A política contemporânea tem sido marcada pela distância crescente entre o que os políticos pensam e o que dizem. Na busca incessante por votos, muitos adaptam-se ao que o eleitorado quer ouvir, sacrificando a autenticidade em nome da popularidade. Nesta lógica, a verdade, por vezes, torna-se um luxo que poucos podem oferecer.
Por Malundo Kudiqueba Paca
No meio deste cenário surge Donald Trump, frequentemente descrito como “o político mais honesto” do mundo. Não pela veracidade das suas declarações – que muitas vezes carecem de factos – mas pela frontalidade com que expressa as suas opiniões. Trump, para o bem ou para o mal, diz o que pensa sem rodeios, desafiando a norma política que privilegia discursos polidos e cuidadosamente calculados.
Este estilo, no entanto, não pode ser confundido com um compromisso com a verdade. A honestidade política deve ser analisada a partir de duas perspectivas: a autenticidade e a veracidade. Trump é, inegavelmente, autêntico; fala o que pensa sem filtros e sem temer as repercussões. Contudo, a veracidade das suas declarações tem sido amplamente questionada, algo que relativiza o seu título de “honesto”.
O que torna a honestidade de Trump apelativa para muitos é precisamente o contraste com a classe política tradicional. Quando os políticos optam por um discurso desenhado para agradar a todos, sacrificam a confiança do eleitorado. O cidadão comum sente-se traído por promessas não cumpridas e discursos vazios. Trump, com a sua postura, oferece uma alternativa: a percepção de que pelo menos não esconde o que pensa, mesmo que o conteúdo seja controverso.
Mas será isso suficiente para redefinir o conceito de honestidade na política? A franqueza não pode ser uma desculpa para a desinformação ou a falta de compromisso com a realidade. Uma democracia saudável exige líderes que sejam não só autênticos, mas também responsáveis e rigorosos no uso da verdade.
A honestidade na política é uma faca de dois gumes. Enquanto muitos anseiam por líderes que digam “as verdades incómodas”, a prática tem mostrado que a verdade absoluta raramente é o objectivo de qualquer político. Trump talvez represente o extremo oposto ao político tradicional, mas este exemplo deve levar-nos a reflectir sobre o que realmente esperamos dos nossos líderes. Honestidade, afinal, não é apenas dizer o que se pensa, mas assegurar que o que se diz está alinhado com os valores da integridade e da ética pública.
Hoje, a arte da política moderna transformou-se num exercício de persuasão, não de sinceridade. Este desvio de propósito é visível em discursos que priorizam o impacto imediato sobre o conteúdo substantivo. Palavras cuidadosamente escolhidas substituem acções, e promessas vagas tomam o lugar de projectos concretos. Como consequência, a frase “vou resolver os problemas do povo” tornou-se um cliché vazio de substância, repetido como um mantra, mas raramente traduzido em resultados tangíveis.
Pergunta-se: Quando foi a última vez que um político teve coragem de dizer algo que sabia ser impopular, mas necessário? Em tempos em que a conveniência dita as regras do jogo político, poucos ousam arriscar o conforto do apoio popular para defender medidas urgentes, ainda que dolorosas. A verdade perdeu espaço para a conveniência, e a coerência cedeu lugar ao populismo, criando um cenário onde líderes frequentemente priorizam o aplauso fácil sobre o bem-estar duradouro da sociedade. A confiança entre líderes e cidadãos só será restaurada quando a verdade for resgatada como valor inegociável.