O 27 de Maio está a chegar. Mais um aniversário. 47 anos! Muita reflexão dos sofredores. Das vítimas, espoliados nos seus direitos fundamentais. O Executivo do MPLA, deveria, em 2024, INDEMNIZAR as vítimas do 27 de Maio de 1977, com milhões de penitência, humildade e VERDADE, sobre o bárbaro genocídio cometido sob a liderança de Agostinho Neto.
Por William Tonet
O regime teimando não desconectar o cérebro dos intestinos, insiste na arrogância mentirosa de equiparar os acéfalos assassinos da polícia política de Agostinho Neto, que assassinou 80.000 (oitenta mil) inocentes com as vítimas, muitos dos quais sobreviventes, que hoje vegetam na indigência por terem sido despidos, até hoje, partidocratamente, de direitos de base, como a promoção militar e civil.
Nós, os sobreviventes, não somos, não seremos, nunca iguais aos “algozes nazistas” da DISA, que vampiricamente, torturaram, assassinaram como se não fossemos humanos. Eles eram, melhor, são, até hoje, MAUS, porque dissimulados. Não têm a humildade de reconhecer, mesmo com o passar dos anos (46), os erros de uma monstruosidade indescritível.
Em 1977, covardemente, esconderam-se na “transfusão de sangue” do médico, profundamente assassino, que disse: “não vamos perder tempo com julgamentos”, para justificar a barbárie, ao arrepio das leis, então vigentes.
A insensibilidade de Agostinho Neto compara-se a de outro médico e político Joseph Ignace Guillotin, francês, criador da guilhotina, uma máquina de execução com uma lâmina de 2 toneladas, usada para amedrontar e decepar a cabeça dos alegados inimigos da Revolução Francesa.
Em 2024, resguardam-se numa partidária e discriminatória CIVICOP, integrada, maioritariamente, por agentes do regime, sem sensibilidade, espírito de reconciliação, que insistem em equiparar os algozes às vítimas do 27 de Maio de 1977, mas sem juntar nenhuma prova. É a vil sacanagem!
Só os covardes, passados tantos anos, acusam sem a apresentação de provas do cometimento de algum ilícito por parte das vítimas e, mais grave, sem coragem de criação de uma Comissão da Verdade Conciliação e Reconciliação Nacional, onde todos, olhos nos olhos, possam esgrimir argumentos de razão. Nós, vítimas do 270577, temos plena convicção do não cometimento de crime algum contra o Executivo do MPLA.
Eles (Neto, Lara, Onambwe, Pepetela, Manuel Rui, Iko Carreira, etc.) forjaram um golpe de Estado, por medo, da capacidade intelectual de uma franja significativa da jovem “intelligentsia” autóctone integrada, por elementos vindos dos maquis, os das cadeias e os das cidades, conhecedores dos pergaminhos da administração pública colonial. Tinham mais literacia e, ambas, eram mais comprometidas com os ideais de esquerda, que poluíam, à época, o mundo bipolar.
E como é apanágio dos covardes/assassinos, a clique do poder, engendrou um diabólico plano para travar a retórica ideológica e o protagonismo, junto das massas populares de Nito Alves (comandante da 1.ª Região Político Militar do MPLA) e José Van-Dúnem (preso político do Campo de Concentração de São Nicolau). Primeiro, suspenderam – os, do comité central do MPLA e, depois, arrastaram, “sine die”, os trabalhos da Comissão de Inquérito, liderada por Eduardo dos Santos. Mas, esta tinha expressa orientação de não apresentar resultado algum. Assim ocorreu! Três meses de longa espera, originaram o parto das “13 Teses da Minha Defesa” (na verdade, inicialmente, eram 14, mas só 13, foram policopiadas), onde Nito Alves denunciou, a inércia da Comissão, que não os ouviu, a injustiça, a intriga e a corrupção que começava a despontar em larga escala, no seio da organização.
O texto carregado de retórica esquerdista de viés marxista-leninista, navegou na ingenuidade de Nito Alves, que idolatrava em demasia, Agostinho Neto julgando-o como se fosse um santo e imune a qualquer pecado. Ledo engano. Parecia encarnar o “demónio”!
Com esta visão, Nito deixou-se levar pelo falso comunismo, humanismo e tolerância de Agostinho Neto ao ponto de antes ter aceite, cometer alguns excessos, que levaram, ainda em 1975/76, à prisão, “camaradas” considerados “contra – revolucionários”, apenas por terem ideias diferentes e, em muitos casos, serem intelectualmente, mais aprumados que o líder do MPLA.
