas seria bom, que o presidente José Eduardo dos Santos aceitasse ser salvo pela crítica ao invés de assassinado pelo elogio.
Agosto é, apesar dos pesares, um mês de graça, desgraças e muita bajulação, mas neste, faça, uma verdadeira inversão: liberte-se do mal e dos ímpios, senhor presidente, devolvendo a si e aos povos de Angola a esperança de que tanto carecem.
Oremos, irmãos!