Angola espera que vários projectos de petróleo e gás em grande escala entrem em operação nos próximos cinco anos, enquanto uma licitação limitada de 2025 inicia a exploração e o desenvolvimento em campos offshore, onshore e marginais.
Os projectos em vias de desenvolvimento incluem o projecto CLOV Fase 2 no Bloco 17, a refinaria de petróleo de Cabinda; o Agogo Integrated West Hub Development; os campos de Quiluma e Maboqueiro; e o Kaminho Deepwater Development no Bloco 20/11. Como tal, a demanda por serviços, equipamentos e soluções de engenharia de campos petrolíferos está pronta para impulsionar o desenvolvimento sustentável com base na produção de hidrocarbonetos e na monetização de recursos.
A Associação das Empresas de Serviços e Equipamentos de Angola (ASSEA) associou-se à conferência Angola Oil & Gas (AOG) para a edição de 2024 – a decorrer em Luanda em 2 e 3 de Outubro. A parceria visa apoiar a participação e contribuição das instituições angolanas na indústria de petróleo e gás do país e promoverá a colaboração entre os promotores de projectos globais e as empresas angolanas.
A AOG é o maior evento de petróleo e gás em Angola. Realizado com o total apoio do Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás; da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis; da Câmara Africana de Energia; e do Instituto Regulador de Derivados do Petróleo, o evento é uma plataforma para assinar acordos e promover a indústria de petróleo e gás de Angola.
Com planos de manter a produção de petróleo acima de um milhão de barris por dia até 2027, aumentando a participação do gás natural no mix de energia, Angola oferece uma riqueza de oportunidades para as empresas em toda a cadeia de valor.
Para apoiar as metas de produção, o governo está a promover a exploração em bacias de fronteira e está a implementar uma iniciativa de produção incremental para atrair o reinvestimento em campos produtores. Para os prestadores de serviços angolanos, estes esforços abrem novas oportunidades de negócio, uma vez que as políticas de conteúdo local do país priorizam a participação de entidades locais.
Angola está a impulsionar o conteúdo local através da sua iniciativa de angolanização, que concede aos prestadores de serviços locais preferência em relação aos contratos de petróleo e gás. Embora a iniciativa exija a inclusão de prestadores angolanos, a ASSEA facilita o envolvimento entre as empresas, melhorando o acesso ao mercado para as empresas em todo o sector. Como tal, a ASSEA serve como uma ponte que liga os promotores de projectos estrangeiros às empresas angolanas de serviços e equipamentos.
A ASSEA também trabalha para melhorar a capacitação e o desenvolvimento de habilidades em todo o sector. Em parceria com a Muhatu Energy Angola – uma rede para mulheres na indústria de petróleo e gás – a ASSEA lançou o programa Ubuntu em Novembro de 2023. Um programa de estágio profissional, o Ubuntu oferece aos alunos no último ano de cursos técnico-profissionais a oportunidade de se envolver e ganhar experiência em ambientes de trabalho. O programa visa proporcionar uma experiência de vida real aos alunos, ao mesmo tempo que os equipa com o conhecimento e as competências de que precisam para prosperar na indústria angolana de petróleo e gás.
Como parceira da AOG 2024, a ASSEA facilitará as discussões entre as partes interessadas do sector, promovendo a experiência e a tecnologia dos prestadores de serviços baseados em Angola. A AOG 2024 actua como a maior plataforma internacional de petróleo e gás do país, com delegações da China, EUA, Emirados Árabes Unidos, Portugal, Suíça e mais participando da conferência em Outubro. Combinada com uma forte participação local e um alcance internacional, a conferência cria novas oportunidades para parcerias, celebração de acordos e rede de intercâmbio (networking).
Afreximbank apoia construção de fábrica de fertilizantes
Entretanto, o Afreximbank vai financiar o projecto de construção de uma fábrica de fertilizantes em Angola com 1,4 mil milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros), prevendo-se o início da produção para 2027.