Foi tendo ciência desta situação, que Neto & Lara criaram bolsas intolerantes, colocando numa delas dirigentes populares como Nito, que cega e emotivamente, emprestou as suas impressões digitais, na perseguição e condenação de “camaradas” da OCA (Mário Paiva, jornalista, Timóteo Macedo, Domingos Lira, Chico Rasgado Badalada, jornalista, António Costa e Silva (ex ministro da Economia de Portugal, no governo de António Costa-2024), Simão Cacete (ex-candidato presidencial, nas primeiras eleições gerais, em Angola), Mimo Vieira Lopes, Rosa Costa e Silva (ex-ministra da Cultura e actual conselheira da República), entre outros; dos CAC – Comité Amílcar Cabral – (Matadi Daniel (médico, nefrologista), Nando Serigado, Miguel Nogueira, Paulo Solonhé, etc.; da Revolta Activa (Vicente Pinto de Andrade, Justino Pinto de Andrade, Marcelino Pinto de Andrade, Passos, Jota, Paiva, ex engenheiro da ENANA, GodFree Nangoia, Gentil Viana, Rafael).
Muitas destas vítimas veriam a ser libertas entre Fevereiro e Maio de 1977, mas, ironia do destino os mesmos agentes da DISA, que os haviam prendido, seriam, depois assassinados, sem julgamentos, a mando de Agostinho Neto, acusados de fraccionistas, tais como, Adi Narciso (irmão de Tani Narciso, ex-administrador do Cazenga), Sambila, Gino (irmão do Songamajo, tio do Pai Querido, actual PCA da SONANGOL), Zeca Lobo (irmão do Lito, que jogou no Benfica de Lisboa e Braga). Este é o “modus operandi”, a ingratidão e a falta de memória do MPLA, mesmo para quem, num dado momento, o serviu. Com a maior facilidade, transforma assassinos em heróis e, deixando, estes, de ter serventia os cataloga como monstros…
A natureza malévola da casta no poder, nunca mudou. Não muda(rá)! José Eduardo dos Santos é disso exemplo, está a mão de semear o seu calvário… Quando deixou de ter serventia (abandonado o poder), foi ostracizado, até ao panteão da morte, pelos próprios camaradas, a quem com fundos públicos, enriqueceu, milionária e “latifundiariamente”. Até de marimbondo o catalogaram…
Os filhos, que não o traíram, têm de viver no exílio, para não conhecerem as fedorentas masmorras do regime, que com o pai e o MPLA ajudaram a implantar, desde 1975.
NATUREZA IDEOLÓGICA PERVERSA
E é dentro da bizarria política que o MPLA, desde o nascimento, vem defenestrando muitos dos seus melhores quadros. De 1962, 1964, 1968, 1974, 1975, 1977, 2022. Mas muitos teimam em não acreditar e idolatram os seus presidentes, como se fossem ungidos de Deus (religiosamente, falando). Nito Alves pagou com a própria vida, ao manter, num ambiente de tensão, desguarnecida a sua defesa e segurança pessoal, por não acreditar na possibilidade de Agostinho Neto o puder sacrificar, sem prévia audição, na pior das hipóteses, sem um justo processo legal e o contraditório, como vincava a Lei Constitucional (10.11.1975) do próprio MPLA, emprestada a República Popular de Angola, que excluía, expressamente, a pena de morte.
Isso, tendo em linha de conta, também, o facto de ter sido a estratégia de Nito Alves a salvar Agostinho Neto, no Congresso de Lusaka (1974), de morte anunciada, sugerindo a sua retirada da sala e regresso a Brazaville (antes da votação).
O envio urgente, para Luanda (“quem tem a capital, tem o poder”) de uma delegação, para não assistir a uma copiosa humilhação e derrota, com os votos dos delegados da Revolta Activa, Revolta do Leste e mesmo alguns da facção presidencial, foi de Nito Alves.
Lúcio Lara, membro do bureau político, secretário administrativo e braço direito de Neto, chefia uma delegação de 26 membros, que desembarca em Luanda. Aos militantes, na capital e resto do país, mente sobre a nova realidade criada com o congresso de Lusaka e a liderança do MPLA, desenvolvendo uma feroz campanha de vilipêndio contra Daniel Júlio Chipenda que seria o primeiro presidente do MPLA democraticamente eleito, pese a desistência de alguns delegados da facção presidencial, houve o quórum suficiente para a realização das eleições. Como foram democráticas, nunca foram reconhecidas. É a aversão à democracia.
No 27 de Maio de 1977, Agostinho Neto e a sua clique forjou um golpe de Estado, para assassinar aqueles que queriam afastar Angola e os angolanos do colonialismo/neocolonialismo, que estamos hoje a viver. Nito Alves foi utilizado, mas à época, com todos os defeitos e erros era um dos melhores… Hoje, Maio de 2024, sem Nito, a saga continua. Afinal quem é o vampiro discriminador?