LUANDA E O MURO DA SEGREGAÇÃO

Será que o Governo acredita que um muro de betão consegue esconder a miséria e maquilhar a realidade dos bairros periféricos de Luanda? Afinal, se os olhos não vêem, o coração não sente, não é? Ou será que estamos a construir uma versão moderna da segregação social, onde a dignidade só tem espaço do lado de cá do muro?

Por Mwata Yamvo

A recente substituição do muro gradeado ao longo da estrada de Catete, no sentido Viana – 1.º de Maio, por um muro alto de betão levanta questões profundas sobre as prioridades desse Governo. Ao invés de investir na melhoria das infra-estruturas e das condições de vida da população que reside nos bairros periféricos como BCA, Grafanil Bar, Jindungo, Seis, Estalagem, Caop, Kapalanga, Trinta e outros, opta-se por uma solução que parece apenas esconder essa realidade de quem transita de e para o novo aeroporto.

Essa medida remete-nos para uma espécie de segregação visual, onde a “fealdade” da miséria é literalmente colocada atrás de muros, longe dos olhos daqueles que chegam ao país ou que se deslocam à baixa de Luanda. É como se estivéssemos envergonhar-nos da nossa própria gente, ao invés de envidarmos esforços para transformar essas áreas, proporcionando dignidade às pessoas que ali vivem.

Este fenómeno faz-me lembrar a “teoria da barata” apresentada por um doutor amigo, durante um workshop sobre Educação, segundo a qual a classe menos favorecida da nossa sociedade, assim como um insecto, não é bem-vinda ao asfalto. A construção deste muro de betão reforça essa divisão entre os “do asfalto” e os “da lama”, uma divisão que deveria estar a ser combatida com políticas de inclusão e desenvolvimento sustentável. Em vez disso, o que se vê é a construção de barreiras físicas que separam, isolam e, em última análise, oprimem.

Num país onde tanto se fala de reconciliação e desenvolvimento, esta escolha simboliza uma falta de compromisso com as verdadeiras necessidades do povo. Será que o betão nos salvará da verdade que estamos a ocultar?

Precisamos repensar Angola. É urgente!

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