A crítica de Rafael Marques a João Lourenço e o elogio inesperado a Eduardo dos Santos vieram enterrar de vez o actual presidente. Quando alguém que passou anos a denunciar os abusos do antigo regime afirma que João Lourenço está a ser pior, isso não é apenas uma crítica — é um veredicto.
Por Malundo Kudiqueba
Rafael Marques não é um opositor tradicional. Ele não tem agenda partidária nem sede de poder. O que torna as suas palavras ainda mais devastadoras. Uma crítica sua vale mais do que mil ataques da oposição, porque a oposição critica todos os dias e acaba por criar o hábito. E quando ele fala, as palavras pesam como chumbo.
Se até Rafael Marques, que foi um dos maiores opositores do clã dos Santos, agora reconhece méritos ao ex-presidente em comparação com João Lourenço, então algo de muito errado está a acontecer. João Lourenço prometeu um novo tempo, mas parece que o relógio voltou para trás.
O pior inimigo de um governante não é a oposição. É a credibilidade perdida. Quando até os independentes já não conseguem defendê-lo, é porque a casa está a ruir.
Quando Rafael Marques questiona o que vai acontecer a João Lourenço depois de abandonar o poder, a resposta está escrita nas entrelinhas: João Lourenço não vai cometer o mesmo erro de Eduardo dos Santos. Não vai entregar o país a um sucessor que possa virar-se contra ele.
Ele já aprendeu a lição. Vai preparar o terreno para deixar no poder uma mulher que protegerá os seus interesses, os seus negócios e a sua própria segurança.
Os homens são traiçoeiros, ambiciosos, vingativos. As mulheres, quando postas no poder por alguém que lhes abriu as portas, tendem a ser mais leais, mais fiéis e menos inclinadas a revanchismos. Uma mulher que chega ao topo pela mão de João Lourenço saberá que lhe deve tudo – e essa dívida política será paga com protecção.
João Lourenço não será um ex-presidente humilhado. Não terá de fugir, esconder-se ou temer perseguições. O seu nome será tratado com dignidade, não por merecimento, mas por estratégia bem calculada. Ele não quer ser um fantasma político. Quer ser um padrinho invisível, ainda a puxar os cordelinhos nos bastidores.
João Lourenço tem de mudar de estratégia. Um líder que governa pelo confronto cava a própria queda. Coleccionar adversários não traz progresso, apenas isolamento. Um presidente deve construir pontes, não erguer muros. O poder não se sustenta na guerra constante, mas na inteligência de unir forças.
Rafael Marques falou porque viu algo que o incomodou. E quando ele fala, há sempre um propósito. Nada foi dito por acaso, tudo foi pensado e calculado. O impacto das suas palavras não é fruto do improviso, mas de uma visão clara do que está errado.
Quem avisa, amigo é. Vocês que estão próximos de João Lourenço devem aconselhá-lo. A continuar assim, sairá por baixo. Nunca beneficiei nada com João Lourenço, mas não gostaria que ele saísse por baixo.