O ENSINO E A PRÁTICA DA ECONOMIA

Desde os tempos coloniais até à era pós-independência, Angola tem sido palco de diversas experiências económicas. Do mercantilismo colonial ao socialismo pós-independência, e agora uma economia que se quer de mercado em desenvolvimento, o país tem testemunhado em primeira-mão as limitações de se aplicar teorias económicas de forma dogmática.

Por Agostinho Mateus (*)

Nas universidades angolanas, ainda se ensina economia como se Adam Smith, David Ricardo ou John Maynard Keynes tivessem as respostas definitivas para os desafios económicos do país. Embora esses pensadores tenham oferecido contributos valiosos, suas teorias foram desenvolvidas em contextos radicalmente diferentes da realidade angolana actual. Angola, com a sua economia fortemente dependente do petróleo, a sua história de conflitos e desafios de desenvolvimento, não pode simplesmente importar modelos económicos do Ocidente ou do Oriente e esperar resultados milagrosos.

A “mão invisível” de Smith pode não funcionar num mercado dominado por monopólios estatais ou para estatais (empresas privadas propriedades de membros do governo ou a eles relacionadas). As políticas keynesianas de estímulo fiscal podem ser ineficazes numa economia com alta informalidade. É hora de os cursos de economia em Angola adoptarem uma abordagem mais crítica e contextualizada.

Em vez de meramente memorizar teorias, os estudantes devem ser incentivados a questionar: Como essas ideias se aplicam ao contexto angolano? Quais são as suas limitações? Como podemos adaptá-las ou criar novas abordagens que respondam às nossas necessidades específicas? Por exemplo, em especial nas Instituições de Ensino Superior públicas, ao estudar microeconomia, por que não focar mais na economia informal, que é uma realidade tão presente em Angola? Na macroeconomia, por que não dar mais ênfase aos desafios específicos de economias dependentes de recursos naturais?

A divisão tradicional entre micro e macroeconomia, embora útil para fins académicos, muitas vezes falha em capturar a complexidade da economia angolana. As decisões de pequenos comerciantes nos mercados informais de Luanda têm impactos significativos na macroeconomia do país. As políticas cambiais afectam directamente o custo de vida das famílias

Angola precisa de economistas que não sejam apenas versados nas teorias clássicas, mas que sejam capazes de pensar criticamente e inovar. Precisamos de modelos económicos que incorporem de facto factores como a diversificação económica, a inclusão financeira, a sustentabilidade ambiental e a redução das desigualdades sociais. Países como Botsuana e Ilhas Maurícias demonstraram que é possível criar modelos económicos adaptados às realidades africanas com sucesso. Eles não seguiram cegamente nem o modelo ocidental de livre mercado nem o modelo de economia planificada, mas criaram sistemas que respondem às suas necessidades específicas e tradições culturais.

É fundamental que as universidades angolanas comecem a produzir pesquisas económicas originais, baseadas na realidade local. Precisamos de mais estudos sobre a informalidade, sobre o impacto das remessas na economia, sobre modelos de desenvolvimento que não dependam exclusivamente do petróleo. A economia não é uma ciência exacta, mas uma ciência social em constante evolução. As teorias económicas não devem ser tratadas como dogmas nos cursos de economia em Angola, mas como pontos de partida para o desenvolvimento de novas ideias e abordagens.

Num mundo onde a única constante é a mudança, e num país com desafios tão únicos quanto Angola, a nossa abordagem ao ensino e à prática da economia deve ser igualmente dinâmica. Só assim poderemos formar economistas capazes de enfrentar os desafios do século XXI e criar um sistema económico que verdadeiramente sirva as necessidades diversas e em evolução da sociedade angolana.

Em suma, a história económica de Angola mostra que a aplicação dogmática de teorias económicas não tem sido eficaz. O ensino de economia no país precisa de evoluir para se tornar mais crítico e adaptativo, considerando a realidade única de Angola. A dependência excessiva do petróleo e a alta informalidade da economia requerem novas abordagens e soluções inovadoras. É imperativo que os cursos de economia incentivem a análise crítica e a contextualização das teorias, promovendo a criação de modelos económicos que atendam às necessidades específicas do país.

É hora de Angola não apenas consumir teorias económicas, mas de produzi-las. É hora de as nossas universidades não apenas ensinarem economia, mas de repensarem a economia. O futuro de Angola também depende disso.

(*) cinvestec.com

Nota: A “reconfiguração” ortográfica para português do texto original pode ter provocado ligeiras alterações.

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