A HISTÓRIA REAL DE “ÊME KYA”

Na noite de uma sexta-feira, 13 no mês de Setembro, ao regressar do trabalho e fazer aquele “tour” habitual pelas redes sociais, deparei-me com uma postagem que me deixou embasbacado. Era sobre a Praia do Paimbo, no Namibe. Tamanha maravilha que parecia ter saído de um cartão-postal: o azul do mar contrastando com o dourado das areias e a grandiosidade da natureza. Algo digno de orgulho, pensei.

Por Mwata Yamvo

Acontece que instantes depois, me deparei com uma publicação do Kota Lukamba Gato que apresentava duas fotografias da pobreza nos arredores de Luanda, com gente da nossa terra preparando ratos e outros roedores para a fome que não é relativa. Como isso é possível num país que diz ser rico? Questionei-me.

E logo me veio à mente a atabalhoada história de um pai chamado “ÊME KYA”

“ÊME KYA”, pai abençoado com um terreno diante daquela praia exuberante e tantos outros recursos, tinha tudo para oferecer o melhor aos seus filhos. Diamantes, petróleo, terras férteis, florestas e uma fauna diversificada. Mas, estranhamente, por mais que tivesse as condições, ele não conseguia transformar nada disso em algo palpável para os que viviam sob seu tecto. Falta de vontade ou só incompetência mesmo? Era difícil dizer.

Os filhos desse pai, começando pelo mais-velho “KYANDA” sempre à espera de mudanças, olhavam pela janela e viam o potencial ao seu redor. A riqueza natural que parecia gritar por desenvolvimento, por turismo, por uma vida melhor. Sonhavam com uma casa arrumada, uma praia acessível, com estradas, saúde, educação. Mas o pai, bom, o Kota “ÊME KYA” preferia distrair-se com promessas. Prometia mundos e fundos, falava em projectos imensos, resorts, estradas, um metro de superfície, polos industriais e desenvolvimento para a sua Praia. Tudo sempre grandioso… no papel.

Às vezes, para provar que se importava, pintava uma parede, colocava um tijolo aqui ou ali. E claro, sempre tirava umas fotos e postava para os vizinhos verem:

– Olhem, olhem, estou a fazer algo pelos meus filhos!

Mas, no fundo, voltava à sua cadeira confortável, rodeado pelos elogios de visitas estrangeiras e outros primos bajus que vinham admirar as riquezas naturais que ele sequer sabia aproveitar.

Enquanto isso, os filhos continuavam na mesma: sem condições para estudar, sem transporte para a cidade, sem sequer uma estrada decente para ver de perto a tal praia que o pai tanto falava. A casa permanecia caindo aos pedaços, as promessas voavam pelo vento como poeira e a praia, aquela obra-prima da natureza, permanecia lá, intocada, à espera de que alguém olhasse para ela como algo mais do que uma simples oportunidade perdida.

Afinal, “ÊME KYA” tinha tudo. Mas fazer com que isso se traduzisse numa casa digna para os seus filhos? Ah, isso já era pedir demais.

Nota: Foto de Lukamba Gato publicado no seu Facebook

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