O termo de financiamento do projecto foi hoje assinado, em Luanda, entre o Afreximbank e a Amufert, empresa do grupo empresarial Opaia, proprietária do futuro empreendimento localizado no Soyo (província do Zaire) que visa promover a auto-suficiência de Angola em fertilizantes.
Na sua intervenção, o presidente do Afreximbank, Benedict Oramah, destacou o impacto macroeconómico e social deste projecto, que vai produzir amónia e fertilizantes para o país, que actualmente importa a quase totalidade destes insumos usados na agricultura.
Benedict Oramah sublinhou que o apoio a este tipo de projectos garante a segurança alimentar, mas é também uma questão de “soberania alimentar”, promovendo produção própria e diminuindo a dependência “de outros [países], que rapidamente proíbem a exportação de alimentos”.
“Hoje, Angola importa mais de 1,4 mil milhões de dólares [1,2 mil milhões de euros] de fertilizantes por ano”, disse o responsável, acrescentando que projectos como estes devem ser apoiados em todo o continente africano, onde existe matéria-prima.
Segundo o presidente da Afreximbank, esta instituição financeira tem prevista uma linha de financiamento de 2,2 mil milhões de dólares (dois mil milhões de euros) para ajudar Angola, frisando que são os maiores financiadores do projecto da refinaria de Cabinda, estando também em conversações com a Sonangol, petrolífera estatal angolana, para desenvolver a refinaria do Lobito.
Sobre o financiamento do consórcio da fábrica de fertilizantes, Amufert e Sonangol, o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, destacou a importância da criação de condições pela petrolífera estatal para o fornecimento de gás a este projecto.
Este projecto tem todas as condições criadas “que existem em poucas partes do mundo” para o seu arranque, disse o ministro, realçando que a Sonangol (via Sonagás), com uma participação de 10% no projecto, disponibilizou o gás necessário para este projecto.
“Para entusiasmar, dar confiança a este projecto, motivamos a Sonangol e o grupo Opaia a unirem-se na Amufert. Foi aprovado o contrato do fornecimento de gás a um preço próprio para este projecto. O Governo deu uma pequena garantia para que este projecto pudesse também ter estas condições”, disse.
O governante angolano salientou que foi entregue também hoje a concessão para a exploração de fosfato na província do Zaire, destacando ainda a assinatura de um memorando entre o grupo Opaia e a empresa privada K-Mineração, com uma concessão de potássio na província de Cabinda, para a produção de fertilizantes compostos.
Em declarações à imprensa, o presidente do Conselho de Administração da Amufert, Agostinho Kapaia, referiu que decorre a construção da fábrica, estando previsto o arranque da produção no início de 2027.
Agostinho Kapaia agradeceu o apoio do Afreximbank, porque “nem todos os bancos do ocidente arriscam pôr dinheiro em países emergentes”, e reconheceu as dificuldades em arranjar financiamento.
“Aliás, nós tivemos muitas dificuldades de encontrar financiamento, porque os bancos dos outros países defendem os seus empresários, os seus interesses, e [houve] bancos que nos obrigavam, no fundo, a ceder o maior capital às empresas dos seus países. Há bancos da Europa que só podiam financiar o projecto se o accionista fosse um europeu, se as empresas que vão implementar o projecto defendessem os interesses dos seus países”, indicou o empresário angolano, destacando que o mesmo sucedeu na Ásia.
De acordo com Agostinho Kapaia, o projecto está orçado em cerca de dois mil milhões dólares (1,8 mil milhões de euros), frisando que a fábrica tem uma capacidade de produção anual de 1,3 milhões de toneladas, por isso “Angola já não vai necessitar de importar fertilizantes”.
O empresário sublinhou que o Governo angolano entrou com uma garantia de 20% do financiamento total, para acautelar as quantidades de produção necessárias para atender o mercado interno, cerca de 300 mil toneladas.