Adalberto da Costa Júnior, líder da UNITA (o maior partido da oposição que por enquanto o MPLA ainda permite que exista), considerou hoje que Angola “fez a pior figura” ao impedir a entrada de participantes estrangeiros numa conferência internacional sobre democracia, salientando que o Presidente angolano (por inerência devido a ser Presidente do MPLA), general João Lourenço, tem “maus conselheiros”. Por sua vez Venâncio Mondlane considera a rejeição da sua entrada em Angola uma “vergonha pública”. Em síntese, o MPLA no seu melhor…
Na quinta-feira, os ex-Presidentes do Botsuana, Ian Khama, e da Colômbia, Andrés Pastrana, o político moçambicano Venâncio Mondlane e outros dirigentes de partidos africanos ficaram retidos várias horas no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, tendo alguns deles sido impedidos de entrar, sem que tenham sido, até ao momento, prestadas informações sobre o incidente por parte das autoridades angolanas.
Adalberto da Costa Júnior, em declarações à imprensa sobre o ocorrido quinta-feira em Luanda, disse que a conferência co-organizada com a fundação Brenthurst, em colaboração com a fundação Konrad Adenauer e o World Liberty Congress, tem como primeiro tema a “batalha entre a democracia e a autocracia” e considerou que o sucedido foi uma forma de o Governo angolano oferecer, “de forma gratuita, uma publicidade para todo o mundo daquilo que é a (…) realidade” angolana.
Segundo o líder da UNITA, os cerca de 50 participantes estrangeiros foram convidados pelas organizações, tendo o partido sido responsável por trazer para Angola a realização deste evento, depois de ter participado nas duas iniciativas anteriores, que tiveram lugar na Polónia e na África do Sul.
“O que acontece é que a resposta está dada para todos, nós não somos uma democracia, nós somos uma autocracia extrema e penso que os maus conselheiros de João Lourenço estão a fazer com que ele hoje tenha uma péssima imagem enquanto líder da União Africana”, afirmou.
O presidente da UNITA disse que cumpriu o seu papel, comunicando a chegada dos convidados à Presidência da República e ao Governo.
“Eu cumpri o meu papel, eu falei com a Presidência da República durante o dia, partilhei com os assessores principais do Presidente da República, o que estava a passar, por isso não podem dizer que não sabiam”, declarou, acrescentando que teve como interlocutores os ministros do Interior, da Presidência e das Relações Exteriores, para além dos “chefões do partido”.
“Penso que as pessoas que fizeram isso não devem ter cultura política, cultura mínima diplomática, não devem saber o que são relações internacionais”, acrescentou.
Para o líder da UNITA, “o presidente da União Africana violou os protocolos da organização” e “Angola fez a pior figura que podia fazer” porque deteve “ex-Presidentes da República, recusou direitos protocolares, recusou a sala de protocolo de Estado a ex-primeiro ministros, a deputados, a ex-Presidentes, a vice-Presidente da República em funções, fez devolver aos países de origem senadores de vários países, nomeadamente senadores do Quénia, com visto da embaixada de Angola”.
Segundo Adalberto da Costa Júnior, em Benguela estão presentes alguns convidados e cerca de 35 ficaram em Luanda, devendo participar remotamente na conferência.
Por sua vez o secretário para as Relações Exteriores da UNITA, Rafael Massanga Savimbi, disse que os convidados que conseguiram entrar quinta-feira deveriam ter embarcado na manhã de hoje para Benguela, mas no aeroporto foram informados que o voo foi adiado para as 18:00.
Rafael Massanga Savimbi disse que foram deportadas, na quinta-feira, 12 pessoas, entre as quais o político moçambicano Venâncio Mondlane, considerando que a agitação terá começado quando as autoridades migratórias “viram o número considerável de pessoas, todas para a mesma direcção e pela mesma razão”.
