A presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Río, enviou uma carta ao Presidente de Angola pedindo-lhe que liberte o activista Luaty Beirão e os outros 14 jovens com ele detidos em Luanda, em Junho.
“E xmo. Sr. Presidente da República Popular de Angola, Eng. José Eduardo dos Santos, venho junto de si apelar para a libertação de Luaty Beirão e dos seus companheiros detidos, porque está nas suas mãos salvar esta vida e proteger os direitos de liberdade de opinião destes jovens e de todos os cidadãos de Angola”, escreveu Pilar del Río.
Em greve de fome há 29 dias, Luaty Beirão é um dos 15 jovens angolanos encarcerados há quase quatro meses e formalmente acusados, desde 16 de Setembro, de prepararem uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano (no poder há 36 anos sem nunca ter sido nominalmente eleito), um crime que admite liberdade condicional até serem julgados.
Denunciando que está detido ilegalmente, por se ter esgotado o prazo máximo de 90 dias de prisão preventiva (20 de Junho a 20 de Setembro) sem nova decisão do tribunal de Luanda, Luaty Beirão, também engenheiro de formação, entrou em greve de fome.
Transferido de um hospital-prisão da capital angolana para uma clínica privada ao 25º dia de greve, o jovem activista luso-angolano já não se desloca pelos próprios meios, embora se mantenha lúcido, segundo a sua mulher, Mónica Almeida.
A viúva do prémio Nobel da Literatura português sublinhou estar a acompanhar o caso do rapaz de 33 anos, cujo estado de saúde se deteriora a cada dia que passa, “com preocupação e emoção”, afirmando esperar “que prevaleçam os princípios do respeito pela justiça sobre todas as atitudes que desmerecem a democracia”.
Declarando-se “uma admiradora da luta do povo angolano pela sua independência, pelo fim da trágica guerra civil e pela paz”, Pilar del Río enalteceu “os grandes contributos que escritores, músicos e outros artistas angolanos têm trazido para a cultura africana e universal”.
“Estou certa de que compreende por isso o meu empenho em acompanhar estas expressões da cultura, da rebeldia dos jovens, da grande união que representa o compromisso com os direitos humanos. O silêncio seria triste e desistente perante este risco de vida”, frisou.
“Salve Luaty Beirão, senhor Presidente”, reiterou.
Luís Cília, Sérgio Godinho e Manuel Freire
Também o músico de intervenção português Luís Cília escreveu uma carta de apoio aos 15 jovens angolanos detidos desde Junho, e afirmou ser “pouco credível” que “possam fomentar qualquer ‘golpe de Estado'”.
“Só se for um golpe de Estado das mentalidades e isso é imprescindível em qualquer país que se orgulhe do seu passado de luta contra o colonialismo”, afirma Luís Cília na carta que é subscrita também pelos músicos Sérgio Godinho e Manuel Freire.
Luís Cília sublinhou que esta carta é “um grão de areia na indignação geral” sobre a detenção de 15 jovens, entre os quais o luso-angolano Henrique Luaty Beirão, formalmente acusados pelo Ministério Público angolano de actos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano.