Na nobre luta pela libertação de Cabinda que travamos há já 50 anos, o conjunto de palavras ou grandes obstáculos que minam todos os esforços que cada um de nós faz e que estão acima de tudo, são as divisões, as desconfianças, as divergências etc. e muitos pensam que é através da unidade na diversidade que venceremos sem perceber que é crucial quebrar essas divergências e avançar juntos, por um só e ÚNICO objectivo.
Por Osvaldo Franque Buela (*)
Já escrevi aqui que a unidade na diversidade é uma farsa numa luta como a nossa se o objectivo é alcançar a autodeterminação, e é somente num território livre e democrático (o que não é o caso de Cabinda) que podemos falar de unidade na diversidade. e sobre isso não faltam exemplos ao nosso redor, porque sem deixar de lado todas as nossas diferenças, como poderíamos alcançar esse objectivo único?
Quando falamos do Saara Ocidental em comparação com o nosso caso específico de Cabinda, tenhamos sempre a honestidade intelectual de reconhecer que se este povo é ouvido em todo o lado e conduz uma diplomacia eficaz, que lhe abriu certas portas e lhe deu uma certa credibilidade, é porque o povo saharaui do interior e a sua discreta diáspora se reconhecem num único movimento de luta de libertação. Será este o nosso caso?
Somos tão inteligentes que nunca conseguimos fazer do nosso principal movimento de luta de libertação uma frente comum e unificadora dos filhos e filhas do interior e da diáspora, mas, pelo contrário, transformamos a FLEC em micro movimentos e associações políticas de natureza familiar, regional, étnica e até tribal, num pequeno território onde quase todas as famílias se conhecem e se odeiam ao mesmo tempo, numa total hipocrisia política, para grande benefício do MPLA e dos angolanos que aproveitam de todos os nossos recursos.
Absolutamente! É não só importante, mas absolutamente um dever patriótico e essencial unir-nos e banir o desacordo e as divisões inúteis de ódio entre os Cabindas da diáspora e os do interior. Esta é uma condição “sine qua non” para avançarmos juntos em direcção a soluções duradouras, e a um futuro digno para Cabinda.
Só um povo unido, seja no interior ou na diáspora, terá uma voz muito mais forte e influente na cena nacional e internacional, não há outros milagres, nem orações para alcançar e materializar esta equação política.
É por isso que é fácil ver que um país como a Namíbia, que conquistou sua independência com um único movimento, a Swapo não teve problemas em implementar uma democracia multipartidária, em comparação com países como Angola e Moçambique que tiveram dois ou três movimentos de luta, que até hoje têm dificuldade de viver juntos na diversidade, anos depois da independência e cujos adeptos se massacram a cada eleição… esses países têm militantes no lugar de um povo que deveria estar unido por um objectivo de desenvolvimento e do bem estar.
A unidade é a única coisa que nos permitirá fortalecer a solidariedade e o apoio mútuo entre nós, quer estejamos a enfrentar dificuldades dentro do território ou desafios relacionados com o exílio e a integração na diáspora, seremos sempre fortes.
Se os Cabindeses na diáspora adquirem experiências e conhecimentos diferentes, enquanto os do interior vivenciam directamente as realidades reais no terreno, esta união necessária permite que essas experiências sejam partilhadas para encontrar soluções mais adequadas e eficazes para o objectivo comum.
Caros irmãos, a unidade ajudar-nos-á a construir uma visão comum para o futuro de Cabinda, porque será do nosso interesse defender as aspirações e necessidades de todos, porque uma comunidade unida é percebida como mais legítima e representativa por actores externos, governos, organizações internacionais, etc., o que facilita a advocacia e a procura de soluções diplomáticas.
A unidade ajuda a quebrar o isolamento e a desconfiança que podem existir entre os dois grupos, muitas vezes alimentados por distâncias geográficas, informações diferentes ou experiências vividas de forma diferente.
As divisões e o ódio já prejudicaram muito a imagem de Cabinda e continuam a dificultar a obtenção de apoio e solidariedade da comunidade internacional. Por isso, devemos trabalhar mais na memória colectiva dos nossos mais velhos e na cura das feridas do passado, apoiando as iniciativas dos líderes que trabalham pela unidade e pela reconciliação.
A unidade e a eliminação do ódio entre o interior e a diáspora são pilares fundamentais para a construção de um futuro melhor e mais justo para Cabinda. É uma tarefa de longo prazo que exige o empenho de todos, mas cujos benefícios serão inestimáveis no plano diplomático.
UNIÃO, UMA FORÇA PARA A DIPLOMACIA?
Sim, uma voz unificada será muito mais poderosa e credível no cenário nacional e internacional para pleitear e defender a causa de Cabinda.
É importante enfatizar que a diplomacia internacional é um processo de longo prazo que requer paciência, perseverança e uma abordagem estratégica. Portanto, uma colaboração próxima entre a diáspora e os atores internos é essencial para maximizar o impacto das acções e fazer com que a voz de Cabinda seja ouvida no cenário internacional.
A união da diáspora e do interior é extremamente eficaz para a diplomacia de Cabinda; diria mesmo que constitui um trunfo importante e indispensável para conduzir uma diplomacia bem-sucedida e promover os interesses do território na cena internacional.
Quando a diáspora e os actores internos puderem falar a uma só voz, a nossa mensagem será percebida como mais representativa da nossa população no seu todo, aumentando assim a nossa legitimidade aos olhos da comunidade internacional, especialmente neste momento em que o nosso opressor número um ocupa a cadeira de presidente da União Africana.
Uma diplomacia unificada evita as mensagens contraditórias que podem enfraquecer a causa e semear confusão nos interlocutores internacionais, porque muitas vezes a diáspora pode dispor de redes e abrir contatos internacionais variados, governos, organizações, meios de comunicação, etc., que os agentes do interior podem alimentar através de acções no terreno, informações de primeira mão e testemunhos autênticos para apoiar argumentos diplomáticos, esta união facilita a mobilização destas redes ao serviço da diplomacia.
Esta é uma das razões pelas quais sempre defendo esta união, porque uma posição unificada só pode potencialmente facilitar um diálogo construtivo com um governo angolano de boa-fé, porque apaga a tese do interlocutor viável que o MPLA sempre brande, é uma estratégia viável.
Em suma, a união entre a diáspora e o interior é um pilar fundamental para uma diplomacia eficaz dos objectivos de Cabinda, ela fortalece a legitimidade, amplifica a influência, melhora a credibilidade e a eficácia das acções, ao mesmo tempo que permite que os interesses e aspirações da população cabindesa sejam melhor representados no cenário internacional.
Este é um investimento essencial para o futuro do território e para a busca de soluções pacíficas e duradouras.
Que Deus abençoe Cabinda