“Começou ali a agitação e seguramente quando terão visto o Venâncio”, avançou Rafael Savimbi, adiantando que entre os convidados estão personalidades de todo o mundo, na sua maioria africanos, membros da sociedade civil, presidentes de partidos, senadores, membros do parlamento, representantes de instituições académicas.
“Só de África são 18 países que estavam aqui representados, tem latino-americanos, tem dos EUA, tem asiáticos, tem europeus, é uma partilha sobre democracia e desenvolvimento, agora veja que imagem cada um deles leva para os seus países quando regressar”, apontou.
A UNITA associou-se à conferência para “juntar o útil ao agradável” fazendo coincidir com o 13 de Março, data da fundação do partido, acrescentou.
UMA “VERGONHA PÚBLICA” DIZ VENÂNCIO MONDLANE
O político moçambicano Venâncio Mondlane considerou hoje que a rejeição da sua entrada em Angola na quinta-feira é uma “vergonha pública” e uma violação da lei, defendendo um processo contra o Estado angolano.
“Aqui está estabelecido algo perigoso e negativo para imagem de Angola em África e no mundo”, disse Mondlane, num directo na sua página da rede social Facebook, a partir de Maputo.
Em causa está a retenção, por horas, no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro de vários convidados internacionais que se deslocaram a Angola, entre os quais o ex-Presidente do Botsuana Ian Khama e o ex-Presidente da Colômbia Andrés Pastrana, além do próprio Mondlane, este último que acabou sendo obrigado a abandonar o país.
De acordo com Mondlane, os serviços de migração de Angola (um reino que é propriedade privada, há 50 anos, do MPLA) alegaram que a sua entrada tinha sido recusada, sem respeitar os procedimentos e a lei neste tipo de situações, com destaque para a apresentação do motivo da decisão.
“Nós nem sequer fomos deportados, não houve procedimentos dentro da lei que preenchessem os requisitos para que fôssemos deportados. Aquilo foi uma irregularidade ao mais alto nível. Nada foi feito segundo a lei”, declarou Venâncio Mondlane.
Venâncio Mondlane defende um processo contra o Estado angolano, acusando-o de violar os protocolos da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e da União Africana.
“O dia 13 de Março devia ser considerado o dia da vergonha pública em Angola”, acrescentou Venâncio Mondlane, avançando que a decisão de retenção da delegação veio do Ministério do Interior angolano, embora a delegação não tenha sido oficialmente informada.
O político moçambicano considera que é uma vergonha que o incidente tenha ocorrido justamente no país que assume a presidência da União Africana.
“Recomendo à UNITA, à delegação que lá esteve e às organizações alternativas da SADC e da União Africana a processarem o Estado angolano”, acrescentou Venâncio Mondlane.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) de Moçambique tem instaurados processos contra Venâncio Mondlane, acusando o político, sobretudo, de incitação à violência nas manifestações pós-eleitorais que marcaram o país nos últimos meses.
Na terça-feira, Venâncio Mondlane, que lidera a maior contestação aos resultados eleitorais que o país conheceu desde as primeiras eleições multipartidárias (1994), foi ouvido na PGR sobre um dos oito processos em que é visado no âmbito dos protestos e agitação social pós-eleitoral em Moçambique.
O Ministério Público de Moçambique aplicou a medida de Termo de Identidade e Residência a Venâncio Mondlane, que, durante o seu directo, disse que comunicou ao Ministério Público sobre a sua saída para Angola.
Horas após a retenção da delegação, foi permitida a entrada dos ex-Presidentes da Colômbia Andrés Pastrana e do Botsuana Ian Khama, mas este último decidiu abandonar o país depois da “humilhação”.
“O que aconteceu hoje foi um grande choque para mim. A última vez que estive em Luanda foi a convite do próprio Presidente, João Lourenço. (…) Então o que aconteceu é algo que eu nunca esperei”, declarou Ian Khama, antes de anunciar aos organizadores do evento que estava a abandonar o país.