Se este regime de ocupação ou integração forçada de Cabinda ainda tem dias bons em Cabinda na prossecução da sua agenda política de repressão, assassinatos, intimidações, roubos e pilhagens, não é porque sejam fortes, mas sim porque nós, povo cabindense, falhamos em transformar as nossas aparentes fraquezas em força e em fazer desta integração forçada uma força de emancipação colectiva.
Por Osvaldo Franque Buela
A integração de Cabinda em Angola é um facto político que se concretizou, quer queiramos quer não, mas o que continua a surpreender-me, da nossa parte, é o que fazemos dela, como a vivenciamos, como nos podemos libertar e por que meios?
Cento e quarenta anos depois da assinatura do Tratado de Simulambuco, os pais fundadores desta luta souberam transmitir-nos esta fibra identitária pelos meios mais nobres para nos poderem libertar deste cativeiro luso-angolano que nos mantém prisioneiros nos laços do neocolonialismo angolano, mantendo viva na nossa memória a história que escreveram em letras de ouro para a preservação da nossa identidade, do nosso território e da nossa cultura.
Participámos nos debates de reflexão nas plataformas digitais sobre os 50 anos de ocupação, debatemos com os compatriotas, mas parece-me que foi um verdadeiro exercício de comunicação banhado num pouco de populismo e não de uma iniciativa congregacional de onde poderia surgir uma verdadeira onda de patriotismo, para não dizer de nacionalismo, do tipo que colocaria Cabinda na linha da frente dos nossos interesses, mas nada disso.
Viramos as costas ao essencial que deveria reger a nossa unidade nesta luta, sacrificamos o útil pela utilidade pessoal, o colectivo pelo individualismo, o altruísmo pelo egoísmo, a humildade pela arrogância, enfim… e tornamo-nos como brinquedos facilmente manipuláveis nas mãos dos incompetentes que nos colonizam, esses incompetentes que nos fizeram acreditar na semana passada que as pessoas podem carregar 60 toneladas de explosivos numa mochila para cometer atentados contra instituições angolanas.
As nossas acções políticas não só são dispersas pela multidão de grupos e movimentos, mas sobretudo minadas por divisões inúteis, estéreis e pela luta pelo poder, como se fôssemos partidos políticos de oposição numa democracia, esquecendo que somos, e devemos ser, um movimento libertação como foram o MPLA, a UNITA, a FNLA, sem realmente seguir ou copiar o seu modelo de luta que até hoje continua a arruinar Angola, porque seguindo o seu modelo arruinaremos o Cabinda de amanhã antes de o libertar… e creio que estamos a tornar, se é que já não é assim, e sem complacência, uma geração da vergonha.
Dentro das nossas chamadas associações cívicas, na resistência, nos movimentos políticos e outras inúmeras FLECs, a luta pela liderança e pelo poder está ao rubro, sem quaisquer outras projecções colectivas. Se a corrida pelo poder continuar a tornar-se um leitmotiv na resistência de Cabindesa como nos partidos políticos, Cabinda nunca será libertado!
Quando falo aqui da resistência não me refiro apenas aos combatentes armados, falo da resistência como um conjunto de todos os actores políticos cabindenses que pensam e resistem contra a governação militarista do MPLA em Cabinda.
Se dentro da resistência cabindesa, truques e batotas são iguais, como na República Autocrática de João Lourenço, quem poderá tranquilizar-nos amanhã, que alguns resistentes não correrão o risco de se comportar como João Lourenço? Traição, tribalismo, nepotismo, silêncio sobre assassinatos, roubos organizados, pilhagem de recursos, escravidão, governadora plenipotenciária da ocupação, miséria, etc….
E é por isso que devo aqui sublinhar que a Resistência Cabindesa, que não é uma rebelião mas sim a expressão do Direito à legítima defesa reconhecido ao Povo Cabindes, vassálico e abandonado à sua triste sorte, não tira a sua legitimidade em nenhuma das disposições da atípica e ultrapassada Constituição de Angola, constituição essa que realmente não o é porque o MPLA a viola constantemente.
A Resistência Cabindesa, note-se aqui, tira a sua legitimidade das disposições relevantes da Carta das Nações Unidas sobre o direito dos povos à autodeterminação, bem como das disposições previstas por outros instrumentos jurídicos de direito internacional.
Assumo, e que Deus abençoe Cabinda e o seu povo.