Uma bala / Um assassino / Um menino inocente / Uma morte / Foi o fim / Não!
Por William Tonet
Recolhido, fisicamente, nos braços de um desconhecido, a inanição de Hector Pieterson, ganhou outra vida nas vidas de outros carreiros da liberdade e avenidas do mundo democrático. O mundo deu-lhe direito à vida. Eterna!
Sim!
Porque Hector não foi subterrado pelas areias do Soweto, ergueu-se e caminhou, todos os dias, de 1976 – Joanesburgo, em direcção à escola, exigindo melhor ensino, fim da discriminação racial e liberdade, até o escancarar das algemas de Nelson Mandela, em Roben Islands, em 1990. Nova aurora.
Na verdadeira acepção, quem em 16 de Junho de 76 assinou, ante a impetuosidade de uma criança inofensiva, um atestado de morte foi o regime anacrónico do apartheid de Pieter Botha.
O grito infantil, qual hino da LIBERDADE, ecoou das entranhas do Soweto, para o mundo, avisando todos os outros “apartheides”; brancos ou negros, que têm os dias contados, por muito que “madura, castramente, obianguemente ou santissimamente”, sejam os seus arsenais bélicos.
O regime de Angola, belicamente, liderado pelo Engenheiro José Eduardo dos Santos, infelizmente, custa-me dizê-lo, terá substituído na perfeição o do apartheid, quando os seus órgãos de Segurança e de Saúde Pública, assassinam, todos os dias, 500 crianças inocentes, negando-lhes um comprimido, uma ampola, uma injecção nos hospitais de Luanda, para debelar doenças da revolução “emepelista”, que os colonialistas portugueses, haviam eliminado ou baixado os seus níveis.
Hoje a malária, febre-amarela, cólera, doença do sono, tuberculose, são a imagem de marca de uma incompetência governativa, que quando reivindicada é recebida à bala. E, quando os jovens querem vencer o analfabetismo, clamando por ensino, melhor ensino, comida, saúde, um país mais igual e oportunidade para todos, mesmo na leitura de um livro sobre Ditadura e Democracia, as forças bélicas do regime, arreganham as unhas, amordaçando e encarcerando-os, nas suas fedorentas masmorras.
Quando se tentam manifestar-se pró liberdade, dos excessos de poder, da corrupção, são assassinados à bala e os assassinos, premiados, tal como aconteceu com Cassule, Kamulingue e Ganga.
Tudo isso à semelhança do que aconteceu em 1976, no Soweto, continua a ser uma realidade, em Angola, com dirigentes negros, há 40 anos no poder, na contínua exploração da maioria preta.
Na África do Sul ante a sucessão dos erros do então presidente, os membros do Partido Nacional, no poder, exigiram-lhe uma inversão no rumo, para não soçobrarem todos.
Em Angola 2016, os dirigentes do MPLA são impotentes e incompetentes, para esta empreitada, assistindo serenos à transformação da República, por parte do seu líder, em Monarquia, colocando a riqueza do país na mão dos filhos, familiares e aliados transformados em barões.
No dia 16 de Junho de 2016, não acredito que o MPLA ou o Titular do Poder Executivo, tenham moral de falar em direitos da criança angolana, quando conscientemente as assassinam todos os dias com balas reais ou outras.
Nesta data é necessário que elas e os jovens continuem a lutar em busca da liberdade e do fim da concentração da riqueza de um país, que se diz de direito e democrático, nas mãos de uma oligarquia familiar corrupta, que age como uma verdadeira ditadura num Reino que se orgulha nas semelhanças de se ter convertido no apartheid negro do MPLA.