TCHIZÉ DOS SANTOS A CAMINHO DA UNITA

Tchizé dos Santos acredita que herdou o trono do seu pai e que deve continuar a dar ordens ao presidente João Lourenço como se estivéssemos presos no passado. O poder não pode ser transferido ou transmitido por herança, linhagem ou em função do sobrenome.

Por Malundo Kudiqueba

Tchizé dos Santos poderá fazer um grande favor ao MPLA ingressando na UNITA. A UNITA pode estar disposta a aceitar o apoio de Tchizé, mas apenas por razões estratégicas. O dinheiro e os recursos que ela poderá trazer são atractivos inegáveis para qualquer partido político. No entanto, logo a seguir às próximas eleições de 2027, Tchizé dos Santos será dispensada e descartada pela UNITA, uma vez que sua utilidade será circunstancial e pontual. A UNITA não precisa da Tchizé dos Santos. O que a UNITA precisa é do dinheiro dela confidenciou um membro da UNITA. O MPLA não vai acabar com a saída da Tchizé do partido alegou um membro do MPLA.

Tchizé dos Santos já não se lembra de ter acusado Adalberto da Costa Júnior de ser corrupto e querer fazer aproveitamento político quando Eduardo dos Santos se encontrava doente em Espanha. A UNITA não gostou e ainda não esqueceu esta atitude contra o seu líder e justamente por isso não confia em Tchizé dos Santos. Ela ainda não entendeu que política é muitas vezes um jogo de conveniências, e lealdades podem ser efémeras.

Um ponto crucial nesta discussão é a falta de confiança que Tchizé dos Santos enfrenta de ambos os lados. O histórico e as suas acções passadas fazem com que tanto o MPLA quanto a UNITA vejam a sua lealdade com cepticismo. O apoio dela pode ser visto mais como uma moeda de troca do que uma parceria genuína. Esta percepção mina a sua credibilidade e limita a sua capacidade de influenciar significativamente qualquer um dos partidos. No entanto, ao colocar-se como um peão disponível para qualquer lado que a aceite, ela arrisca a ser vista como oportunista sem nenhuma credibilidade.

TCHIZÉ DOS SANTOS CONTRA JOÃO LOURENÇO

Mas quem foi que conferiu poderes especiais a Tchizé dos Santos para disparar ofensas e insultos contra o actual presidente? O direito à liberdade de expressão não deve ser confundido com o direito de desrespeitar e insultar. A crítica construtiva é válida e necessária, mas há limites éticos e de respeito que devem ser observados por todos, independentemente de quem esteja no poder. Respeitar a instituição presidencial é fundamental para o bom funcionamento do país, promovendo um debate político maduro e responsável. Tchizé dos Santos pensou que tinha de continuar a dar ordens ao presidente João Lourenço como fazia no tempo do seu pai.

Quando o poder é herdado ou transmitido com base em laços familiares, ele torna-se um privilégio de poucos, em vez de um serviço ao colectivo. Isso subverte a própria natureza da democracia, que se baseia na igualdade de oportunidades e na representação justa. A liderança deve ser conquistada por meio de confiança, competência e um compromisso claro com o bem-estar público, não por privilégios de nascimento.

A história mostra-nos que sistemas baseados na transmissão hereditária de poder frequentemente resultam em nepotismo, corrupção e estagnação. A falta de renovação e a perpetuação de dinastias políticas impedem o surgimento de novas ideias e soluções inovadoras para os problemas sociais. Além disso, a concentração de poder nas mãos de poucas famílias ou indivíduos cria um ambiente onde os interesses pessoais e familiares podem sobrepor-se ao interesse público. A ideia de que alguém possa continuar a exercer influência directa sobre o governo só porque é filha de um ex-presidente é um resquício de uma era que deveríamos superar.

A transição de poder não deve ser um espectáculo de egos inflados ou de privilégios pessoais, mas sim um processo de renovação e de respeito mútuo entre governantes, independentemente das suas origens ou histórico familiar. É tempo de reconhecer que a autoridade vem da responsabilidade e do compromisso com o bem-estar da nação, não de títulos ou sobrenomes.

A política deve ser um espaço de meritocracia e de serviço público, não um palco para disputas pessoais ou para tentativas de perpetuar influências familiares. Tchizé dos Santos é a última pessoa que deve criticar João Lourenço. Tchizé dos Santos está abrir um precedente sem paralelo até porque no tempo do pai dela nunca vi os filhos de Agostinho Neto ofenderem ou insultarem Eduardo dos Santos.

Em vez de oferecer críticas desinformadas e insultos, seria mais construtivo se Tchizé dos Santos reconhecesse o passado, e fizesse uma reflexão sobre os erros cometidos e se engajasse em um diálogo honesto sobre o futuro do país. A transformação de Angola depende de um entendimento genuíno e empático das experiências de seu povo, algo que qualquer líder ou crítico político deve ter como prioridade.

Antes das eleições de 2022, Tchizé dos Santos declarou que abandonaria o MPLA caso João Lourenço continuasse como líder do partido, mas não cumpriu essa promessa, e isso revela que ela não é uma pessoa credível. Em política, a coerência entre palavras e acções é fundamental para a construção de confiança e respeito, tanto entre colegas de partido quanto entre eleitores.

Por outro lado quando, Tchizé dos Santos afirma que não sabia do sofrimento do povo angolano durante o mandato de seu pai, Eduardo dos Santos, ela não apenas insulta a inteligência dos angolanos, mas também demonstra uma desconexão alarmante com a realidade do país. Tal declaração levanta a questão: Em que país afinal de contas vivia Tchizé dos Santos durante os 38 anos de poder absoluto de Eduardo dos Santos?

O sofrimento do povo angolano durante o regime de seu pai não era um segredo bem guardado. A falta de infra-estruturas básicas, a pobreza generalizada, a corrupção institucionalizada e a repressão política eram aspectos amplamente conhecidos e divulgados tanto dentro quanto fora de Angola. Para alguém que esteve tão próxima do poder central, alegar ignorância sobre essas questões é, no mínimo, desconcertante.

Eduardo dos Santos não foi nenhum santo como o querem apresentar. Os aliados de Tchizé na UNITA deveriam ter vergonha porque foi Eduardo dos Santos quem deu luz verde para que Salupeto Pena e Jeremias Chitunda fossem mortos em 1992. Eduardo dos Santos cometeu vários crimes entre os quais a sexta-feira sangrenta, monte Sumi e vários outros. Não venha Tchizé fazer pouco das vítimas e se não sabe pergunte ao Rafael Marques que poderá explicar-lhe com todos detalhes. Quanto à UNITA de hoje, eles não têm princípios, e aí dou-lhe razão quando diz que são corruptos. A corrupção em Angola é transversal e não escolhe partido político.

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