O candidato presidencial Venâncio Mondlane afirmou hoje, na Beira, que os quase 50 anos de independência de Moçambique representaram, para o povo, “mais corrupção” e “roubo”, criticando a Frelimo, no poder desde 1975. Tal e qual como em Angola, tal e qual como o MPLA.
Venâncio Mondlane, que concorre nas eleições gerais de quarta-feira ao cargo de Presidente da República, falando aos apoiantes na Beira, província de Sofala, centro de Moçambique, foi bem claro: “A única coisa que esses 50 anos de independência [25 de Junho de 1975] nos trouxeram foi mais corrupção. Foram 50 anos de roubo, foram 50 anos de mentiras, foram 50 anos de enganos”.
“Nós não podemos mais aceitar que um certo punhado de pessoas continue a tratar Moçambique como se Moçambique fosse negócio da sua própria família, não é verdade isso”, questionou, ao dirigir-se à multidão em cima de um carro, de microfone na mão e com uma coroa na cabeça, de cor amarela, alusiva ao partido Podemos, extraparlamentar, que apoia a sua candidatura.
Qualquer semelhança com Angola e com o MPLA não é mera coincidência.
“Nós não podemos continuar a aceitar dizerem que nós temos uma dívida de 50 anos de independência, que todos os dias, no mata-bicho, no almoço, no jantar, nos fazem lembrar que nós temos uma divida porque eles [Frelimo] libertaram o país”, afirmou ainda, garantindo: “A mensagem é simples e é esta: Este país é nosso”.
O candidato, ex-deputado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição), do qual saiu em Maio após não ter conseguido concorrer à liderança, defendeu que é tempo de “devolver Moçambique para os moçambicanos”.
“Essa independência de que tanto falam, cada um de nós sente a independência na escola do filho? No medicamento da família? No saneamento da Beira? No alcatrão, na estrada? No emprego dos seus filhos? Na segurança da sua família?”, questionou ainda.
Sempre com as críticas direccionadas à Frelimo, Venâncio Mondlane prometeu uma lei para despartidarizar o Estado: “O partido dentro do Estado, dentro do Governo, acabou”.
Nesta acção de campanha, que termina domingo em todo o país, também garantiu que, se chegar ao poder, “todas” as empresas, nomeadamente as multinacionais que exploram recursos naturais em Moçambique, “vão pagar impostos”.
“A partir de 2025 a isenção de impostos acabou”, garantiu, assumindo que esses recursos “devem ficar nas províncias” para financiar o seu desenvolvimento.
“Tamos a vir, é melhor fugir”, avisou, cantando juntamente com os apoiantes, ao encerrar o comício improvisado na estradam perante centenas de pessoas.
Mais de 17 milhões de eleitores estão inscritos para votar na quarta-feira, incluindo 333.839 recenseados no estrangeiro, segundo dados da Comissão Nacional de Eleições.
Concorrem ainda à Presidência Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, Ossufo Momade, apoiado pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), e Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força parlamentar.
A este propósito, como o Folha 8 revelou ontem, recordemos a opinião do escritor moçambicano Mia Couto, um dos maiores da Lusofonia, em que sugere a criação de um Governo “que tenha os melhores” e que “haja uma lei só”, sendo poderosos ou não.
Mia Couto, em declarações à Lusa, em Maputo, à margem do lançamento do livro “A Cegueira do Rio”, afirmou: “Espero que ganhe Moçambique, no sentido de termos um Moçambique que tenha uma lei só, que não tenha uma lei dos poderosos e uma lei para os que não têm poder, isso é o que espero que aconteça”.
Para Mia Couto, Prémio Camões de 2013 e há vários anos fora da vida na Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde a independência), depois das eleições gerais de 9 de Outubro, Moçambique deve formar um Governo composto “pelos melhores”, independentemente da formação política a que pertencerem.
“Depois das eleições, porque não fazer um Governo que tenha os melhores, independentemente da cor política? Porque não escolher os preparados tecnicamente para exercer funções de governação? Acho que seria um bom exemplo para o mundo, para África, fazer um Governo que não fosse só de um partido”, declarou o escritor, referindo que espera mudanças do novo executivo a ser formado.
Mia Couto acrescentou que espera que o novo Presidente a ser eleito e o seu executivo sejam capazes de compreender que Moçambique atravessa um momento difícil à semelhança de 1975, altura da independência, referindo que os políticos devem unir-se pelo país.
“A ideia não é a substituição de um partido pelo outro, é preciso mudar aquilo que é a perspectiva do que é governação, do que é ser dirigente. Os assuntos, que são complexos que a gente tem, não se resolvem com discursos que simplificam a realidade e que são feitos na base da demagogia fácil”, explicou.
“É preciso, sobretudo, que essas forças políticas digam que vamos nos juntar naquilo que for possível para resolver este assunto de um país que tem uma guerra, que está no meio de uma crise internacional gravíssima, então, acho que isso teremos que aprender a fazer juntos, outra vez”, acrescentou.
O escritor receia que se repita a escalada de violência pós-eleitoral, à semelhança das autárquicas de 2023, destacando que esses acontecimentos “mancham o sentido de democracia”.
“Acho que quem reclama tem que o fazer de uma maneira cívica. Nas eleições anteriores ouvi muitas vozes a reclamar e a ameaçar que vão publicar atas que foram sujeitas a fraude e depois nunca havia essa publicação. É tanto barulho e depois eu gostava de ver, como cidadão preciso que haja provas de que houve uma falsidade dos resultados e, se não me apresentam, começo a ficar com dúvidas sobre a razão desses que protestam”, concluiu.
parlamentar, e Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos).