Os latifundiários começaram as “nefastas” acções de conquista de terra aos indígenas, às épocas do feudalismo, escravatura e colonialismo, com claro apoio de imunidade e impunidade, dos poderes políticos das metrópoles. Em Angola o fenómeno é novo, mas velho, porque vergonhosamente liderado por aqueles que se diziam revolucionários e libertadores, mas carimbam actos de fascismo imperial.
Por William Tonet
O tsunami da fome, continua a destruir os 20 milhões de “imóveis humanos”, pretos pobres. Há fome severa! Em 8 anos, como nunca, em 500 anos a fome vem descaracterizando e assassinando o orgulho de milhões que esperavam dias diferentes, com o fim do jugo colonial.
Infelizmente, nem mesmo com fazendeiros negros, que substituíram os colonos, no controlo do país e das terras, o quadro se altera, pois a comida, não é produzida para as populações, tal é o preço, que a mesma tem, numa clara demonstração de no conflito de interesses, apenas ter valor o enriquecimento ilícito dos dirigentes políticos.
A minoria negra, complexada e assimilada, que idolatra os valores culturais e linguísticos coloniais e ocidentais, que recebeu, sem escrutínio popular, o controlo do Estado, desde 1975, não tem noção sobre o real objecto do latifundiário.
Eles, em Angola, cingem-se, apenas, à abjecta ocupação de longas extensões de terras aráveis, como hobby, estilo, vaidade, monopólio e orgulho barroco de terem uma vida de lorde…
Diferente dos colonos ocidentais que se fixavam nas terras, para acompanhar o desabrochar de manhã à noite, das sementes, os “latifúndios partidocratas”, transformam as terras, roubadas e esbulhadas as populações pobres, em bordéis, onde colhem, aos fins-de-semana, frutas de vontade: “jardadas ao leito”, com “fertilizantes sexuais”, que enchem os armazéns, com “sacos de vénus”, lascivamente rotulados a “contrario sensus” de “1 Coríntios 10:13, da Bíblia”.
Nesta visão os latifúndios partidocratas angolanos, detentores de milhares de hectares de terras, são fazendeiros de fim-de-semana, distantes do cheiro diário dos campos, daí esta estranha unção não gerar alimentos, auto-suficientes, mas bagos de abandono e vaidade.
Como entender que com tanta terra arável e recursos hidrográficos (água) abundantes, por toda a geografia continental, até mesmo na província desértica do Namibe o tomate e outros hortícolas desabrochem, mas as suas gentes campeiem raquíticas?..
Como justificar, com toda esta mais – valia, que o país, depois do fim do colonialismo, em 1975, tenha regredido no domínio da produção alimentar e, hoje, na maioria dos lares autóctones se conjugue, unicamente, as palavras; fome e sede, causados por actos administrativos de gestão que beiram a criminalidade?
É preciso um verdadeiro “reset” (reinício) do território para se expurgar a contínua institucionalização da mediocridade governativa, causadora de acções danosas e dolosas, no tecido social.
As lideranças negras, exclusivas do único partido no poder, nunca estiveram, verdadeiramente, comprometidas com a implantação de uma República e cidadania, plurais, pelo contrário, tal como os colonos portugueses, continuam a explorar e escravizar a maioria preta, isenta de quaisquer benefícios sociais.
Para esta (maioria), os 50 anos de independência material, inaugurados, pelo MPLA, com o sangue das “Casas do Povo” da FNLA e “Pica Pau” da UNITA, em 1975, em Luanda, não só viu assassinado os Acordos de Alvor, que previam eleições, mas, também, todos os sonhos de independência imaterial, liberdades e democracia, capazes de conferir uma vida melhor aos vários povos e micro nações, no território denominado Angola.
A realidade insofismável mostra uma verdadeira incompetência governativa, que foi capaz de inverter a rota de um país, que em 1974, era auto-suficiente em cereais: milho, feijão, mandioca, amendoim, óleos, café, banana, girassol, carne bovina, leite, peixe, sal. Isso permitia os colonos prosperar, mas os colonizados, não morriam de fome e de doenças primárias.
Hoje, o quadro mostra um plano macabro, bem delineando de assassinato dos povos, com a falta de comprometimento, para o bem-estar colectivo dos cidadãos, quase “obrigados a viver sem comer”.
FAZENDA PRESIDENCIAL NÃO CONTRIBUI PARA REDUÇÃO DOS PREÇOS DA COMIDA
Assim, é esta situação que faz rememorar grande parte dos últimos anos do colonialismo, não que dele se faça apologia, mas tendo-o como bússola referencial, no tocante a mais comida à mesa dos pobres colonizados.
