O Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano anunciou que está em curso a actualização da cartografia, até finais de 2023, para a definição e redefinição dos limites dos bairros do país, para o CENSO 2024.
O Recenseamento Geral da População e Habitação – CENSO 2024, diz o INE, compreende três fases, estando a primeira já em curso com a actualização cartográfica, contando com cartógrafos, informáticos e motoristas em todo o território nacional.
Segundo o INE, em comunicado hoje divulgado, nesta fase prevê-se dividir o país em cerca de 92 mil secções para efeitos de entrevistas aos agregados familiares.
A entidade responsável para produção e difusão de estatísticas oficiais em Angola refere também que para o ano de 2024, segunda etapa do recenseamento piloto, dar-se-á início à recolha de informações de modo digital, pela primeira vez, junto dos agregados familiares.
A terceira e última etapa do CENSO 2024 abrange a recolha completa, compilação, análise e publicação de dados demográficos e socioeconómicos e de todas as habitações e dos seus ocupantes no território angolano.
O Presidente angolano, general João Lourenço, criou recentemente, por despacho, uma comissão multissectorial para o CENSO 2024 coordenada pelo ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, Francisco Pereira Furtado.
O INE, órgão que conduz o segundo Recenseamento Geral da População e Habitação, após o primeiro realizado em 2014, estimou recentemente que Angola terá 35,1 milhões de habitantes em 2024.
Urge exonerar a poeira
O então director geral do Instituto Nacional de Estatística (INE), Camilo Ceita, assegurou no dia 28 de Março de 2019 que as cerca de 600 viaturas utilizadas no censo geral da população de 2014 “não estão abandonadas”, mas sim “ao serviço do Estado”.
“Essas viaturas não estão abandonadas, elas serviram para o Registo Eleitoral, Campanha de Vacinação contra a Febre-amarela, Registo Civil e Bilhete de Identidade, e apoiaram, e ainda apoiam, várias actividades da província da Huíla”, disse Camilo Ceita em Luanda.
Respondendo aos jornalistas sobre o estado das viaturas, face a relatos de “alegados abandono e deterioração”, Camilo Ceita explicou que a maior parte das viaturas está “estacionada num parque aberto”.
“É um espaço aberto. A nossa cidade produz muita poeira e seria ilógico que somente as viaturas do INE é que não tivessem poeira, elas não estão abandonadas, estão pelo país”, explicou.
Falando no final de um workshop sobre Indicadores das Tecnologias de Informação e Comunicação, promovido na altura pelo Instituto Angolano das Comunicações (INACOM), Camilo Ceita adiantou que todos os grandes projectos do executivo utilizam as viaturas do INE.
“Até agora, temos as viaturas tal como elas foram adquiridas. Esta falsa ideia de que as viaturas estão abandonadas não é verdade. As viaturas estão operacionais e a servir o Estado e a instituição”, concluiu.
Provavelmente essas viaturas estarão também ao serviço da primeira fase do primeiro censo agro-pecuário da sua história enquanto país independente, projecto orçado em 24,9 milhões de dólares (21,6 milhões de euros) financiados pelo Banco Mundial (BM), lançado no dia 18 de Fevereiro de 2019.
Ao contrário do veiculado oficialmente, não foi o primeiro censo agro-pecuário. Na verdade foi, pelo menos, um segundo lançamento. O primeiro foi em Novembro de 2018 e chamava-se Recenseamento Agro-Pecuário e Pescas (RAPP).
A cerimónia de lançamento da primeira fase do censo, virada essencialmente para a formação técnica, foi realizada na província de Benguela pelo então director do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola, Camilo Ceita.
Segundo o chefe de Departamento de Inquéritos e Censos do INE, Paulo Fonseca, o processo, que compreendia quatro etapas, começou este mês nas províncias de Benguela, Cunene, Cuanza Sul, Moxico e Uíje.
Paulo Fonseca adiantou que a primeira etapa iria estar virada para a formação de pessoal seleccionado para integrar as comissões provinciais e municipais. A segunda fase decorreu em Luanda e visou formar os futuros formadores, com a terceira a abranger a formação dos agentes no terreno e a última a recolha de dados.
Por sua vez, o director do INE reconheceu alguns desafios que se vão enfrentar durante o processo, solicitando maior colaboração dos administradores municipais, realçando sobretudo as dívidas às autoridades tradicionais ainda por pagar e referentes ao Censo Geral da População, realizado em 2014.
“Eu reconheço que temos uma dívida com as autoridades tradicionais (cerca de seis mil sobas), com os quais trabalhamos durante o Censo Geral da População (2014), mas dificuldades financeiras que se colocaram a partir de Junho de 2014 levaram a essa situação, que espero que seja resolvida tão logo haja recursos”, referiu Camilo Ceita, citado pela Angop.
