A empresária angolana Filomena Oliveira considerou hoje que a importação de miudezas, de partes de aves, bovinos e suínos no país reflecte “falta de dignidade humana”, referindo que esses produtos “não servem sequer de ração animal nos países exportadores”. Nem de comida para os cães dos donos do reino. Bem dizia o general Kundi Paihama: “se os porcos comem farelo e não morrem, os angolanos também podem comer”.
Filomena Oliveira, empresária do sector agrícola e vice-presidente da Associação Agro-pecuária Comercial e Industrial da Huíla (AAPCIL), aplaude a decisão do Governo de proibir a partir de 15 de Março a importação de miudezas, partes de aves, suínos e bovinos e defendeu a necessidade de as pessoas regressarem aos campos para cultivarem os respectivos produtos para o consumo.
As pessoas “não podem estar sentadas à espera que chegue um contentor para comer. Temos terras, saiamos das cidades e comecemos a plantar, criar galinhas, coelhos”, referiu, em declarações à margem do “worhshop” de lançamento da consulta pública para a elaboração da Estratégia Nacional de Reconversão dos Sistemas Agro-alimentares 2026-2035.
“Eu não sei porque é que temos de gastar divisas de que precisamos para importar equipamentos, para ir comprar aquilo que os outros não comem, nem sequer é bom para a ração animal deles, isto é uma falta de dignidade”, afirmou a empresária.
Filomena Oliveira defendeu que os cidadãos angolanos (e talvez até os governantes) “têm de deixar de ter uma mentalidade de pobre, de miséria” e devem utilizar o seu tempo e inteligência para “imprimirem sementes que façam com que as pessoas comecem a pensar positivamente”.
“Quanto mais reclamamos da fome e pobreza, mais pobres ficamos, temos de usar todo o nosso tempo a ensinar a promover soluções que tragam dignidade às nossas pessoas”, apontou.
O Ministério da Agricultura e Florestas, através do Instituto dos Serviços de Veterinária, comunicou, na primeira quinzena de Fevereiro, que serão proibidas importações de alguns produtos alimentares de origem animal, nomeadamente aves, suínos e bovinos.
No documento, dirigido aos “importadores de produtos e subprodutos de origem animal”, foi anunciado que “não serão emitidas licenças para importação de miudezas, partes de aves, suínos e bovinos”, a partir de determinadas datas.
Assim, a partir de 15 de Março não serão emitidas licenças para importar “miudezas, fígado, dobrada, rins, coração e pulmões de bovino”, bem como de “asas de peru, galinha, pato, moelas, coração, dorso, pescoço e fígado de aves”.
Numa segunda fase, em 31 de Julho, passará a ser proibida a importação de “pescoços de porco, rabinho e cabeça de bovino, coxas de galinha rija, coxinhas e coxas de peru”, indicou.
A empresária abordou também o desvio de fundos na Administração Geral Tributária (AGT) que está a ser investigado pelas autoridades e afirmou que esta foi a terceira vez, nos últimos oito anos, que a instituição regista situações do género.
“Isso decorre da falta de educação, da falta de ética nas famílias, decorre de nós estarmos a produzir filhos que são mimados, filhos que não querem trabalhar e, na primeira oportunidade, infelizmente muita da nossa juventude só anda a procura de onde pode ir mexer”, criticou.
Funcionários de topo da AGT, órgão tutelado pelo Ministério das Finanças, foram detidos recentemente por alegado envolvimento num esquema fraudulento de reembolsos de IVA envolvendo um desvio de 7 mil milhões de kwanzas (cerca de 7,3 milhões de euros).
Segundo a empresária, tal cenário na AGT era previsível e argumentou que “muitos na sociedade [angolana] usufruíram desse roubo” apontando a corrupção como um problema global.
“Mas a impunidade já não, nós somos um país onde a impunidade grassa, porque não exigimos a ética”, concluiu.
Uma coisa a que se convencionou chamar sistema político do MPLA não respeita minimamente as regras identitárias de uma democracia e de um Estado de Direito. É assim há 50 anos e, pelo andar da carruagem, assim será até o MPLA completar 100 anos de governação ininterrupta. Nada de preocupante. Só faltam 50 anos…
O Poder Executivo (Governo) é propriedade pessoal do general João Lourenço. E assim sendo, se é só dele só ele tem autoridade para fazer o que muito bem entender. O Estado é mesmo ele. Tudo o resto são devaneios de somenos importância.
Em Setembro de 2017, quando o Presidente da República (não nominalmente eleito) foi investido nas funções de dono disto tudo, João Lourenço gozou à grande e à francesa com a nossa chipala. Quase todos acreditaram que ele iria, finalmente, transformar Angola num país. Ledo engano. Da “meia dúzia” passamos para “seis”. Mais uma vez, tudo normal.
