Os partidos da oposição parlamentar organizaram o que poderá ser um marco importante para Angola e a maioria dos angolanos, despidos de amarras ideológicas, se tiverem como objecto principal, uma caminhada em busca da unidade fundamental, para aquisição do governo e poder, ao invés de uma luta individual, para consumo dos egos pessoais dos seus líderes.
Por William Tonet
P ara vencer o refastelado e pernicioso elefante é preciso mais do que simples vontades discursivas; é preciso mais do que palmadinhas nas costas; é preciso mais do que simples vaidades de falsos democratas.
É preciso saber ser pequeno e grande nos propósitos, lendo o sentimento da maioria popular, que conclama, não paliativos, mas acções constantes, regulares e colectivas dos “ente opositores” numa mesma plataforma, para unidos, fazerem da escassez de recursos, um balaio de força, capaz de alavancar o instituto sagrado e sublime de unidade, único capaz de arrepiar caminho, na busca de uma nova aurora, difícil de ser alcançada por um só partido e tão carente na vida da maioria dos povos autóctones discriminados constitucionalmente nas suas línguas, culturas e tradições Bantu.
Vencer os complexados que querem institucionalizar a teologia da libertação de Gilberto Freire, exterminando o que existe de mais sagrado nos povos de Angola, só será possível com acções concertadas, visando o resgate constitucional, das línguas dos angolanos, para que não continue, discriminatoriamente, a desfilar sozinha, no palanque dos complexados do regime (art.º 19.º CRA), uma língua estrangeira: português, como se fosse a única em Angola, quando é apenas falada por 25% dos cidadãos.
Esta primeira jornada parlamentar da oposição, só será recordada, amanhã, se for a primeira de muitas outras acções conjuntas, que o momento político actual e de médio prazo carece.
Ninguém, melhor, muitos poucos acreditam, que a UNITA, a CASA CE, o PRS ou a FNLA, consigam, individualmente, ser protagonistas de uma viragem de regime, através da via eleitoral, por muito que os seus líderes palmilhem os carreiros dos sentires autóctones.
A grandeza do vício institucional, que corrói o sentido humano é tão grande, quanto a ligeireza com que o azeite blinda as instituições do Estado, criadas exclusivamente, para atender a uma visão monárquica de manutenção de poder.
Isaías Samakuva, Abel Chivukuvuku, principalmente estes dois, secundados por Eduardo Kuangana e Lucas Ngonda e outros, só serão recordados, amanhã, se conseguirem despir-se dos orgulhos individuais e criarem uma verdadeira Plataforma Eleitoral Para Mudança, com o objectivo principal de derrubar, não já o Partido Único mas a Pessoa Única que aprisiona Angola e os angolanos e está em vias de conseguir um feito inédito; exterminar o primeiro povo de Angola, os Khoissan, constitucionalmente discriminados.
Por esta razão, estes senhores (Samakuva, Chivukuvuku, Kwangana, Ngonda, entre outros), líderes da oposição, têm de baixar a guarda, descer as escadarias da humildade, hasteando a nobreza da política de proximidade, interpretando o clamor dos sentires e desejos da cidadania excluída.
Têm de ser capazes de se despojar da tentação, voluntária ou involuntária de, subversão sub-repetícia dos instrumentos estatutários e programáticos dos partidos (enquanto micro-estados), perpetuando-se nos poleiros, para terem estatuto de ineditismo nas críticas a quem, se transformou em PESSOA ÚNICA (maior instituição do poder de Estado, com exército privado, colossal monopólio económico, controlo exclusivo das telecomunicações, da comunicação social, etc.) e a baptizou, através de “engenharias ilícitas de constitucionalidade” em órgão de soberania (art.º 105.º da Constituição), sem mandado do povo soberano, como estatui o n.º 3.º da Constituição (“a soberania, una e indivisível, pertence ao povo”) e sem ser nominalmente eleito.
