Eu, no singular, fui parido neste chão. Num chão local. Identitário. Gerado do amor cruzado de dois reinos (micro nações) fortes e vigorosos: Kongo (mãe) e Tchokwe (pai), com as secundinas a serem, imaterialmente, depositadas no reino Ovimbundu.
Por William Tonet
Nas veias dos progenitores corr(e)ia, o legado da resistência dos antepassados contra o jugo colonial português, que pela nau de Diogo Cão, não se sabe se acompanhado de alguma cadela, desembarcou, não em Angola, mas no Reino do Kongo, no porto de Pindi.
Fê-lo em nome de uma paz, entre o Reino de Portugal e o do Kongo, numa mediação que contou com a intervenção do Vaticano…
Esta história foi-me passada pelos pais, exímios “alunos” da história, língua, cultura dos seus reinos e, professores orgulhosos, na transmissão de conhecimentos aos ascendentes para estes não deixarem sucumbir o legado.
Mantenho, a eles, fidelidade plena. Isto porque, os Reinos e Micro-Nações, maioritariamente, Bantu tinham (e têm) uma base educacional sólida, no domínio das finanças, matemática, filosofia, sociologia, diplomacia e arte militar, que lhes permitia resistir às invasões e, também, negociar com adversários e inimigos…
A valência da diplomacia do Reino do Kongo permitiu, instalar o seu Ministério das Finanças numa parte importante do Reino do Dongo, na orla marítima entre a Ilha de Luanda até a Curva da Pedra da Barra (vulgo São Pedro da Barra).
O motor diplomático do Reino do Kongo consistia sempre em afastar, o machado de guerra, pese o poderio bélico, principalmente, quando os inimigos ou adversários, tivessem laços de irmandade, cultura e tradições próximas.
Daí a cultura da PAZ e anti belicismo, calcorrear a geografia mental dos povos dos nossos Reinos, que se dedicam maioritariamente, ao comércio, agricultura, religião e ciências exactas.
Nos diferendos nas “Polis”, a resolução da “lead” assenta na visão do direito tradicional democrático, para no princípio da ampla defesa e justo processo legal, o arguido poder defender-se diante do Tribunal Tradicional e juízes populares, que buscam, na maioria das vezes, a aplicação da justiça, como fim maior do direito nas comunidades e o alcance da conciliação e reconciliação.
É o império da PAZ social!
Por esta razão me orgulho da filosofia e filósofos angolanos dos interiores, de quem aprendo, todos os dias, o princípio da tolerância, o valor dos símbolos, das letras e das constelações cósmicas, onde as estrelas, todas as noites, tocam estrofes de liberdade e soberania plena.
A PAZ é um símbolo, raramente, traído na maioria das “Polis-angolanas”, onde os monarcas tradicionais ensinam, os meninos, de muito cedo, a respeitar os valores, os mais velhos, a língua e a cultura.
Um beijo à mamã (mulher), um beijo ao papá (homem), somam uma oração diária aos nossos, no “quantum” da vida e das coisas, por a educação ser o vigor da nossa independência imaterial.
É deprimente, hoje, assistir dirigentes do MPLA, há 50 anos no poder, vergados, exclusivamente, ao direito positivo ocidental, afastando-se, complexadamente, das origens: tribos, reinos, culturas e línguas umbilicais.
Nos últimos oito (8) anos , nunca se assistiu como agora, a entrega da soberania económica a especuladores ocidentais, chineses (cada vez mais com o controlo de terras raras), brasileiros e fundamentalistas islâmicos, num pacto abjecto com a nova colonização.
Por esta razão a PAZ real e verdadeira, que não exclui os outros, não faz parte do dicionário dos dirigentes do regime, que abocanham para si todos elementos de heroicidade, quando se sabe da cumplicidade de muita da sua elite com a PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado-Portugal) e os comunistas portugueses, que lhes entregaram o poder (1975), isento de escrutínio eleitoral, como vaticinava o Acordo de Alvor.
O MPLA, tendo naquela altura, assassinado a liberdade e a democracia, com a proclamação da “Partidocracia Popular de Angola”, nunca mais se comprometeu com os valores da transparência, igualdade, equidade, para com
a maioria dos 20 milhões de pobres e 75% de autóctones (que não falam português), muitos expressamente excluídos da constituição, tal como Holden Roberto e Jonas Savimbi das condecorações dos 50 anos da independência, que se confirma do MPLA, que vai gastar “criminosamente” 20 milhões de dólares para comprar bandeiras, enquanto vai a comunidade internacional pedir um financiamento de 3 milhões de dólares, para combater a cólera…
Definitivamente, esta gente quer manter a corrupção, a GUERA e nunca a PAZ!