IPO DO PORTO DESENVOLVE VACINA

O Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto (Portugal) está a desenvolver uma vacina que pode vir a tratar vários tipos de cancro. A equipa espera que seja um complemento às terapias actuais e que possa prevenir o reaparecimento da doença. Lúcio Lara Santos, médico angolano, é coordenador de patologia e terapêutica experimental do IPO do Porto.

A presença de açúcares, os chamados glicanos, nas células tumorais foi o ponto de partida da investigação do IPO do Porto, que começou há mais de uma década.

“Avançamos para perceber quais eram as proteínas às quais estes açúcares estavam ligados, isto para tornar o mais especifico possível o nosso alvo (…) e percebemos que estes açúcares tinham um papel funcional, não estavam só lá, não eram só marcadores, eles eram promotores da doença”, explica José Alexandre Ferreira, investigador IPO Porto.

Depois, a equipa procurou formas de atacar estes alvos. Criou uma estrutura molecular capaz de estimular o sistema imunitário e identificar as células doentes.

“Verificámos que, quando nós apresentamos esta molécula aos nossos linfócitos, eles apreendem como não sendo do próprio organismo e criam mecanismos de luta contra as células que têm essas moléculas. Este aspecto, que é a resposta imunitária, parece ser muito interessante”, diz Lúcio Lara Santos, coordenador patologia e terapêutica experimental do IPO do Porto.

O estudo começou em tumores da bexiga, estômago e colorrectal, mas a equipa acredita que a aplicação poderá vir a ser mais abrangente. A vacina poderá complementar as terapias já existentes, mas também evitar que a doença reapareça, um dos maiores desafios atuais quando se trata um cancro.

Decorrem, há dois anos, testes em animais e vão continuar até que as conclusões sejam robustas a ponto de se avançar para um ensaio clínico.

“Nós vamos ter de estudar isto muito bem, ter prova que há uma eficácia, por um lado, e por outro há especificidade e efeitos adversos que possam criar ainda mais problemas ao doente”, explica Lúcio Lara Santos.

O protótipo da vacina já está patenteado. Dentro de 5 anos, havendo financiamento, poderá vir a ser testada em doentes oncológicos.

Recorde-se que o primeiro medicamento oncológico português mostrou resultados significativos no ensaio clínico de prova de conceito e foi assim dado um passo assinalável no tratamento dos cancros da cabeça e pescoço, revelou em 4 de Janeiro de 2017 o responsável pelo ensaio.

O médico angolano Lúcio Lara Santos (foto), do IPO do Porto, responsável pelo ensaio clínico do primeiro medicamento oncológico português, explicou na altuea que este passo assinalável no tratamento dos cancros da cabeça e pescoço abria a possibilidade de tratamento para outros tumores sólidos.

A primeira fase do ensaio decorreu no Porto, no IPO, e no Hospital da CUF, com um grupo de doentes voluntários e com o objectivo de avaliar a segurança (tolerância) e o efeito anti-tumoral (eficácia) da Redaporfin, um fármaco fotossensibilizador produzido em Portugal que tinha demonstrado já uma grande eficácia em ensaios não clínicos em modelos animais.

“Verificámos que o tratamento com este medicamento de tumores malignos da cabeça e pescoço (espinocelulares) revelou elevada segurança, uma vez que os efeitos colaterais e adversos foram raros, não foram severos e revelaram-se de fácil controlo”, sublinhou o oncologista cirúrgico Lúcio Lara Santos.

O primeiro medicamento oncológico português começou a ser desenvolvido em Coimbra, a partir de 2010, pela empresa Luzitin, que nasceu a partir da Bluepharma, farmacêutica que produz medicamentos para mais de 100 marcas, exportando 85% da sua produção para 40 territórios, entre os mais exigentes do mercado.

Os ensaios clínicos tiveram início em 2014 em doentes para os quais já “não existiam soluções terapêuticas”, explicou Sérgio Simões, presidente da Luzitin.

“O ensaio foi realizado num grupo restrito de doentes, nos quais se registaram resultados muitíssimo interessantes e que provam que o medicamento é seguro e não desencadeia efeitos secundários severos”, frisou.

O presidente da Luzitin salientou ainda, na altura, que no ensaio clínico foi possível mudar a vida de alguns doentes que estavam em cuidados paliativos, impossibilitados de comer e falar, devido às características do tumor, e que após a terapêutica já conseguiam comer e falar.

Antes de chegar ao mercado, o medicamento passa por uma nova fase de ensaios com um grupo de doentes maior e depois, segundo Sérgio Simões, é necessário encontrar parceiros para financiarem o investimento para a sua produção.

O responsável farmacêutico disse ainda que a Redaporfin pode ser usado como tratamento do cancro das vias biliares, tumor muito raro, mas extremamente severo e sem terapêutica. O medicamento vai também ser candidatado à Agência Europeia do Medicamento com o estatuto de “medicamento órfão”.

“Chama-se medicamento órfão porque vai dar resposta a uma necessidade que não está colmatada. É uma mais-valia e vamos investir nesta área e utilizar as ‘vias-verdes’ para as doenças raras para dar um salto importante e fazer o medicamento chegar o mais rapidamente ao mercado”, sublinhou.

Sérgio Simões previa que, em 2020, o medicamento pudesse chegar ao mercado como terapêutica para os tumores das vias biliares.

Lúcio Lara Santos, por outro lado, adiantou que o “efeito antitumoral observado foi muito rápido, destruiu a totalidade do tumor tratado e que este efeito parece ser sustentado ao longo do tempo”, salientando que “a sua associação a outros tipos de tratamentos sistémicos parece ser também promissor”.

“Adicionalmente, a aplicação deste tratamento em doentes com outro tipo de tumores com prognóstico muito desfavorável, como o colangiocarcinoma, poderá conduzir a ganhos muito significativos para os doentes em termos de qualidade de vida e de sobrevivência”, acrescentou.

Perante os resultados obtidos, Lúcio Lara Santos considerou na altura que havia razões científicas para que a comunidade envolvida no estudo e tratamento destes tumores venha a integrar esta opção terapêutica no protocolo de tratamento destes tumores.

Segundo o especialista, posteriormente, seria conduzido um novo ensaio clínico num número de doentes mais alargado, “o que permitirá definitivamente demonstrar o valor e os benefícios da terapia fotodinâmica com Redaporfin em oncologia”.

Lúcio Lara Santos nasceu no Huambo a 01/09/1959. Fez o curso de Medicina em Angola. Desde cedo dedicou-se à cirurgia geral e em especial à oncologia. Dedica-se à investigação em oncologia e é docente de oncologia cirúrgica.

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