«Ao romper do dia 13 de Março de 1966, na localidade de Muangai, na Província do Moxico, ecoava o grito Kwacha que significa Desperta», afirma hoje o Presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior (ACJ).
Vejamos integralmente o texto de ACJ: «Deram voz ao grito KWACHA: Jonas Malheiro Savimbi, José Samuel Chiwale, Samuel Piedoso Chingunji “Kapessi Kafundanga”, David Jonatão Chingunji “Samwimbila”, Samuel Chivala Muanangola; José Sachilombo, Jacob Inácio, Jeremias Kussia Chinhundu, Nicolau Chiyuka Bianco, Mateus Mbanda, Paulino Moisés e José Kalundungu, um naipe de patriotas destemidos, liderados por Jonas Malheiro Savimbi, eleito Presidente da UNITA pelos delegados ao Congresso Constitutivo ocorrido naquele dia e local.
Estes bravos filhos de Angola levantaram-se pelo Projecto de Muangai que tem os seus fundamentos nos seguintes valores: Patriotismo, Liberdade, Democracia, Direitos Humanos, Solidariedade e Justiça Social, a subordinação da política à Ética.
Muangai é o culminar de todo um esforço de teorização da matriz filosófica, organizativa e programática, iniciado em Champaix, na Suíça desde 1965 por Jonas Malheiro Savimbi, passando por Nankim e Pequim na China, Dar-Es-Salam na Tanzânia, Ndola e Lusaka na Zâmbia. É o Projecto de Sociedade para Angola traçado pela UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), apresentado aos angolanos desde aquele longínquo dia e que articula-se como segue:
1- Liberdade e Independência Total para os Homens e para a Pátria Mãe:
2- Democracia assegurada pelo voto do povo através de vários partidos políticos;
3- Soberania expressa e impregnada na vontade do povo de ter amigos e aliados, primando sempre pelos interesses dos angolanos;
4- Igualdade de todos os angolanos na Pátria de seu nascimento;
5- Na busca de soluções económicas, priorizar o campo para beneficiar a cidade.
A UNITA nasce no interior do País, sob o signo da unidade de todas as forças sociais para a realização plena do angolano.
A UNITA é co-autora decisiva, activa e dinâmica das transformações históricas mais relevantes de Angola:
a) Desde 13 de Março de 1966 participa qualitativamente na luta anticolonial;
b) De 1974 a 1975 é partícipe indirecto no derrube do colonialismo a 25 de Abril de 1974 e empenha-se na criação de condições que culminaram no Acordo de Alvor, que contém a transição para a Independência Nacional marcada para 11 de Novembro de 1975;
c) De 1976 a 1991 Dirige a Luta de Resistência pela Democracia, enfrentando exércitos mais numerosos e melhor equipados; luta que tem por desfecho a assinatura dos Acordos de Bicesse que consagraram Angola como Estado Democrático de Direito e de Economia de Mercado;
d) Em 1994, a UNITA assina com o Governo de Angola o Protocolo de Lusaka, que põe cobro à guerra pós-eleitoral de 1992;
e) Em 2002 assina o Memorando de Entendimento do Luena com o Governo de Angola, o qual se constitui na base da paz militar que o País vive desde então.»
O candengue vai mesmo cumprir Muangai?
A este propósito, reproduzimos “ipsis verbis” um texto publicado aqui no Folha 8 no dia 14 de Março de 2020:
«Adalberto da Costa Júnior, presidente da UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista em Angola, afirmou hoje que a democracia só se concretiza com a alternância partidária e reafirmou que o seu partido quer ser alternativa aos “marimbondos” do MPLA, que acusou de “roubar” fortunas. Esteja onde estiver, Jonas Savimbi deve estar orgulhoso. Parece que o Galo Negro vai (mesmo) voar.
“Vamos ser poder”, disse o líder da UNITA aos militantes do partido que se concentraram no Sumbe, capital da província do Cuanza Sul para assinalarem os 54 anos da fundação do partido. O acto aconteceu um dia depois de o grupo parlamentar da UNITA, concluir, na mesma cidade, as suas IX Jornadas Parlamentares.