Como dizem os portugueses, bem conhecedores do que é viver em ditadura, “com papas e bolos se enganam os tolos”. É um ditado popular usado para dizer que pessoas ingénuas (ou tolas) podem ser facilmente enganadas com coisas simples, especialmente se algo aparenta ser agradável ou vantajoso, mas na realidade não é. É uma maneira de destacar a importância de não confiar cegamente em aparências e de ser cauteloso ao tomar decisões.
O general João Lourenço apresentou a sua ementa de papas e bolos: Tornar a justiça célere e independente, fortalecer a democracia e consolidar o Estado de Direito, assegurar educação de qualidade, reduzir as importações, diversificar a economia, criar 500 mil empregos, fazer baixar os preços, implementar as autarquias locais em 2020, reduzir a criminalidade, erradicar a fome e a pobreza.
Mentiu, deliberadamente, com quantos dentes tinha. Apesar disso, continua a dizer que o povo é que está a ver o problema ao contrário, que está a confundir a obra-prima do mestre (ele) com a prima do mestre de obras, ao ponto de em vez de dizer que a situação é um “saralho do carilho” diz que é um “sarilho do caralho”.
O general João Lourenço sabe, por exemplo, que perdeu a luta pelo controlo da inflação, que a instabilidade no mercado cambial é arrasadora, que a dívida pública é assustadora, que a produção nacional está a furar o fundo. Mas, com a sua habilidade de perito dos peritos, explica que o Povo não quer saber disso para nada porque, como dizia o célebre general Kundi Paihama, “se os porcos comem farelo e não morrem, os angolanos também podem comer”.
E não adianta, embora seja verdade, dizer o que a UNITA teima em dizer. Coisas do tipo: «Tanto o Estado como a imprensa pública estão capturados pela oligarquia que governa o País e controla a economia. Foram constituídos cartéis de importação dos derivados do petróleo que bloqueiam a diversificação da economia, impedem a construção de refinarias com capacidade para abastecer o mercado nacional, regional e internacional. Multiplicam-se os atentados notórios contra o Estado Democrático de Direito e contra o regular funcionamento das suas instituições. As pessoas estão com fome, desempregadas e desesperadas. A classe média que florescia em 2017 está a desaparecer. Angola tem um enorme potencial de recursos naturais, que – bem geridos – permitiriam que a média dos salários fosse de 1.000,00 (mil) dólares.»
E o Povo começa a pensar que, enquanto come farelo, os dirigentes, deputados e similares da UNITA, comem trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas e umas garrafas de Château-Grillet…
Já lá vai o tempo em que (como se lembrarão certamente os generais Lukamba Gato e Kamalata Numa) a malta do Galo Negro preferia ser livre de barriga vazia do que escravo com ela cheia. E, das duas uma, aos angolanos restam duas opções, engrossarem o exército dos que têm razão mas não têm força, ou o dos que não têm razão mas têm força.
Os “médicos” da UNITA fazem o diagnóstico, recorrendo ou não a exames complementares, e dizem que epidemia “generalizada só poderá ser superada com uma mudança do regime político que acabe com o sistema oligárquico de governação do País e promova a consequente despartidarização do Estado, da economia e da sociedade”.
Perante o diagnóstico, os doentes perguntam, esperando a receita, e agora? Os “médicos” da UNITA respondem: não há remédios, por isso vão embora e continuem a aprender a viver sem comer. E quando o doente sai do consultório, viram-se uns para os outros e dizem: Vamos jantar!
Reconhecemos que o diagnóstico da UNITA está certo. Mas não basta. É preciso curar os doentes e tomar medidas profilácticas. É verdade que “nunca o País teve tanta adjudicação directa de contratos sem qualquer concorrência! Nunca a gestão orçamental do País testemunhou a autorização de tantos créditos adicionais para aumentar a despesa pública não orçamentada, como agora! Nunca o País teve níveis insustentáveis de endividamento público como agora! Nunca os investidores estiveram tão hesitantes e confusos como agora! Nunca os angolanos estiveram tão desesperados e tão temerosos quanto ao futuro como agora! Nunca a fome, a pobreza e a miséria foram tão dolorosas e absolutas como agora! Nunca as execuções sumárias foram tantas como nos últimos 6 anos!”
“Temos de mudar e a hora é agora!”, diz recorrentemente a UNITA. Sendo verdade, pergunta-se: Até que ponto está a UNITA disposta a ser o motor efectivo, passando das palavras aos actos, deixando (ou repartindo com quem precisa) as mordomias inerentes à lagosta e sentando-se na pedra a comer mandioca?