O regime denota com político-fazendeiros ou fazendeiros-políticos, de fim de semana, apenas compromisso com o capital externo, a quem, violando a Constituição, “chinesamente”, lhes vende a terra, negada aos autóctones, que auguram há 49 anos, por uma reforma agrária, que diminuiria a morte diária de milhares de cidadãos, que não consegue, sequer, uma refeição ao longo de uma semana…
Em 2020, três anos depois da ascensão, começa o declínio da paixão entre João Lourenço e a sociedade civil, principalmente, a juventude, não arregimentada, face aos péssimos resultados do seu programa económico, da forte submissão ao FMI e Banco Mundial e do selectivo combate a corrupção, que redunda(ra)m em desemprego galopante, com o encerramento de empresas, bancos, arrestos, confiscos e aumento dos preços dos produtos da cesta básica.
O Presidente tivesse sensibilidade e empatia para com os povos e, na condição de “político – fazendeiro” de final de semana, optaria por conclamar todos, rigorosamente, todos, os que do bureau político e comité central do MPLA beneficiaram ou delapidaram directa ou indirectamente, o erário público, para a criação de uma BOLSA CONTRA A FOME.
A opção inversa de entregar a soberania económica ao capital externo, fragilizando o empresariado angolano, carente de apoio da banca comercial, tem vindo a causar danos irreparáveis à economia pública, à saúde, à segurança de Angola e à própria ordem jurídica, além de violar flagrantemente a separação de poderes.
E, em função desse declínio o jovem activista, Banza Hanza, no 26 de Novembro de 2020, num encontro entre a juventude e o presidente, confrontou-o: “Vossa excelência conhece onde estão as lavras de onde sai a comida que todos os dias, se faz a vossa mesa? Pode parecer engraçada essa pergunta, mas saber a origem da comida que nos chega à mesa pode explicar um pouco melhor a questão da fome, que nós enfrentamos”.
E JLO um pouco baralhado respondeu: “quer saber se eu conheço as lavras de onde saem o pão, que vai para a mesa, quando digo o pão, quer dizer a mandioca, a batata doce, a fuba para a mesa dos angolanos. Conheço! E aí, eu acho que foi um bocado infeliz… Essa pergunta não é para me fazer a mim. E não é para fazer a mim, porque eu sou uma pessoa muito ligada ao campo (…) Eu dedico -me a agricultura. Eu produzo, se calhar muitos dos bens que aparecem à sua mesa, são produzidos por mim. Eu sou produtor de milho, feijão e outros bens (…) Portanto escolheu a pessoa errada para perguntar se eu conheço onde saem os alimentos”, terminou.
Uma saída ancorada em “Got’s for war but can’t feed the poor” (Vai para a guerra, mas não consegue alimentar os pobres), coloca o Presidente da República, por denúncia própria, num verdadeiro conflito de interesses, ao não accionar o poder de barganha, quanto aos preços dos produtos da cesta básica, sendo um dos maiores produtores e latifundiário.
Outrossim, como entender, ainda que tendo um ministro de Estado para a Economia, José de Lima Massano, que é, ao mesmo tempo, banqueiro (um dos donos do BAI), outro conflito de interesse, o Kwanza esteja tão desvalorizado e a moeda externa tão alta, beneficiando, exclusivamente, os especuladores, alguns bancos comerciais e os lavadores externos de dinheiro, que encontram em Angola um campo fértil, para as máfias prosperarem.
A opção neoliberal adoptada pela extrema-direita do regime é criminosa, porquanto temos terras aráveis, água e capacidade suficiente para produzir alimentos mais do que suficientes para erradicar a fome e a miséria, se primariamente, a agricultura familiar, tiver apoio governamental e bancário, para criação, no campo, de um GRÉMIO PARA ERRADICAÇÃO DA FOME, para que, em dois anos, todos tenham acesso a alimentos e possam, exportar, uma grande parte de produtos, principalmente, orgânicos, dada a qualidade das nossas terras, para a região, África e o mundo.
O MPLA e os seus “políticos-fazendeiros-latifundiários de fim-de-semana”, sempre foram avessos a uma reforma agrária, para beneficiar os camponeses pobres, caboucados nos matos férteis da Angola profunda, quando esta poderia favorecer a produção de alimentos básicos, dar lustro a interiorização dos serviços públicos básicos, reduzir a migração campo-cidade, promover a diversificação do comércio e dos serviços no meio rural e o bem-estar do trabalhador rural, hoje, expressamente excluído de atenção.
A fome, no país, não é uma fatalidade, mas fruto de uma má decisão política, péssima e colonial opção económica e incompetência da liderança económica do MPLA. Houvesse uma reforma agrária, para emponderar os camponeses e causar uma explosão produtiva, como no período colonial e Angola sairia, rapidamente, do mapa da fome crónica.
Presidente João Lourenço tenha empatia com a fome geral e falta de dinheiro das famílias, tomando a iniciativa de baixar os preços dos produtos da sua fazenda, que chegam à “mesa dos angolanos”, como, sem coacção física ou moral, disse aos 26 de Novembro de 2020.