Adalberto da Costa Júnior disse que a democracia, a liberdade e o multipartidarismo foram – e assim foi de facto, por muito que isso custe ao MPLA – “fruto da luta da UNITA” e realçou que um Estado democrático só se assume com a alternância no poder político.
“Um país que tem um partido que governa há mais de 40 anos sem alternância não é uma democracia”, criticou, afirmando que é chegada a altura de fazer balanços. Adalberto da Costa Júnior assinalou que o país “teve acesso a bens extraordinários” desde a paz entre os dois grupos beligerantes, MPLA e UNITA, que foi assinada em 2002, tendo sido roubadas “autênticas fortunas” pelos “marimbondos do “bureau” político do MPLA”.
“Querem-nos meter na cabeça que quem roubou já está em Barcelona [onde mora o antigo Presidente José Eduardo dos Santos] e que quem ficou não roubou nada”, ironizou.
Reclamando para a UNITA a bandeira do combate à corrupção, que o actual Presidente (não nominalmente eleito e escolhido pessoalmente por José Eduardo dos Santos), João Lourenço, elegeu como suposta prioridade, Adalberto da Costa Júnior considerou que o que se está a fazer não passa de marketing.
“Este repatriamento de capitais que o MPLA aprovou na Assembleia, onde quem roubou traz para o seu próprio bolso e não divide nada com o Estado, isso não é combate à corrupção, isso chama-se lavagem de dinheiro”, frisou. Por isso, diz o presidente da UNITA, “é tempo de dizer basta”.
“Angola tem uma dívida pública enorme que é mais pequena do que a fortuna de meia dúzia de senhores que estão sentados no bureau político e são donos disto tudo, são donos do país”, criticou o dirigente, dizendo que não houve partilha de benefícios na Angola dos tempos de paz.
Deu como exemplo a cidade do Sumbe, “cheia de poeira” e as condições degradantes em que (sobre)vive a população, dizendo que é importante a UNITA fazer trabalho nas províncias, pois “correm a fazer obras”.
Adalberto da Costa Júnior falou ainda sobre as autarquias, relatando o que encontrou durante a sua viagem recente a Cabo Verde, onde “realizaram uma obra grandiosa” com instituições maduras e em que “o Estado não está tomado pelos partidos”, havendo eleições com transparência e alternância no poder.
“Pobres somos nós, comparados com eles”, sublinhou Adalberto da Costa Júnior, parecendo querer demonstrar que, agora, a UNITA não será derrotada porque não deixará de lutar.
O líder da UNITA disse que em Angola não é possível ter alternância com as actuais leis, voltando a visar a Comissão Nacional Eleitoral (CNE). “Enquanto tivermos uma CNE que tem uma maioria de membros de um partido político, as decisões que esta CNE toma não são as decisões do país. O nosso país precisa de reformas”, exortou.
Respondeu igualmente à abertura para o diálogo manifestada esta sexta-feira pelo presidente do MPLA e chefe do executivo angolano, João Lourenço, mostrando a mesma disponibilidade, no sentido de encontrar uma base para o funcionamento das instituições que as tornem viradas para o cidadão e não para os interesses partidários.
Insistiu igualmente na necessidade de realizar uma “opção que é de todos”, a de ter eleições autárquicas em 2020 em todos os municípios.
O comício aconteceu na marginal do Sumbe, depois de um desfile que mobilizou milhares de militantes da UNITA provenientes das diversas províncias para celebrar o 54.º aniversário do partido fundado por Jonas Savimbi a 13 de Março de 1966, em Muangai, na província do Moxico.
A comemoração juntou na tribuna, com o presidente do partido, dirigentes e figuras e proa do partido, incluindo o antecessor de Adalberto da Costa Júnior, Isaías Samakuva, ministros do “governo sombra” e os deputados do grupo parlamentar.
Adalberto da Costa Júnior recordou a história do partido, que teve origens na “longa noite colonial”, e chamou a dar o seu testemunho alguns dos “conjurados do 13 de Março”, antigos combatentes e generais destacados, entre os quais Paulo Lukamba Gato e Abílio Kamalata Numa.»