O censo agro-pecuário centra-se na recolha estatística, processamento e divulgação sobre a estrutura da agricultura, pecuária e pescas em todo o país. Um outro censo agro-pecuário foi realizado em Angola em 1961, na era colonial portuguesa.
Mesmo que não seja para valer, convém ir dando a imagem de que Angola é mesmo um Estado a sério e sério. Recorde-se que o Recenseamento Agro-Pecuário e Pescas (RAPP) 2018-2019 (ou censo) nasceu (sem poeiras e com viaturas disponíveis) em 28 de Novembro de 2018, em Luanda, para ajudar o Governo a obter dados actualizados e a definir as novas políticas de actuação nestes dois sectores.
Camilo Ceita, que discursou no lançamento, considerou o RAPP uma operação “estatística exaustiva”, diferente do Censo Populacional, dada a especificidade no que concerne ao número de unidades agro-pecuárias e a sua disposição geográfica, tipo de propriedade, uso e aproveitamento da terra, posse e uso de meios de produção e tecnologia empregue.
“O RAPP é um dos recenseamentos mais complicados de se fazer, sobretudo para um país com uma extensão territorial como o nosso e questões como quantas cabeças de gado o país tem, a nossa capacidade de gestão de culturas e a dimensão de terras aráveis: estas e outras questões fazem parte do questionário que teremos de fazer nos próximos 12 meses”, declarou.
Camilo Ceita explicou que o RAPP vai, foi ou iria incidir também em outros aspectos como características sociodemográficas de cada região (identificadas no seio dos agregados familiares) das explorações, agrícolas, pecuárias, agro-pecuárias ou piscatórias, acesso aos insumos, recursos humanos, maquinaria, posse e uso de terra, irrigação, culturas anuais e permanentes, efectivo pecuário e acesso aos serviços veterinários.
O programa do RAPP, segundo o Jornal de Angola, previa consultas públicas em várias regiões do país.
O (DES)ABAFO DE CEITA NA DESPEDIDA
Vejamos. “Acabamos a nossa missão com a plena consciência do dever cumprido”, reagiu, em Outubro de 2020, o antigo director-geral do INE, Camilo Ceita, acrescentando que “só estávamos à espera de algum respeito e comunicação para sabermos as razões da nossa saída, que é legítima”.
Camilo Ceita soube da sua exoneração em cima da hora, e não gostou. Numa mensagem de despedida enviada aos seus colaboradores, afirmou estar convicto de terminar a missão com “plena consciência do dever cumprido”, mas estava à espera de “respeito e consideração”.
Em simultâneo, apresentou os feitos dos nove anos da sua gestão, nomeadamente, o Recenseamento Geral da População e Habitação de 2014, o primeiro no país; Recenseamento Agro-pecuário e Pescas, em curso, o primeiro na Angola independente; Recenseamento de Empresas e Estabelecimento; Grandes inquéritos aos agregados familiares. Todos os inquéritos correntes necessários para medição de todos os produtos estatísticos produzidos e publicados pelo INE com destaque para o Emprego; Construção; Conjuntura Económica as Empresas e as Famílias.
Camilo Ceita entrou para a instituição antes de terminar a formação superior, isto e m 1995. Cerca de seis anos depois, solicitou uma licença e concorreu para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) onde atingiu o posto mais alto para um nacional, ou seja, Assistente do Representante Residente para Programas com a responsabilidade das áreas de Pobreza, Ambiente, Desminagem e VIH/SIDA.
“Enfim, não me é possível elencar aqui tudo que se conseguiu fazer, em conjunto, nestes 10 anos de trabalho árduo e, muitas vezes em detrimento da família”, lamentou Camilo Ceita, acrescentando: “Não estou aqui, hoje, a obrigar que se lembrem dos feitos que se fez. Entretanto, a consciência profissional, ética e a moral, orienta-me a passar em revista algumas das mais importantes acções”.
Com o desaparecimento físico de Maria Ferreira, ex-directora-geral do INE, em 2011, foi convidado pela então Ministra do Planeamento, Ana Dias Lourenço, hoje primeira-dama da República, para dirigir o INE. Posição que deixou nove anos depois.
Na hora da despedida, Camilo Ceita deixou uma mensagem aos jovens que queiram abraçar a profissão de estatísticos: apaixonem-se pelos números: “Não bloqueiam desculpando-se de que o professor não explica bem. Mostrem interesse, desafiem os professores mostrando que estão apreender e que podem estar onde ele está”.
O contexto actual do país, referiu, caracteriza-se de maior necessidade de informação estatística para monitoria de programas do executivo, mais informação estatística para ajuda a decisão e, sobretudo, mais informação estatística para compreensão dos fenómenos que acompanham a crise económica e social.
Folha 8 com Agências