É importante notar que a afirmação de que a FLEC não representa nenhum perigo para Angola está sujeita a interpretação e depende do contexto em que o incompetente presidente João Lourenço fez tais afirmações. Sem emoção e em toda a objectividade, entendo essa afirmação de várias maneiras, visto que nós mesmos, os Cabindas, como dirigentes e como povo, fizemos tudo para tornar a FLEC inoperante.
Por Osvaldo Franque Buela (*)
Há anos, esquecemos a essência vital, os objectivos e os sacrifícios consentidos, sacrifícios para os quais a FLEC nasceu, e por que deveria existir a todo custo. Sempre digo isso desde que mudamos a nossa solidariedade em egoísmo, o altruísmo na corrida ao poder, e a arrogância no lugar da humildade, neste caso como pode a FLEC representar um perigo para o regime de Luanda que hoje está sentado sobre todos os símbolos culturais e recursos da identidade Cabindesa?
Não adianta fazer discursos de indignação tingidos de emoções, o que fizemos com a FLEC no plano militar? Não estou a acusar ninguém, mas os responsáveis políticos militares da FLEC sabem bem disso, e a resposta é incontornável se nos perguntarmos por que razão as acções armadas da FLEC diminuíram consideravelmente em intensidade e frequência nos últimos anos? O movimento parece ter perdido grande parte da sua capacidade operacional e já não representa uma séria ameaça militar para Angola.
Não sou apologista da guerra como João Lourenço que só entende a lógica da guerra e acredita que para se sentir em perigo a FLEC tem de se tornar como o M23 e semear o terror num canto do país, ele que, segundo as suas próprias palavras, propôs a Felix Tchisekedi dialogar com o M23 recusando-se ele mesmo há anos a dialogar com a FLEC.
A FLEC que temos hoje, por nossa culpa, não parece mais ter um apoio popular massivo na população de Cabinda devido às nossas divisões estéreis e improdutivas. A sua influência é limitada e já não representa uma força capaz de mobilizar uma grande parte da população contra o governo angolano do MPLA. Eu gostaria de dizer aqui ao incompetente João Lourenço que o perigo que ele teme para o seu regime não virá pelas armas mas pode ser pela crescente miséria, pelo o roubo, pela a pilhagem e pobreza aguda que ele se diverte com abuso de poder, plantar em todo o país.
Politicamente, conseguimos fazer de FLEC um movimento dividido, com diferentes facções rivais. A sua falta de coerência e liderança enfraquece a sua credibilidade e capacidade de influenciar o cenário político.
No campo diplomático, a FLEC não tem apoio internacional significativo. A maioria dos países reconhece a integridade territorial de Angola e não apoia as reivindicações independentistas da FLEC, digam-me, como um movimento tão dividido pode constituir um perigo para os seus inimigos?
No plano económico, ao contrário do M23 que parece seduzir João Lourenço pela violência dos seus crimes e com quem poderá fazer aliança amanhã contra os cabindas, a FLEC sofre da ausência de controlo dos recursos do seu território porque não controla nenhum recurso económico importante. A sua influência na exploração petrolífera, principal riqueza da região, é nula e inapelável, o que torna a nossa população totalmente dependente e prisioneira do poder angolano e limita o apelo a uma ruptura com o poder central.
No entanto, acredito que é crucial minimizar as afirmações do incompetente presidente João Lourenço lembrando-lhe que mesmo enfraquecida, a FLEC continua a reivindicar a autodeterminação de Cabinda, continuando a realizar de vez em quando acções simbólicas para manter a chama da sua luta. O regime angolano nunca deve esquecer que factores como a frustração, falta de desenvolvimento, desigualdades sociais e tensões políticas podem reavivar o movimento e dar-lhe uma nova dinâmica.
Se as reivindicações das populações cabindesas não forem atendidas, o risco de radicalização de uma parte da população não pode ser excluído.
Afirmar desde o exterior do pais que a FLEC não representa perigo para Angola é uma visão simplista e potencialmente perigosa, e permite aos observadores avisados compreender que a FLEC existe de facto contrariamente ao que sempre negou.
Se o movimento não constitui mais uma ameaça militar ou política importante a curto prazo, não deve subestimar-se seu potencial de dano a longo prazo. É essencial levar em conta as reivindicações das populações cabindesas e encontrar soluções políticas para garantir a estabilidade e o desenvolvimento da região.
Que Deus abençoe a Cabinda e dê a Angola homens e mulheres dignos de merecer a confiança deste povo em lugar dos ladrões e oportunistas presentes…