Os grandes homens, não são os que se apegam a longos períodos no poder (do partido ou do Estado); não são os doentes “chefialoides” (difundem a tese de a manutenção, além dos prazos estabelecidos, ser motivada pela proximidade das batalhas políticas), que abominam a mudança interna, com as mais falsas justificativas…
Os verdadeiros líderes, aqueles que os cidadãos ambicionam, são escravos dos mandatos estatutários, identificam-se com o jogo da transparência, que impõe cego respeito e não cega ambição de perpetuidade.
Se estes líderes da oposição forem capazes de protagonizar algo mais do que uma feira de vaidades, teremos aqui um verdadeiro embrião de mudança de regime.
Mudar para conferir angolanidade as línguas, as culturas, as tradições da maioria dos angolanos, respeitando, a mais nova etnia de Angola: os “angolanistas”, aqueles que não se revêem nas culturas, tradições e línguas angolanas, mas unicamente na língua portuguesa, esta sim merecedora de “promoção e valorização”, por ser de origem europeia e não como, complexadamente, postula a al.ª n) do art.º 21.º da CRA, em relação à aquelas.
Se os orgulhos pessoais forem colocados à margem, os angolanos descrentes poderão revigorar esperanças na tribo política e blindar o sentimento de democracia apoiando incondicionalmente a nova visão das lideranças políticas de “só a unidade é capaz de produzir algo de substantivo. Só a unidade constrói”, parafraseando Dom Viti, na magistratura da sua fértil e actual clarividência de homem comprometido com a fé cristã. Sigam-lhe as peugadas e construam o que de vós espera a maioria dos angolanos.
“In fine”: fiquei horrorizado durante as jornadas, ao ver deputados da oposição sem humildade de fazer diferente dos ligados ao partido no poder, quanto aos gastos e aos gestos. Em cada paragem dos freios dos jeeps Lexus (dizem-me que vendidos por uma empresa de um dos filhos do presidente da Assembleia Nacional) ninguém sai do interior dos mesmos, sem que um guarda ou abridor de porta as abra…
Terrível, penso eu, na minha pequenez, quando muitos, se não forem reconduzidos não ter condição de manter esse efémero “status” bangozo de motorista, guarda-costas, etc.
Como entender, que deputados eleitos para fazer diferente, desfilem garbosamente, hábitos e gestos de cariz, muitas vezes, fascistóides.
Ora, se na oposição não conseguem, salvo raras excepções, ter noção de redução de gastos, não terão a nobreza de as fazer se, um dia, forem maioria e poder.
É pois imperioso mudar este estado de coisas, estas bangas barrocas, que não os dignifica, principalmente, quando se via no parque de estacionamento, onde decorreu as jornadas, mais pessoal de apoio, aos deputados que jeeps (tinham mais quorum se realizassem as I Jornadas Parlamentares do Pessoal de Apoio dos aos deputados da Oposição). Uma aberração, aliada a falta de rigor das comissões especializadas de apoio, no apoio devido ao trabalho da imprensa e participantes, não tendo uma fotocopiadora, para reproduzir e distribuir, por exemplo, os discursos dos palestrantes…
É preciso suprir este amadorismo com maior rigor e profissionalismo, logo, um diploma de participação e uma brochura policopiada das intervenções, conferiria, outro lustro e visão de preparo para a gestão dos destinos do Estado…
Finalmente, a minha crítica, no quadro da liberdade de pensamento, aos meus amigos Samakuva da UNITA e Chivukuvuku da CASA-CE, porque o são verdadeiramente; amigos, a presunção de a liderança lhes conferir legitimidade de se distanciarem do calor dos participantes, abandonando a sessão após os discursos inaugurais (uma réplica ao comportamento de Eduardo dos Santos) e, na do encerramento, não foi avisada, nem justificada a ausência do líder da coligação amarelinha.
No mais os meus parabéns…