A Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) anunciou hoje a suspensão da rota Maputo – Lisboa a partir de quarta-feira, avançando que, desde 2023, a empresa acumulou prejuízos de mais de 21 milhões de dólares (20 milhões de euros) devido à operação.
Alfredo Cossa, porta-voz da LAM, em conferência de imprensa, em Maputo, disse que “enquanto a casa não estiver organizada e continuarmos a ter irregularidades nos voos domésticos, não podemos voar grande”.
Abandonada pela companhia por quase 12 anos, a rota Maputo-Lisboa foi retomada em 20 de Novembro de 2023 e fazia parte do plano de revitalização da operadora, depois de a empresa sul-africana Fly Modern Ark (FMA) ter entrado na gestão da LAM em Abril daquele mesmo ano para um processo de reestruturação.
O Boeing 777 de 302 lugares, resultante de uma parceria com a operadora portuguesa EuroAtlantic, ligava as duas capitais três vezes por semana, com preços promocionais a partir de 25 mil meticais (368 euros) na classe económica.
Segundo o porta-voz da LAM, o novo Conselho de Administração da empresa concluiu que a operação, que deixou um prejuízo de 21 milhões de dólares, era inviável.
“Nós alimentávamos essa rota com base em fundos do mercado doméstico. Produzíamos e pagávamos, tendo chegado a este momento que já não estamos a aguentar”, acrescentou Alfredo Cossa, acrescentando que há pelo menos 1.080 passageiros que já tinham adquirido bilhetes e que vão viajar com outras companhias que fazem a ligação, no âmbito dos acordos que a empresa tem com outras operadoras.
Além da rota Maputo-Lisboa, a LAM também suspendeu a ligação entre a capital moçambicana e Harare, no Zimbabué, e Lusaka, na Zâmbia, descritas também como insustentáveis.
“Depois de arrumarmos a casa e consolidarmos a nossa posição, vamos perspectivar o intercontinental e o regional”, acrescentou o porta-voz da LAM.
Há vários anos que a LAM enfrenta problemas operacionais relacionados com uma frota reduzida e falta de investimentos, com registo de alguns incidentes, não fatais, associados por especialistas à deficiente manutenção das aeronaves.
Em 23 de Janeiro, a autoridade reguladora da aviação confirmou que Moçambique devolveu à Indonésia o avião cargueiro Boeing 737-300 após um ano sem operar, devido à falta de certificação nacional e do reconhecimento das modificações da aeronave pelo fabricante.
Um dia antes, a LAM tinha anunciado a escolha de Marcelino Gildo Alberto para presidente do Conselho de Administração, a terceira nomeação para liderar a companhia aérea em menos de um ano.
Trata-se do terceiro novo líder executivo em praticamente 11 meses, substituindo Américo Muchanga, que, por sua vez, tinha rendido Theunis Crous, da Fly Modern Ark (FMA), empresa sul-africana contratada para recuperar a LAM.
Durante o período de gestão da FMA, a empresa sul-africana denunciou esquemas de desvio de dinheiro na LAM, com prejuízos de quase três milhões de euros, em lojas de venda de bilhetes, através de máquinas dos terminais de pagamento automático (TPA/POS) que não são da companhia.
O Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC) de Moçambique instaurou um processo para investigar alegados esquemas de corrupção na venda de bilhetes da transportadora aérea moçambicana e sobre a gestão da frota da companhia, tendo apreendido diversos materiais.
Em 4 de Fevereiro deste ano, o Governo autorizou a venda de 91%, para empresas estatais, da participação do Estado na LAM, indicando que o valor vai ser usado para aquisição de oito aeronaves.
A resolução aprovada determina que apenas três empresas estatais – a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), os Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e a Empresa Moçambicana de Seguros (Emose) – podem adquirir a participação do Estado na LAM.
“Com o valor arrecadado, no valor estimado em 130 milhões de dólares (125 milhões de euros), pretende-se investir na aquisição de oito aeronaves e reestruturação da empresa”, disse, na altura, o porta-voz do Governo, Inocêncio Impissa.